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Uma análise marxista

Conhecendo o Brasil de verdade

Um curso que analisa os principais problemas da formação nacional do nosso imenso país e do nosso povo sem preconceitos com dados e polêmicas inteligentes

Começou no mês de março o curso do PCO, ministrado pelo seu presidente nacional, Rui Costa Pimenta sobre a história do Brasil. O curso além do modelo presencial, também tem aulas gravadas que podem ser vistas na conveniência da nossa poltrona.

O curso é tão bom e emocionante que não é possível assistir somente uma vez, determinadas aulas já vi novamente, para fixar determinados conceitos e os nomes de figuras históricas e intelectuais que nunca havia tido a oportunidade de ouvir falar, muito menos discutir suas idéias e a importância concreta em sua época.

Explico melhor. Na aula que discutiu a questão dos  bandeirantes, foram apresentadas diversas passagens da mais importante obra sobre o tema, 11 volumes escritos por Alfredo D’Escragnole Taunay, História Geral das Bandeiras Paulistas. Na aula foi explicado que a obra foi escrita sob inspiração de Capistrano de Abreu, um importante historiador brasileiro. Segundo ele, Taunay deveria escrever uma história do povo pobre de São Paulo, suas lutas, sacrifícios, ambições e realizações, as quais levaram à criação do interior do país e transformaram o Brasil neste país imenso que vivemos.

Achei esta aula particularmente interessante pois longe de serem privilegiados, “quatrocentoes”, como os identitários procuram denegrir sua imagem, os bandeirantes eram pessoas duras, firmes e determinadas do povo da época, boa parte deles mestiços de índios que não tinham posses e procuraram desmatar o Brasil, numa aventura que só os “fortes” e “gigantes” sertanejos, como mais tarde foram conhecidos poderiam fazer. 

Partes da obra são citadas várias vezes e não apresenta príncipes, generais etc. corajosos e inteligentes. Apresenta o povo da época como os heróis destemidos que enfrentaram o inimaginável. Realmente queimar estátua de  Borba Gato é um crime contra a memória da luta do povo de São Paulo na época e sua valiosa contribuição para a nossa formação nacional.

Outra aula que destaco como importantíssima é a análise da invasão dos holandeses em Pernambuco e sua posterior expulsão por brasileiros e portugueses que viviam aqui, contra a ordem emitida pela coroa portuguesa, a qual  encurralada por inúmeras problemas depois do fim da União Ibérica, esperava dar fim aos conflitos com holandeses.

Nesta aula é mostrado que a luta contra os holandeses criou as bases de uma importante organização do povo brasileiro, chegando ao ponto dos lideres escreverem  à Coroa Portuguesa dizendo que não iriam cumprir a ordem, mas que manteriam o território brasileiro, esperando por uma punição do rei de Portugal quando Pernambuco estivesse livre dos holandeses. Um gesto heróico e extremamente político que mostra um dos fatos políticos (junto com muitos outros) que garantiram nossa unidade nacional neste imenso país, a despeito da política levada pelos nossos vizinhos hispano-americanos de pulverização do território. Se os brasileiros não tivessem sustentado a luta contra os holandeses, uma parte do nordeste teria sido perdida. 

Outra idéia bastante interessante foi a análise da importância migratória de portugueses para o Brasil durante a descoberta do Ouro em Minas Gerais. Nesta aula é explicado como esta descoberta dos Bandeirantes garantiu o povoamento efetivo do país, com tamanha chegada de portugueses às nossas terras que o rei de Portugal precisou proibir a saída de portugueses, com medo do esvaziamento do país.

A questão da ocupação do território brasileiro por uma população numerosa sempre foi um problema importante. Na aula fizemos uma viagem à época da colonização nos colocando no papel das pessoas que vieram investir capitais nas capitanias hereditárias, tentando estabelecer um povoamento através de produção em bases de tipo capitalista,  uma vez que produção de açucar em larga escala e para o mercado exterior.

Como aprendemos na escola as capitanias não se sustentaram diante do volume de problemas e o povoamento sempre foi um problema não resolvido… até a descoberta de ouro em Minas pelos Bandeirantes, atividade de baixo investimento de capital e que produziu a expansão de um maior mercado interno e cultural no país, com o surgimento do barroco mineiro etc.

Citei aqui algumas passagens em que fiquei particularmente impressionada. É a epopéia brasileira do forte, que não desiste nunca. No entanto, o curso vai muito além disso. É uma discussão cristalina sobre as bases materiais que definiram o avanço do país, de acordo com a realidade da época e não com invenções intelectuais de almofadinhas de agora.

É uma história do Brasil vinculada aos movimentos políticos que aconteceram na Europa, no “velho mundo” e que influenciaram os destinos do Brasil, do “novo mundo”.  Sobre este problema, acho importante a aula em que se discute que o Brasil ocupou um papel de colônia bem diferente do padrão de colônia. Portugal chegou a considerar a transferência da população portuguesa para o Brasil, tamanha a importância dada às nossas terras. Isso muito antes da coroa portuguesa se transferir para o Brasil durante a ocupação napoleônica de Portugal.

Também neste sentido destaco como emocionante a explicação das conquistas coloniais portuguesas, sendo a primeira nação do mundo a construir um império além mar e o papel revolucionário ao descobrir, no geral, o globo terrestre como conhecemos hoje.

Ao assistir o curso entendo melhor algumas passagens dos Lusíadas aprendidas na escola, onde nunca consegui efetivamente captar a importância e o caráter dramático daquelas aventuras, uma vez que o ensino burocrático oficial enumera fatos, sem explicar o contexto, o que estava em disputa na época, retirando a vida dos fatos históricos.

Resumindo: é um curso para assistir e se deliciar com as aventuras, com a lógica implacável e esclarecedora do marxismo na análise dos fatos históricos e com um conhecimento verdadeiro do porquê de sermos o único país subdesenvolvido do “novo mundo” a manter um território comparável a países antiquíssimos como a China e  Rússia, além é claro da discussão de como foi formado este povo admirado pela ousadia ao mesmo tempo que tem enorme sensibilidade para se adaptar às circunstâncias obrigatórias, capacidade de trabalho criativo e um amor e interesse enorme pelo Brasil.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

 
 

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