O recente ocorrido com o youtuber Monark causou uma verdadeira comoção nas redes sociais, com direito a um esculacho no “horário nobre” da televisão aberta. Discutindo a respeito de liberdades democráticas, Monark defendeu que a liberdade individual deveria tão ampla que nem nazistas deveriam ser impedidos de manifestar suas opiniões e até de se organizar em torno de um partido político.
Monopólios e esquerda pequeno-burguesa sempre de mãos dadas
O caso gerou uma rápida investida de empresas que patrocinavam o Flow Podcast onde a fala ocorreu. Uma após a outra, pipocaram notícias de patrocinadores que rompiam contrato com o podcast. Foi o caso, por exemplo, da marca de chocolates Bis, pertencente ao grupo monopolista Mondelez, envolvido em denúncias de trabalho escravo infantil na Costa do Marfim.
Segundo as mesmas notícias, por trás do ultimato aos patrocinadores estavam “coletivos de judeus”. Os mesmos grupos de lobistas que tentam taxar de antissemitismo qualquer um que ouse denunciar os crimes contra a humanidade cometidos pelo estado genocida de Israel. A Globo, principal veículo do monopólio das comunicações no Brasil, dedicou espaço no seu principal programa jornalístico na televisão para linchar o youtuber.
Ter de um mesmo lado da polêmica tantas empresas monopolistas não seria ao menos motivo para alguma desconfiança por parte de quem é “contra o sistema”? Quem seria mais representativo do sistema capitalista do que essas grandes empresas, tanto as que patrocinavam o podcast quanto as que impulsionaram a campanha de ataques que se seguiu?
Como é de praxe, a esquerda “bem pensante” embarcou de pronto nessa locomotiva histérica dirigida pela burguesia. Até os “youtubers marxistas” fizeram seus malabarismos para explicar porque a liberdade de expressão não pode ser um direito para todos. Ou até pode, desde que todos se comportem bem aos olhos da classe dominante, que é quem tem o poder real de veto nesses casos. Gente que fez barulho em 2021 para entregar as manifestações populares para Dória, MBL e toda a escória anti povo da direita, de repente resolveu que a luta contra o fascismo significava pedir o boicote a um podcast.
Vale lembrar que foi assim nas várias “campanhas contra a corrupção” realizadas ao longo da história do país, inclusive a que culminou no golpe de Estado contra Dilma, contra a qual nunca ninguém conseguiu atribuir crime algum. A partir de palavras de ordem abstratas, a burguesia coloca setores da classe média ao serviço dos seus interesses. No caso atual, o da ofensiva mundial contra o direito básico da liberdade de expressão.
Mais um dia, menos um direito
Não se trata de um “raio em céu azul”, algo inesperado. Os embates em torno dos direitos democráticos da população, em especial o direito à livre expressão de ideias, têm ganhado repercussão em diversos países e com frequência cada vez maior. Os que detém o poder de censurar em nível mundial, como o monopólio das redes sociais, que inclui Facebook e Twitter, estão completamente alinhados com a política geral do imperialismo, não se trata de algo casual.
Um caso que explicitou a disposição desse monopólio para intervir a favor do setor principal do imperialismo ocorreu nas últimas eleições presidenciais nos Estados Unidos, onde o candidato que apresentava divergências com esse setor foi censurado durante o processo eleitoral. Por se tratar de um direitista, o bilionário Donald Trump, os “bem pensantes” interpretaram como uma vitória da “democracia”. Agora, depois de um breve período de relativa calmaria no cenário bélico internacional, o governo “democrata” de Joe Biden trabalha para abrir diversas frentes de batalha em prol dos interesses econômicos do capital monopolista.
O desespero em torno da pandemia de covid também foi explorado pela burguesia para suprimir direitos fundamentais da população. A palavra de ordem “meu corpo, minhas regras”, tão proclamada pelas feministas pequeno-burguesas, de repente foi engolida diante dos interesses econômicos das produtoras de vacinas. Em pouco tempo, uma das últimas vacinas a ficar pronta, que utiliza um método que nunca havia sido aplicado em massa, ocupava cerca de 70% desse mercado bilionário. Em nome da “ciência”, estava proibido duvidar. Um contrassenso simplesmente incrível, digno dos tempos atuais.
Avança a repressão
Enquanto os “antifascistas” da internet fazem a festa com seus memes, a burguesia ganha mais embasamento para sua ofensiva contra os direitos democráticos. Ofensiva que não é nenhuma novidade e já começou no final da Revolução Francesa, quando a burguesia deixou de ser revolucionária e começou a adquirir a feição reacionária que tem hoje.
É importante ter em conta que até a burguesia depende de condições favoráveis para impor determinados retrocessos ao restante da humanidade. E por outro lado, determinadas condições econômicas e sociais a impelem a impor esses retrocessos. O capítulo mais recentemente aberto da crise histórica do capitalismo não foi suficientemente contornado e a aplicação violenta do pacote neoliberal desponta como a única possibilidade aceitável para o imperialismo.
Como fazer para impor à população a completa destruição dos serviços públicos, o arrocho salarial e a destruição de conquistas trabalhistas? Justamente restringindo cada vez mais esses direitos democráticos, limitando o que deveriam ser garantias fundamentais a qualquer ser humano dentro da civilização.
No Brasil, essa ofensiva teve expressão política clara no golpe de 2016 e todo seu desenvolvimento posterior. Parece que a esquerda se esqueceu que há quatro anos, o candidato mais popular do país foi preso nas vésperas da eleição. Depois teve sua candidatura ilegalmente impedida. E ainda, durante a campanha eleitoral, as polícias atuaram para recolher materiais de campanha que fizessem alusão a Lula, inclusive invadindo comitês eleitorais do PT.
Com tudo isso, a esquerda ainda bate palmas para os monopólios que hoje silenciam uma pessoa identificada com a direita. Como farão para se defender amanhã quando se tornarem o alvo dessa poderosa máquina de censura?