Nessa semana, o Estado de S. Paulo publicou um editorial em que atacou a Rússia, defendeu o governo neonazista da Ucrânia, e se pôs como defensor da OTAN e dos Estados Unidos. O mesmo jornal que ataca Lula e Dilma, defendeu o golpe de Estado no Brasil em 2016 e todas as medidas neoliberais dos governos ilegítimos de Temer e Bolsonaro decidiu advogar em favor dos Estados Unidos com um show de demagogia.
O editorial, logo no início, chama Putin de autocrata – como se tal jornal fosse democrático – e vai além: chama a Rússia de imperialista. A mesma burguesia que chama de teoria da conspiração toda denúncia contra o imperialismo, a mesma imprensa que fez propaganda contra a denúncia de que Moro era agente do imperialismo – até que suas ligações com o Departamento de Estado norte-americano fossem reveladas –, que defende as ambições do imperialismo em todo lugar – e ai de quem chamar o imperialismo pelo nome! – agora decidiu denunciá-lo.
Todavia, trata-se de uma denúncia não contra o imperialismo, mas contra um país atrasado. O imperialismo é a dominação mundial (o controle das indústrias, da comunicação, dos bancos, etc. em todas as regiões do planeta) – portanto, os países imperialistas são os Estados Unidos, a França, a Alemanha, o Japão etc. A Rússia é, muito pelo contrário, um país atrasado, apenas uma potência regional: o país não tem grandes bancos que controlam o mercado financeiro mundial, muito menos uma imprensa que chegue ao nível de formar monopólio na América Latina ou indústrias automobilísticas que dominem a produção no setor de um país do outro lado do mundo.
O máximo que a Rússia tem é uma influência no Leste Europeu, portanto ela não é de modo algum imperialista, antes, é vítima deste. E o subterfúgio de, falsamente, acusar a Rússia de ser imperialista para apoiar a OTAN ou, então, para ficar “neutro”, curiosamente, tem sido adotado por setores da esquerda que se informam pela imprensa burguesa. Trata-se, na realidade, de uma posição alinhada aos Estados Unidos, alinhada à burguesia imperialista e aos maiores inimigos da humanidade. É uma desculpa muito esfarrapada para defender o imperialismo.
Voltando a falar sobre o jornal em si, o Estado de S. Paulo recebe dinheiro público, portanto é bancado pelo próprio Estado brasileiro. E utiliza essa vantagem para defender que o Brasil adote uma política de submissão total ao poderio norte-americano. O Estado de S. Paulo é um jornal que conspira contra o povo e precisa ser denunciado: esta campanha de defesa política dos países da OTAN traz consigo um forte ataque à libertação nacional não só dos países do Leste Europeu, mas também do Brasil.
O jornal adota, de maneira completa, o programa imperialista ao servir como propaganda de guerra da OTAN no Brasil: ao longo do editorial, eles tentam apresentar como se Putin fosse culpado pelo conflito.
Ao fazer isso, propositalmente, escondem a informação de que a Ucrânia passou por um golpe de Estado, financiado e controlado pelos Estados Unidos, em 2014, que derrubou o governo eleito pró-Rússia e que pôs um governo neonazista no lugar. O Batalhão de Azov, milícia neonazista ligada ao Ministério do Interior ucraniano, foi posto no poder, justamente, pelos Estados Unidos – que atuam do outro lado do mundo.
A vontade de defender os Estados Unidos é tão grande para o jornal, que até mesmo omite que Joe Biden queria colocar a Ucrânia na OTAN – com o único objetivo de ameaçar a Rússia – e que o presidente golpista da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, foi eleito com a promessa de colocar o país na União Europeia e na OTAN.
Tudo isso para ameaçar a Rússia. O jornal deliberadamente esconde o fato de que os cidadãos de Donbass, região que possuía fortes movimentos de independência, comemoraram a ação das tropas russas. Os capachos dos Estados Unidos não fazem isso por desinformação: trata-se, maliciosamente, de uma tentativa de manipular a opinião pública a ficar ao lado da OTAN contra a autodeterminação dos povos do Leste Europeu, contra a libertação nacional dos países atrasados.
O Estado de S. Paulo se coloca como ponta de lança da propaganda de guerra norte-americana no Brasil, junto com os outros jornais burgueses. Contudo, não é só na guerra que o jornal é capacho da política imperialista: na política nacional também o é.
Ele é um dos jornais que mais atacaram e que seguem atacando o ex-presidente Lula. Desde a farsa do Tríplex, com a suja e direitista campanha “anticorrupção”, até hoje em dia, em que o jornal se dedica a atacar o programa econômico da candidatura de Lula. Para o jornal, Lula é tão ruim quanto Bolsonaro, com o detalhe de que, se for necessário, o jornal fascista apoiará Bolsonaro para derrotar Lula e o PT.
Tal jornal ataca constantemente, da maneira mais sórdida possível, o ex-presidente. Recentemente, foi publicada um editorial (ou seja, uma matéria destinada a expor a opinião do veículo – ao passo que a opinião do jornal se encontra nas demais matérias, mas apenas mascarada) cujo título era “O mito do grande articulador” , fazendo referência a Lula. A matéria o ataca por não querer realizar “reformas” – que é como o jornal chama a destruição de direitos da população.
Em outro editorial, o jornal capacho expôs sua opinião sobre o presidencialismo. Com o título de “Muito poder, pouca responsabilidade”, o jornal ataca Dilma, com a clássica acusação dos direitistas de que ela seria “incompetente” e termina por atacar todo o presidencialismo, que, supostamente, representa um excesso de poder nas mãos do presidente eleito. Curiosamente, essa opinião aparece apenas agora, quando Lula tem chances de ser eleito presidente.
Por fim, é preciso destacar que se trata de um jornal golpista, alinhado aos Estados Unidos em todas as questões possíveis; que defende a submissão do Brasil ao imperialismo, ataca a candidatura de Lula e, portanto, também ataca a Rússia para defender a OTAN. Trata-se de um jornal da burguesia e que, por isso, deve ser energicamente combatido pela esquerda.