O dia 19 de novembro de 1969 foi histórico no Brasil e no mundo. No estádio do Maracanã, o Rei Pelé marcou seu milésimo gol. Um gol de pênalti contra o Vasco da Gama, que tinha em sua defesa o goleiro Edgard Andrada, jogador argentino que havia chegado naquele mesmo ano no clube cruz-maltino.
Nesse dia, Andrada virou o “Goleiro do Rei”. Pelé bateu o pênalti com firmeza, o goleiro se jogou com força para o lado da bola, conseguiu até tocar nela, mas não o suficiente para impedir que a bola de número 1000 balançasse a rede no gol. A euforia se instalou dentro e fora do campo. Jogadores, equipe técnica e imprensa invadiram o campo em comemoração, mais de 65 mil pessoas foram à loucura nas arquibancadas, enquanto o goleiro argentino, inconsolável, socava o gramado indignado com sua participação coadjuvante naquele feito histórico.
Assim, Andrada entrou para história como o goleiro que levou o gol mil do rei do futebol. Marca que, de certa forma, ofusca sua importante atuação como um ídolo no time do Vasco entre 1969 e 1975, período em que o time conquistou o título estadual (1970) e o brasileiro (1974).
Mas não só o futebol marca a história desse jogador, ele também tem em seu currículo uma nebulosa passagem de envolvimento com a ditadura argentina. Em 2008, quando já há muito tempo estava aposentado dos gramados e atuando como treinador de base no time Rosário Central, na Argentina, ele foi acusado de trabalhar como informante para o serviço de inteligência da sangrenta ditadura militar argentina. Um regime militar ditatorial bárbaro que, segundo dados históricos dão conta, torturou e matou mais de 30 mil pessoas que se opunham ao regime.
Em março de 1976, as forças armadas argentinas deram um golpe de estado e assumiram o governo, destituindo Isabelita Perón, que foi colocada em prisão domiciliar. Nessa época Andrada voltou para Argentina, onde continuou trabalhando aparentemente somente como jogador e depois como treinador de futebol.
Foi apenas em 2008, em uma entrevista de rádio e depois em depoimento oficial, que Eduardo Costanzo, um militar da ditadura, fez a denúncia de que o goleiro Andrada seria um agente secreto do Destacamento de Inteligência de Rosário. Segundo ele, o goleiro teria também participado diretamente do sequestro e assassinado de dois militantes.
Na época, Andrada negou veementemente todas as acusações, mas a opinião pública argentina já o declarava culpado. O julgamento do goleiro só ocorreu em 2011, quando ele já tinha 73 anos. Ele na ocasião usou seu direito de permanecer em silêncio e não disse uma palavra sequer durante todo o interrogatório. Por conta do grande escândalo, o clube Rosário Central, onde ele ainda trabalhava, o afastou definitivamente de sua função.
Por fim, o juiz do caso determinou que não havia indícios consistentes que ligassem o goleiro aos crimes denunciados, por isso o processo não seguiu e Andrada foi absolvido. As famílias dos militantes assassinados, entretanto, nunca aceitaram o veredicto e seguiram acusando Andrada de culpado. Em 2019 o ¨Goleiro do Rei¨ faleceu na Argentina aos 80 anos de idade.
Essa é uma história que a imprensa burguesa não se importa muito em discutir ou investigar, pois se interessa mais em atacar a brilhante trajetória futebolística do Rei Pelé, cobrando-o por seus posicionamentos políticos não progressistas. Uma maneira de depreciar esse grande ídolo do povo brasileiro e impedir que os brasileiros usufruam plenamente do fato de ser o país que fez o maior jogador de futebol do mundo e país que criou o futebol arte, o jogo mais bonito do mundo. O povo brasileiro merece poder se orgulhar de seu futebol, sem que este seja roubado como mais uma fonte de enriquecer uma burguesia abutre.