Policial anti-fascista

É possível convencer um policial?

O problema da polícia só pode ser resolvido com uma mudança radical nas próprias corporações policiais

Em entrevista ao jornalista Breno Altman, o policial civil Leonel Radde, eleito deputado estadual pelo PT no Rio Grande do Sul defendeu o que ele acredita que deveria ser a política da esquerda para a polícia. Ele afirma que para impedir que haja uma “ruptura democrática”  a esquerda não teria outra alternativa senão criar “pontes” com as corporações policiais.

Reclamando não haver uma “interlocução” entre a esquerda e a polícia, Radde diz que as hostilidades entre os dois lados empurra os policiais para a extrema-direita: “A esquerda diz que policial é fascista, truculento, bate em trabalhador, só sobe no morro para matar. Não está totalmente errado, mas nem podemos reclamar que não existe diálogo, porque falta interlocução de ambas as partes”.

A preocupação do policial-deputado é louvável: convencer os policiais, que ele chama de trabalhadores, a não serem de extrema-direita. O problema é que há aí uma confusão comum na esquerda pequeno-burguesa sobre o papel da polícia no regime político e na sociedade.

Como o próprio Radde reconhece, não está “totalmente errada” a ideia de que os policiais são fascistas. Se é assim, o diálogo não é o melhor método de convencimento.

O fascismo da maioria da polícia não é uma característica individual, mas um resultado da estrutura das corporações. Se entender isso antes de qualquer coisa, a esquerda nunca conseguirá resolver esse problema específico.

É preciso ter claro, em primeiro lugar, que a polícia brasileira é criminosa. É uma organização organizada pela burguesia para reprimir a população, colocar a maioria do povo no lugar dele. Nada de sair da conduta social esperada de um trabalhador explorado. A característica dos policiais é dada pela característica da própria corporação. Um policial de esquerda é apenas uma exceção no meio de milhares de policiais.

Isso significa que para mudar o indivíduo, seria preciso primeiro mudar a organização. Um partido revolucionário como o PCO defende a extinção das polícias, só essa política será capaz de resolver o problema. Mas mesmo uma proposta mais moderada, que seja no mínimo democrática, obrigaria mudanças profundas na estrutura da polícia.

Vejamos uma reivindicação levada adiante por parte da esquerda moderada, a desmilitarização. Mesmo essa proposta seria vista com muito maus olhos pela maioria dos policiais.

A proposta de “diálogo” feita por Leonel Radde é um idealismo, uma proposta que não leva em conta os problemas reais. Uma conversa da esquerda com policiais, sem que seja colocado claramente um programa para uma mudança radical na polícia, não vai resolver o problema. Quando Radde afirma que precisa haver “pontes” com os policiais, ele está propondo deixar as coisas como estão.

O fascismo das polícias é uma característica da própria organização. Ser fascista é parte do próprio papel pelo qual a polícia existe. Resolver esse problema envolve necessariamente chocar-se com muitos interesses dentro dessas corporações.

Como dissemos, mesmo sob uma perspectiva meramente democrática e moderada, para que a polícia deixe de ser essa máquina de guerra contra o povo seria preciso investigar todos os crimes cometidos, abrir um inquérito rigoroso sobre todos os casos de abusos, torturas e assassinatos, punir os envolvidos e acabar com as características de militarização. Isso é o mínimo que uma proposta democrática teria que fazer para resolver o grave problema da polícia no Brasil.

Em suma, é preciso quebrar a espinha dorsal da polícia.

Não fazer nada disso e apenas ficar no “diálogo”, como se os problemas não estivessem intimamente ligados à própria organização da corporação, é uma política criminosa, pois preserva as coisas como estão. Isso sim é entregar nas mãos da direita – ou melhor dizendo – deixar nas mãos da direita o poder ditatorial da repressão estatal.

No Chile, a população acreditou que Gabriel Boric iria modificar toda a estrutura da polícia. No entanto, ele não mexeu em nada e deu à polícia os mesmos poderes de sempre. Uma polícia que havia acabado de participar da repressão brutal das manifestações que tomaram conta do Chile nos anos anteriores ao de sua eleição.

A única política que pode resolver o problema da chamada segurança pública é a extinção de todas as polícias. É preciso acabar com todos esses órgãos de repressão estatal, criados e controlados pela burguesia contra os trabalhadores. O único diálogo possível com a polícia é esse, é exigir o fim dessa máquina de guerra contra o povo. É preciso que as organizações de segurança sejam eleitas pelo próprio povo, com representantes nos bairros, moradores das próprias comunidades. A polícia precisa deixar de ser o braço armado da burguesia e ser um representante real da sociedade.

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