O resultado eleitoral do primeiro turno deixou muita gente desnorteada. Uma esquerda que alimentou uma crença fervorosa nas pesquisas eleitorais e no processo eleitoral em geral tomou um banho de água fria. Ao invés do cenário cor de rosa onde Lula se elegia no primeiro turno, a coisa quase foi pelo ralo. E pior, qualquer questionamento em relação ao funcionamento dos institutos e instituições foi transformado em “fake news”.
Chama a atenção agora no segundo turno algumas análises eleitorais divulgadas por Felipe Nunes, CEO do instituto de pesquisas Quaest. Justamente quando a militância do PT e o próprio Lula intensificaram as ações nos bairros populares, suas análises apontam para um Bolsonaro que se mostraria “muito competitivo”. Apesar dos resultados apresentados por sua empresa mostrarem Lula na liderança atualmente, segundo Nunes eles mostram a tendência de crescimento de Bolsonaro faltando uma semana e meia para o dia da votação.
O instituto sediado em Belo Horizonte realizava pesquisas eleitorais apenas em Minas Gerais. Mas esse ano, em parceria com a corretora Genial Investimentos, está fazendo levantamentos sobre a disputa presidencial. Diante da desmoralização das pesquisas eleitorais no primeiro turno, é de se esperar que a esquerda manifeste preocupação diante das previsões manifestadas por um funcionário do mercado financeiro. Continuar professando uma fé cega na imparcialidade da burguesia pode impor consequências trágicas para a esquerda e para a população em geral.
Na reta final das eleições presidenciais, a divulgação de um prognóstico que aponta uma possível virada na situação pode cumprir dois papéis, complementares entre si. Estimula mudanças de comportamento, por exemplo, incentivando a direita a sair às ruas e criando um cenário que justifique uma eventual vitória de Bolsonaro. Além disso, serve como “evidência” para provar que uma derrota de Lula teria sido obra de uma arrancada do adversário perto da linha de chegada, que poderia ser explicada à exaustão pelos “analistas políticos” da direita e também da esquerda que quer abocanhar o eleitorado petista.
Como este Diário alerta sistematicamente, os institutos de pesquisa são notórios órgãos de manipulação eleitoral e tudo o que sai deles deve ser analisado criticamente. A tentativa de emplacar uma candidatura de terceira via no primeiro turno fez com que as pesquisas escondessem a votação real de Bolsonaro e como efeito colateral anestesiaram a campanha eleitoral da esquerda, que não levou adiante uma campanha combativa.
É difícil ter clareza em torno do cenário eleitoral real e do que a burguesia está orquestrando. Na luta política, as conspirações não são mera teoria mas um prato que está sempre no cardápio servido pela classe dominante. As declarações de Felipe Nunes devem, no mínimo, disparar um alarme na militância de esquerda. São declarações muito perigosas para a campanha de Lula à presidência.