Em uma coluna recente no portal de notícias O Globo, Merval Pereira, conhecido porta-voz da família Marinho — donos da Rede Globo —, atacou Lula na questão da política externa, dando aval, entretanto, para políticas identitárias como a questão ambiental.
Por ocasião da Conferência do Clima (COP 27), muitos países imperialistas têm realizado seus discursos da maneira mais demagógica possível, se comprometendo com uma determinada redução de carbono na atmosfera ou com uma diminuição de desmatamento e um determinado nível de reflorestamento em seus países.
Neste evento, Lula fez um discurso combativo e se comprometeu, além de todas as políticas climáticas já esperadas, a cobrar os países ricos, cobrando uma ONU mais democrática e afirmando que precisamos tratar os países de igual para igual, realizando alianças não só com países desenvolvidos, mas também com Rússia, China, Venezuela, entre outros. Não só isso, mas também propôs, assim como outros chefes de Estado da América do Sul, que a Amazônia, território que possui alta cobiça do imperialismo, deveria ser controlada pelos países a qual ela pertence, criando uma aliança entre esses exclusivamente para a preservação do bioma.
Isso, entretanto, é algo visto por Merval, ou seja, pela Globo, como algo negativo e que não deveria ser feito. Ou seja, muito bem o Brasil ter de volta seu protagonismo na questão ambiental no mundo inteiro, ter de volta sua imagem de grande protetor das matas, uma imagem positiva — agora, nada de querer se intrometer nos assuntos imperialistas, ou seja, nada de alianças com países inimigos da burguesia internacional e que são combatidos pelos países imperialistas de maneira geral.
“Mas é um péssimo sinal a volta da megalomania lulista de querer ser um negociador internacional — na imaginação de alguns petistas mais afoitos, até na guerra da Ucrânia. Não deu certo na negociação nuclear com o Irã e provavelmente não daria certo no atual momento.”, afirma a coluna de Merval.
É evidente que essa é uma patifaria por parte da burguesia brasileira. A família Marinho, assim como outros integrantes da classe burguesa no Brasil querem que Lula continue submisso ao imperialismo e não se “aventure” ao negociar com esses países citados, afirmando que isso seria uma “megalomania lulista”.
Lula deve negociar sim com todos os países que bem entender. O imperialismo faz de tudo para jogá-los na vala devido a suas políticas minimamente nacionalistas para com sua economia, ou seja, não beneficiam o imperialismo como esse gostaria. A Venezuela, por exemplo, um grande extrator de petróleo, é sufocado pelas sanções imperialistas mas, curiosamente, com a guerra contra a Rússia e a crise pela falta de petróleo e gás causada pelas sanções, o país tem sido amplamente assediado pelo imperialismo por conta do petróleo em seu território.
O fato é que o imperialismo quer que o Brasil seja submisso a ele, ou seja, só negocie e realize acordos com esses países, e não com nações minimamente independentes como as já citadas anteriormente. Ou seja, quer isolar essas nações ao máximo para, assim como tem feito há anos com outros países, afundá-las, uma vez que não consegue fazer atrocidades como uma invasão e ocupação, assim como feito no Afeganistão, Iraque, Síria e outros.
Outro ponto levantado por Merval em sua coluna foi uma declaração muito sutil ao final do texto, mas que também representa a opinião da família Marinho sobre o assunto:
“Para tanto, seria bom que não aproveitasse a lua de mel dos eleitos que ainda não assumiram as rédeas do governo para exagerar nos gastos públicos. Uma excepcionalidade que pode ser permanente, como a licença para gastar acima do teto, torna o remédio um veneno.”
A afirmação veio de forma sutil, mas direta: algo que a burguesia não quer de jeito nenhum é a “irresponsabilidade fiscal de Lula”, ou seja, pegar o dinheiro que está indo para o bolso dos capitalistas e entregá-lo ao povo, melhorando empresas estatais e a infraestrutura brasileira, prestando auxílio à população. O famoso teto de gastos não deveria ser rompido, assim como Lula propõe, pois isso afetaria o bolso dos capitalistas.
Felizmente, assim como quando relacionado à alianças externas, Lula não parece ligar muito para isso. Em uma de suas primeiras declarações sobre o rompimento do teto de gastos, o ex e futuro presidente afirmou que nunca viu um “mercado tão sensível” quanto o brasileiro, que tinha altas alterações por declarações tão simples. Também afirmou que, se a bolsa vai cair e o dólar vai subir, devemos ter paciência, pois a tal da responsabilidade fiscal precisa estar atrelada também à responsabilidade social, de acordo com suas palavras.
Lula está certo. É preciso atender primeiramente as reivindicações do povo, não importando de fato o que pensam os banqueiros, capitalistas ou o “mercado”. Quanto mais Lula toma essas atitudes, mais figuras como Merval Pereira, representando a família Marinho, irão atacar esses pontos incansavelmente — mas nem por isso Lula deve se curvar ao imperialismo e abandonar as alianças com os países atacados por estes, como sempre defendeu.