A reta final das eleições de 2022 tem expressado de maneira cristalina a lei implacável da luta de classes. Torna-se cada vez mais evidente que as classes sociais fundamentais da sociedade se agrupam em torno das candidaturas de Lula e Bolsonaro.
Os capitalistas, os patrões, os ricos e poderosos escancararam sua posição e trabalham ativamente no momento para Bolsonaro. A explosão de casos de “assédio eleitoral” é o índice mais acintoso desse fenômeno. Segundo os dados mais recentes apresentados pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), as denúncias de coação dos patrões contra os empregados no local de trabalho já teriam passado de 1100, número que é 326% maior do que o registrado nas eleições de 2018 e que, como bem se sabe, é apenas a ponta do iceberg. É razoável supor que tal prática patronal seja a norma em um sem número de empresas e domine os ambientes de trabalho.
Os monopólios da imprensa capitalista, que controlam os institutos de pesquisa, dão mostras a cada dia de que não manterão a linha adotada até então na cobertura das eleições. Se no primeiro turno a artilharia da imprensa golpista estava voltada prioritariamente contra Bolsonaro ― para favorecer o candidato da terceira via ― agora as coisas já não são bem assim. Pintado como um demônio no primeiro turno, Bolsonaro já é estampado como uma figura aceitável, ponderada e até civilizada. Em contrapartida, os ataques a Lula começam a aumentar.
Algo parecido aconteceu com as chamadas “instituições”, em particular com o Poder Judiciário. O Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que foram alçados (artificialmente) no período recente à condição de baluartes da luta contra o “fascismo”, contra as “fake news” etc., mostram-se hoje como instituições tímidas e pacatas. Onde foi parar a fúria persecutória de Alexandre de Moraes, que mandou bloquear todas as redes sociais do PCO e prendeu algumas figuras do segundo escalão da extrema direita antes das eleições? Parece que o leão virou gatinho.
Mais um ingrediente do caldo da burguesia é a decisão do STF, proferida na última quarta (19), que autorizou prefeitos e empresas a oferecer transporte público gratuito no dia das eleições ― se quiserem. Não é preciso ser um gênio da política para entender que a decisão da corte máxima do país é uma medida para favorecer Bolsonaro. Ficando a gratuidade do transporte a critério das prefeituras e empresas de ônibus, temos um prato cheio para a manipulação eleitoral, para o favorecimento de uma parte do eleitorado em detrimento de outra. Sendo o candidato do povo pobre e explorado, à campanha de Lula interessa que o transporte seja público e gratuito a todos e em todos os lugares, algo, aliás, absolutamente democrático. A manobra do transporte gratuito facultativo, entretanto, é uma arma nas mãos da campanha de Bolsonaro.
Se se quer vencer a luta, o movimento de uma classe social fundamental como a burguesia só pode ser respondido à altura pelo movimento da sua classe antagônica, a classe operária e as massas exploradas do povo. Em alguma medida, a campanha de Lula corrigiu os problemas fundamentais que se manifestaram no primeiro turno. A campanha de conteúdo político vago e abstrato foi em parte substituída pelo tom mais concreto das propostas que dizem respeito diretamente às condições materiais da vida do povo. Os atos com grades, cercas, revistas e controles de entrada/saída deram lugar a atos em que Lula e as massas formam um bloco só. O vermelho passou a dominar as atividades da campanha, apesar de orientações em contrário. Alckmin, felizmente, saiu do palco principal e foi colocado na sala dos coadjuvantes. Os atos foram corretamente para as cidades e bairros populares. A campanha se volta para o povo e começa a colocar as massas em movimento.
Em resumo: de um lado, estamos diante da mobilização dos patrões para impor o voto em Bolsonaro; de outro, temos a mobilização dos trabalhadores em torno de Lula. O confronto entre Lula e Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2022 é forma pela se expressa a luta entre burguesia e classe trabalhadora no momento atual. Por trás de Bolsonaro encontramos os patrões. Por trás de Lula encontramos os trabalhadores. A disputa eleitoral, nesse sentido, não é senão o terreno no qual poderosas forças sociais combatem em defesa de seus interesses históricos e imediatos.
Para que Lula vença o arrastão bolsonarista que se desenrola, é preciso dar expressão consciente a essa luta. É preciso tomar consciência do que está em jogo e desenvolver a luta dos trabalhadores contra os patrões. Lula deve se apoiar integralmente nos trabalhadores e suas organizações de luta (CUT e MST, sobretudo), deve chamar a militância de esquerda à ruas, ir onde o povo está (nos bairros, fábricas, ocupações, escolas e universidade), e contrapor ao arrastão bolsonarista uma enorme onda vermelha, classista, operária e popular.





