A “lua de mel” que nunca houve entre Lula e o “mercado” acabou. Viva!
O motivo da briga é claro: em sua visita mais recente a Brasília, Lula deu uma série de declarações que vão no mesmo sentido: irá governar para o povo pobre que o elegeu, nem que para isso tenha que passar por cima da “responsabilidade fiscal”. Em outras palavras, teto de gastos é o cacete!
Os bancos não gostaram, é óbvio. Estão acostumados a mamar todas as tetas do Estado, que, de tão endividado, fica seco, seco, seco e não sobra nem uma gotinha que seja para o povo. Saúde, emprego, educação, moradia, infraestrutura — tudo isso são “gastos” que os capitalistas não toleram. A mais moderada proposta de Lula sobre qualquer um dos assuntos soa, para os banqueiros, como um assalto aos seus cofres. Mesmo que banqueiro não trabalhe e considere “seu” dinheiro tudo o que um País produziu e ainda vá produzir!
Essa postura “ingrata” de Lula, que não se curvou ao benevolente “mercado” — o mesmo que conspirou pela sua prisão e pela derrubada de Dilma Rousseff — despertou reações de todos os lados. Rapidamente, aqueles que diziam ser seus “aliados” tiraram a carapuça, não decepcionaram e, como bons ratos que são, já ameaçam pular fora do barco. Henrique Meirelles, um rato-banqueiro, disse que Lula “Dilmou”, principalmente após convidar Guido Mantega, o mais esquerdista ministro da Economia que o País teve nos últimos 60 anos,
Achem o que quiserem achar sobre o governo de Dilma Rousseff, a declaração de Meirelles é um elogio para Lula. Lula “Dilmar”, para ele, significa que Lula não irá levar adiante a política econômica submissa de seu governo em 2003, no primeiro mandato.
Em seu discurso na conferência do clima da ONU, a COP 17, Lula voltou a “Dilmar”. E, dessa vez, contrariou o “mercado” não só por indicar uma política oposta à neoliberal, mas por apontar uma política profundamente nacionalista e anti-imperialista. Lula colocou a culpa pelos problemas ambientais nos países ricos, denunciou a hipocrisia dos organizadores do evento e deixou claro: quem vai cuidar da Amazônia não é o senhor Joe Biden, mas o povo que nele vive. Nesse sentido, fez uma proposta muito semelhante a que fizera há pouco o presidente venezuelano Nicolás Maduro, propondo que os países sul-americanos, de maneira soberana, discutissem e tomassem as medidas necessárias para cuidar da Amazônia.
Se Lula “Dilmou” na economia, agora “Madurou” na política externa. E, para nossa alegria, há mais. Lula, diferentemente de Dilma, é o maior líder popular do País e foi eleito em um clima de intensa mobilização. Sua autoridade e sua posição na situação política o empurram para uma posição muito mais radical que a presidenta deposta. Lula, também, não é o presidente de um pobre país caribenho, como Maduro, mas da segunda maior potência de toda a América: um passo à esquerda do Brasil leva a um passo à esquerda de todo o continente.