Há de se reconhecer a genialidade propagandística da empresária Luiza Trajano. O cinismo dela se dizer “socialista desde os 10 anos” não é gratuito, mas tem a função de blindar a sua imagem frente à sua defesa das “deformas” trabalhista e previdenciária e às péssimas condições de trabalho a que seus funcionários são notoriamente submetidos. Ela sabe que os setores hegemônicos da esquerda não a questionarão, pois a veem como aliada – não é de hoje e ainda menos a partir de agora -, e que a direita, bolsonarista ou não, não a inquietará, pois compartilha do mesmo instinto escravocrata.
Dessa forma, o debate político brasileiro assume uma coloração cada vez mais farsesca, em que anarcocapitalistas são considerados nazistas, progressistas diversitários são chamados de comunistas e liberais ressentidos com a Lei Áurea são considerados socialistas. As ideias fora do lugar indicam uma gigantesca desorientação, desenhada para imobilizar a sociedade e impedi-la de reagir contra o assalto às insuficientes garantias de que usufruía.
A alienação da política em relação à objetividade da realidade cobra seu preço em eventos lamentáveis como os deslizamentos de terra em Petrópolis (RJ), que vitimaram milhares de pessoas. Não se trata de uma implacável consequência das mudanças climáticas, pois não é a primeira vez que algo do tipo ocorre, mas da permanência de problemas urbanos crônicos que, década após década, permanecem por resolver, sem que o poder público e a sociedade se conscientizem da necessidade de solucioná-los.
A política que zela pelos interesses nefastos do capitalismo infecundo, representado pela autodeclarada socialista Luiza Trajano, é a mesma que condena reiteradamente as pessoas simples à humilhação e à indigência. A política que garante a propriedade exorbitante de muito poucos relega grande parcela da população à supressão da pouca propriedade que conseguem com muito trabalho.
Pior ainda, os donos do poder, que controlam as informações, arquitetam todo um sistema de ignorância planejada para aprofundar os reais problemas do país e impedir a formulação de uma saída coletiva. A banalização dos termos socialismo, nazismo e comunismo fazem parte disso. Os poderosos sabem o que fazem, mas o povo não sabe o que é feito com ele, apenas sofre.
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