Neste verão europeu, não apenas as temperaturas subiram, os índices inflacionários da União Europeia também atingiram os mais altos recordes em três décadas. A inflação do bloco, que ficou em torno de 10%, é similar à de vários países europeus continentais. Na Grã-Bretanha, a inflação atingindo 10% em julho fez com que a população trabalhadora e assalariada se revoltasse e iniciasse uma série de movimentos grevistas em setores vitais da economia britânica, como o de transportes ferroviários, transportes públicos e o setor portuário. A questão logística da economia já fragilizada da Europa agora encontra alguma resistência forte e organizada dos trabalhadores, parte vital e primordial da dinâmica econômica. Sem eles, trens não rodam, metrôs não funcionam, containers não são devidamente embarcados e desembarcados, afinal, mesmo com todo o aparato tecnológico, robôs e máquinas programadas para executar os serviços, o operador é necessário na maioria dos casos.
De 21 a 28 de agosto, os trabalhadores do porto de Felixtowe, Inglaterra, fazem uma greve que paralisa o maior porto de cargas do país, movimentando cerca de 4 milhões de contêineres por ano. Os cerca de 1.900 trabalhadores, vinculados ao sindicato UNITE, exigem reposições salariais através da greve. Esta é uma das paralisações previstas, como a dos ferroviários, metroviários e trabalhadores dos correios. Os portuários de Felixtowe não aceitam a proposta considerada “miserável” oferecida pela empresa Felixtowe Dock and Railway Company, propriedade da CK Hutchinson Holding Limited, com sede em Hong Kong, a maior empresa no setor de transportes de contêineres do mundo e a maior investidora estrangeira no Reino Unido. Os empregadores oferecem 8% de reposição para a maioria e 10% para os menores salários. A empresa teve 61 milhões de libras de lucro apenas em 2020. Os trabalhadores não aceitaram a proposta, uma vez que a inflação mensal está acima de 10% e reposições salariais não ocorrem há anos.
A greve provoca um estrangulamento da rede de transportes e de comércio europeus, que conecta vários portos nos países baixos e na Alemanha, no Atlântico Norte. Dentre outros produtos que transitam por Felixtowe suprimentos de informática e roupas se destacam. O desabastecimento em muitos setores da economia surge como consequência da greve no porto, comprovando a força da categoria e de suas formas de luta.
Com a persistência da situação, a tendência é a de que mais movimentos, protestos e greves ocorram na Grã-Bretanha. Nos dias 26 a 31 de agosto, os trabalhadores em comunicação já anunciaram greve. As enfermeiras da Grã-Bretanha paralisarão suas atividades no próximo mês e os professores farão greve caso seus salários não tenham aumento de 12% em novembro. Uma convulsão social não está fora de questão, e quanto mais o inverno se aproxima, maior é a chance de que a revolta contra a política imperialista do bloco se materialize de forma massiva. A polarização política tem se acentuado e se tornará ainda mais forte nos próximos meses, sendo o alto custo da energia e dos alimentos causados, principalmente pelo conflito Otan – Rússia na Ucrânia, o estopim a ser acendido a qualquer momento.
Revoltas da população contra os embargos ao gás russo, contra as ações de financiamento e apoio ao conflito na Ucrânia e, mais urgentemente, contra o massacre econômico ao qual estão submetidos pelos interesses imperialistas, através da inflação galopante que empobrece trabalhadores e enriquece ainda mais os bilionários, só tendem a aumentar e se tornar mais frequentes, até, pelo menos, o dia 1º de outubro, quando as empresas de energia e gás do Reino Unido aumentarão seus preços, elevando-os ao máximo permitido por lei. Atualmente, o valor médio da conta de energia de uma família no Reino Unido é de 1.700 libras. Com o aumento, passa para aproximadamente 3.300 libras por mês.
Os ingleses já estão experimentando o prelúdio do que tem sido chamado, eufemisticamente, de “winter of discontent” – o inverno do descontentamento – . Além das greves, que são ótimo exemplo a ser seguido, a população inglesa está realizando uma campanha pelo não pagamento das contas de energia a partir de outubro, chamado “The Don’t Pay UK Group”, que espera recolher 1 milhão de apoios até outubro e já conta com 80 mil assinaturas. Entretanto, o não pagamento das contas pode levar a várias sanções, dentre elas, taxas ainda maiores para o consumidor inadimplente. As baixas temperaturas do inverno estão esquentando a cabeça da classe trabalhadora, que se movimenta na construção de uma situação pré-revolucionária, colocando em risco real o poder imperialista.





