O 20º Congresso do Partido Comunista da China (PCCh), finalizado neste sábado, 22, aponta claramente para uma tendência ao bonapartismo no principal país da Ásia. O poder de Xi Jinping – líder máximo do partido e, portanto, do país – foi fortalecido, enquanto políticos não alinhados à ala majoritária da burocracia chinesa foram afastados do cargo.
De forma inédita, Xi se encaminha para realizar um terceiro mandato de cinco anos como o secretário-geral do PCCh, “quebrando com precedentes e solidificando o seu lugar como o governante mais poderoso da China desde Mao Tse Tung”, aponta artigo da Reuters.
O congresso do Partido Comunista elegeu um novo Comitê Central, com 205 membros. No entanto, dirigentes mais distantes da política de Xi e da maior parte da burocracia não foram reeleitos. Li Keqiang, primeiro-ministro chinês desde 2013, e Wang Yang, ex-vice-premier e líder do partido na província de Guangdong, e sondado como potencial primeiro-ministro, foram afastados da liderança do partido.
Li deixará de ser primeiro-ministro em março do ano que vem. No entanto, à medida que o poder de Xi foi crescendo no âmbito do partido, seu cargo foi perdendo a importância em relação ao poder político no país. O dirigente era visto com uma das poucas vozes divergentes à ala majoritária dentro da direção chinesa.
No mesmo sentido, o partido aprovou emendas em seu programa para fortalecer a posição central de Xi, destacando o secretário-geral como o líder do “núcleo” do partido e as suas ideias como os princípios orientadores do desenvolvimento futuro da China. As medidas serviram para centralizar ainda mais o poder político em torno do presidente chinês.
O fortalecimento da ala majoritária da burocracia chinesa mostra um crescimento do bonapartismo no país. Isto é, do fortalecimento de um poder central – centrado em Xi – acima do funcionamento das instituições democráticas chinesas. É uma tendência natural do funcionamento de um país oprimido pelo imperialismo em meio à crescente crise econômica, política e social no mundo.
Os chineses decidiram assim seguir o caminho russo, que após os fraquíssimos anos de semi-parlamentarismo de Boris Yeltsin na década de 1990, acabou minando o regime político estabelecido após o fim da União Soviética através de um processo de centralização política na figura de Vladimir Putin.
Os governos nacionalistas de uma burguesia oprimida pelo imperialismo — como é o caso da China e da Rússia — se encontram, de um lado, atacados pela política dos monopólios imperialistas, e do outro, pressionados pela classe operária, que, como mostram as recentes mobilizações na Europa, tem uma clara tendência a se levantar contra a ordem mundial neoliberal.
A crítica ao “autoritarismo” russo e chinês, feita pelos porta-vozes do imperialismo, omite estes problemas.
No caso da China, as decisões do Congresso do PCCh evidenciam uma tomada de posição mais firme da burguesia chinesa contra o imperialismo. O afastamento do governo chinês em relação ao chamado Ocidente e o fortalecimento da aliança com a Rússia – através de uma série de acordos diplomáticos realizados este ano – apontam nesse sentido.
A guerra criada pela OTAN contra a Rússia na Ucrânia mostrou o aumento da ofensiva imperialista contra os países oprimidos, entre os quais, atualmente, os russos e os chineses lideram um bloco de oposição à ordem mundial neoliberal.
Desta forma, a ida da presidente da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a Taiwan escancarou a posição do imperialismo de atacar o governo chinês. Putin, em discurso realizado este mês, denunciou a política do imperialismo em tentar dividir o território russo. O mesmo acontece na China, onde o imperialismo estimula ações separatistas, não apenas em Taiwan, mas em Xinjiang, alegando um suposto “genocídio uigur” nunca comprovado. Assim como em Hong Kong e outras áreas do país.
Por esse motivo, China e Rússia têm fortalecido laços com os países atacados pelo imperialismo, como o Irã, para enfrentar a ordem mundial dominante. A reunião da cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (OCX) no final de setembro, assim com as discussões para fortalecer e ampliar o BRICS – com seu banco de desenvolvimento próprio, num bloco que reúne já cinco dos países mais importantes do mundo oprimido – apontam nesse caminho.
As defesas cada vez mais frequentes de um “mundo multipolar” expressam uma necessidade dos países atrasados em enfrentar o domínio do imperialismo, principalmente norte-americano, no mundo. Se bem que seja uma ideia errada, pois desconsidera que, enquanto houver imperialismo, não pode haver relações de igual para igual entre os países.
O enfrentamento é uma coisa boa e mostra a desagregação do sistema capitalista internacional. Os chineses sabem que são os próximos alvos e, por isso, fortaleceram o regime político para controlar a situação crítica para a qual o mundo está se encaminhando.
Nos últimos anos, o imperialismo norte-americano aumentou os ataques à China. O ex-presidente Donald Trump realizou uma série de sanções para prejudicar a economia chinesa. Agora, o presidente Joe Biden aponta para um caminho bélico e de provocações ainda maiores.
As medidas tomadas pelo PCCh são um resultado desta situação internacional complicada.



