A federação partidária entre Rede e PSOL deu mais um passo na última quarta-feira, com a aprovação da executiva nacional do PSOL. Cerca de 2 semanas e meia antes, a Rede já tinha aprovado essa composição, inaugurando o uso de uma cláusula que legaliza a infidelidade dos seus filiados à federação. O PSOL fez uso do mesmo artifício ao aprovar a federação com a Rede.
O mecanismo que serve na prática para burlar o próprio objetivo declarado das federações partidárias foi criado para que os filiados de cada partido não sejam obrigados a apoiar os candidatos apoiados pela federação. É importante destacar que essa aberração surgiu especificamente para permitir que os candidatos dos dois partidos não apoiem a candidatura de Lula à presidência.
Do lado da Rede, suas duas principais figuras são direitistas que já estiveram até dentro do PT, mas há muitos anos atuam impulsionando o antipetismo, inclusive durante o golpe de Estado em 2016. Sobre a possibilidade de um apoio à Lula, Heloísa Helena disparou “não há força humana que me obrigue a apoiar Lula”, indicando a intenção de apoiar o abutre Ciro Gomes e afirmando que considera Lula culpado mesmo após a anulação das condenações da operação Lava Jato. No ano passado, Marina Silva chegou a afirmar sobre uma eventual disputa polarizada entre Lula e Bolsonaro que “só ter duas possibilidades não é escolha”.
Esse tipo de partido não difere dos vários partidos da direita nacional, onde vale tudo para conquistar um cargo público. Afinal, que tipo de partido político autodeclarado de esquerda ou pelo menos progressista não consegue ter consenso em torno da candidatura Lula na atual conjuntura? A mesma turma que no ano passado queria aliança com PSDB, DEM e até MBL para “combater o fascismo”, agora cria mecanismos para esvaziar um apoio real à única liderança da esquerda que tem capacidade eleitoral de derrotar Bolsonaro.
As federações partidárias servem principalmente para fugir da antidemocrática clausula de barreira, um estímulo para intensificar a dissolução dos partidos e a descaracterização ideológica. Ou seja, um movimento à direita do regime político, que no entanto tem sido apoiado e seguido pela maioria dos partidos da esquerda. Verdade seja dita, quem empurra esses partidos para as federações são os carreiristas profissionais, aqueles que topam qualquer coisa para ascender na política institucional.
A federação com clausula de liberação da infidelidade expõe o vazio ideológico e programático tanto da direita (Rede) quanto da “nova esquerda” (Psol). E mostra que o tal apoio do Psol à candidatura Lula não passa de uma mera formalidade, como já ocorreu durante o golpe de Estado e a prisão de Lula, onde o apoio dos psolistas não se materializou em nenhuma ação real nessas lutas.