Em junho passado, a Eletrobrás foi privatizada por R$ 96,6 bilhões, com a aprovação do TCU (Tribunal de Contas da União), deixando o governo com cerca de 40% do capital social, perdendo assim o controle da empresa como já ocorre com a Embraer, e o valor de cada ação foi fixado em R$ 42,00.
A “negociata” foi efetuada sob coordenação do Banco BTG Pactual, que tem Paulo Guedes como um dos fundadores, segundo a revista Exame que também é do grupo BTG.
Em 2021 a empresa teve o valor de mercado fixado em R$ 74,5 bilhões segundo dados da Economática. Ela é proprietária de 89% das linhas de transmissão de energia do País, tem receita líquida de R$ 38,5 bilhões e o lucro no ano foi de R$ 5,7 bilhões. Os ativos da empresa somam mais de R$ 189 bilhões, conforme dados do jornal Info Money.
Em 2023 chega ao fim a dívida contraída para sua construção. Essa dívida consome 75% da receita operacional, e mesmo assim gera receita líquida de R$ 38,5 bilhões. Quando acabar a dívida haverá sobra de R$ 11 bilhões anuais que poderiam ser investidos para aumentar o fornecimento de energia no país, ou pelo menos retirar do sistema as usinas termelétricas com custo muito maior de produção.
Os novos investimentos geram mais emprego e melhorias na infraestrutura. Não era mais conveniente esperar mudanças no cenário de crise intensa para decidir pela privatização? Com as sobras pode haver mais investimentos também em turismo e logística para a região onde se encontra Itaipu, aproveitando o potencial em benefício do Brasil, Paraguai e todo o Mercosul, conforme matéria do jornal Brasil 247.
Podemos contar com esses investimentos por parte dos novos proprietários? Ao que parece os lucros se converterão em bonificações para os acionistas e a renda nacional viajará para o exterior muito provavelmente.
Ao invés de privatizar, entregando a soberania, desenvolvimento e compromisso social nas mãos do imperialismo monopolista, o governo deveria ter consultado a sociedade, sindicatos, universidades, movimentos sociais e meios políticos num amplo debate e assim decidir o futuro do país, da soberania e do desenvolvimento esperado pelos brasileiros.
Mas a opção foi a de entregar mais esse patrimônio nacional ao capital estrangeiro, sendo a primeira privatização desse governo que se encerra neste ano, mostrando sua total subserviência ao imperialismo e aumentando o processo de desindustrialização iniciado da era FHC e hoje perdemos cerca de 30% do parque industrial e segue aprofundando a crise interna.
Em 60 anos criou-se uma estrutura gigantesca de fornecimento de energia e que foi entregue de graça para os inimigos do país, os capitalistas estrangeiros, uma barbaridade. Na carta testamento de Getúlio em 1954 ele escreveu que a Eletrobrás foi obstaculizada até o desespero. Tanto Roberto Marinho como Carlos Lacerda lutaram ferozmente contra a criação dela.
O Brasil é um país rico mas a população vive na miséria, não cresce e não anda para frente por ação direta ou indireta de Washington e dos monopólios que sabem os riscos que correm se deixarem o país se desenvolver. Seria o fim deles de fato.
A privatização da Eletrobras faz com que Bolsonaro entre para a história do país como o maior traidor da pátria, disso ninguém tem dúvidas. Com o aprofundamento da crise dos monopólios imperialistas, com as derrotas no Afeganistão e contra a Rússia, estão tentando ferozmente se apropriar das riquezas do Brasil.
O preço irrisório de venda poderá facilmente ser pago em até uma década. As 36 hidroelétricas, 10 termelétricas, 20 parques eólicos, uma geração solar, 300 subestações, 74 mil km de cabos de transmissão espalhados pelo país, e a estrutura urbana (prédios administrativos, escritórios, locais de cobrança, etc por baixo seria algo em torno de R$ 1 trilhão.
Com receitas de mais de R$ 38 bilhões, lucros de R$ 5,7 bilhões, sobras a partir de 2023 de R$ 11 bilhões e sem mais dívidas, isso é pagável com enorme folga. Com os aumentos acumulados das tarifas em 21%, dados do IBGE, e 52% nas bandeiras das contas de energia, a folga se amplia muito, mas os riscos de apagão geral no país continuam vigentes. Isso é mesmo uma doação, e fica claro que o objetivo do governo é adoçar a boca dos monopólios para tentar continuar na cadeira presidencial. Pura ação eleitoreira que tem um custo político muito grande para o Bolsonaro e principalmente para o país.
A Eletrobras é a maior empresa de geração de energia da América Latina, fora as receitas e lucros gigantescos, tinha em 2016 mais de 26 mil empregados, chegando a 2020 com 12.500, na clara intenção de preparar o terreno para privatizar.
O golpe de estado naquele ano vem, desde então, ceifando muitos empregos nas demais estatais e assim aprofundando a crise e a entrega das riquezas do país aos monopólios imperialistas.
E é espantoso que em meio a tantas privatizações, fatiadas como no caso da Petrobrás, Banco do Brasil e CEF, ou por inteiro com é o caso da Eletrobras, somado a isso os inúmeros ataques aos direitos individuais, como a liberdade de expressão por exemplo, benefícios sociais e previdenciários e contra as organizações populares e dos trabalhadores, a esquerda tem se calado de maneira fúnebre.
Ao invés de mobilizarem o povo e os trabalhadores contra esses ataques, ficam no mais profundo silêncio, como que aceitando passivamente toda essa política de transferência dos ganhos dos trabalhadores para a iniciativa privada e não expressam nada, como que aceitando tudo e se dirigindo calmamente ao abatedouro, pois é isso que quer a direita e a extrema-direita, o fim de qualquer tipo de reação pelo povo para imperar o monopólio sobre o trabalho. Está na hora de acordar movimentos de esquerda, antes que seja demasiado tarde e a história não perdoará essa paralisia.