A esquerda punitivista volta a se pronunciar. Desta vez, estamos diante do artigo “É hora de punir os golpistas” publicado no sítio Esquerda Online, assinada por Henry Canary e publicada neste 22 de dezembro. Embora, historicamente, a esquerda tenha feito oposição à ideia de que a cadeia possa resolver questões sociais, o pedido de punição, essa posição reacionária, tem crescido no interior do movimento operário, principalmente pela voz da esquerda pequeno-burguesa.
O artigo inicia com a publicação de diversos índices de uma pesquisa realizada pelo Datafolha sobre com a opinião pública sobre os atos bolsonaristas, como o fechamento de estradas e se deveria haver algum tipo de punição. O Esquerda Online chama os atos de ‘atos golpistas’. O que nos faz pensar do que se trata esse tipo de ato. Um golpe de Estado, via de regra, depende da ação, nas ruas ou nos bastidores (dando respaldo), das Forças Armadas. Sem forças armadas não há golpe.
Até o momento, são eleitores de Bolsonaro que fecharam estradas, e outros que acamparam na frente de quartéis pedindo uma intervenção militar. Desde quando é crime pedir um regime militar. Essas pessoas estão fazendo uma reivindicação e têm o direito de fazê-la, por mais que discordemos. Se for crime falar, todo comunista é criminoso em potencial, uma vez que pregamos o fim do capitalismo e a instauração de uma ditadura do proletariado.
Pesquisas e senso comum
O movimento dos trabalhadores não deveria se guiar pelas pesquisas, pois são feitas por empresas capitalistas que têm seus interesses próprios. Embora se procurar dar um ar científico para as pesquisas, é preciso duvidar sempre. O Datafolha, por exemplo, é do Grupo Folha, e quem já leu notícias na Folha de São Paulo, no UOL, sabe o quão tendencioso é essa gente.
Não sabemos como as questões foram apresentadas aos entrevistados, porém, não é difícil imaginar que boa parte da população seja contra as manifestações, uma vez que existe uma campanha massiva na própria imprensa contra as manifestações.
Não precisamos passar por todos os resultados, mas um, particularmente, nos chama a atenção: 40% são contrários a qualquer tipo de punição pois entendem que se trata de um direito democrático. De onde se conclui que, mesmo com toda a campanha contra, praticamente metade dos entrevistados é contra a punição e a favor dos direitos democráticos, o que mostra que boa parte da esquerda está conseguindo ler o recado das ruas.
Naturalmente, o Esquerda Online tira as mesmas conclusões que o Datafolha e diz que “de um modo geral, ainda que levando em consideração os distintos recortes políticos, regionais, religiosos e econômicos, há uma sólida maioria social contrária os atos promovidos por golpistas e, em geral, ainda que em menor grau, também uma maioria favorável à punição dos responsáveis” (grifo nosso).
A preocupação do EO, listando todos os resultados, é tentar demonstrar que está com a maioria. No entanto, a maioria não é, necessariamente, progressista. O papel da esquerda, da vanguarda revolucionária, é direcionar as massas trabalhadores rumo à conquista de seus interesses de classe. Por exemplo, existem muitos eleitores de Bolsonaro que são trabalhadores. À esquerda, cumpre o papel de desfazer a confusão na qual vivem esses companheiros e trazê-los de volta para o nosso lado.
Não devemos simplesmente aceitar que a maioria seja pelo punitivismo, temos que demonstrar, explicar, que a punição vai cair com mais força sobre os trabalhadores. A própria realidade está demonstrando isso. Basta que comparemos o tratamento que a polícia deu aos manifestantes bolsonaristas, com o que fazem costumeiramente com passeatas de professores, estudantes etc., atiram bombas, balas de borracha, gás lacrimogênio.
O caráter do Estado
O Esquerda Online se está apenas reproduzindo uma ideia que tem circulado na imprensa independente de que “o Brasil está diante da possibilidade de produzir, talvez pela primeira vez na história, justiça de verdade para aqueles que foram responsáveis pelo sofrimento do povo. Bolsonaro e os golpistas sabem de seus crimes e declaram abertamente seu temor de serem punidos (…) e tentam todo tipo de acordo de bastidores para evitar qualquer tipo de perseguição jurídica”.
Antes de mais nada, é preciso se opor a perseguições políticas, mesmo que sejam contra nossos adversários. Depois, não podemos nos esquecer que o Estado é burguês e não vai punir de fato a direita. Roberto Jeferson, por exemplo, recebeu a polícia federal à bala em sua casa e foi muito bem tratado pelos policiais no momento da prisão.
O que o EO não consegue entender, é que a anistia dada aos torturadores da Ditadura Militar não tem nada a ver com a falta de punição, é uma correlação de forças entre a esquerda e a direita.
O artigo demonstra uma certa fé no Estado burguês, por isso diz que “é preciso desbolsonarizar o Estado brasileiro, investigar os organizadores e financiadores, prender e perseguir os atores, desmontar as redes de apoio e distribuição de mentiras e teorias da conspiração, expulsar os bolsonaristas de todas as estruturas de Estado. É preciso uma verdadeira luta pela verdade e justiça. É preciso impor uma derrota definitiva ao bolsonarismo, não apenas um recuo momentâneo”.
É uma ilusão acreditar que vencer as eleições presidenciais signifique que a esquerda tem o Estado em suas mãos. O judiciário, por exemplo, é dominado por partidos como o PSDB, e estiveram trabalhando ativamente no golpe de 2016, foram eles que pariram Bolsonaro. A única maneira de ‘desbolsonarizar’ o Estado é com o fortalecimento da esquerda. Pedir punição vai apenas fortalecer essa máquina de dominação burguesa que te apenas atentado contra a classe trabalhadora.
Enquanto pensa que está lutando contra a direita, a esquerda punitivista apenas fortalece os maiores inimigos da classe trabalhadora, que punirão com muito mai rigor os trabalhadores.