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Isaias Filho

Membro da Direção Nacional do Partido da Causa Operária (PCO) e da Aliança da Juventude Revolucionária (AJR).

Ele é um herói!

Casagrande, o menino que só quer defender a democracia

Em entrevista, Casagrande explica por que a derrota da seleção salvou a “democracia”

Ele não para. É uma “pérola” atrás da outra. O comentarista esportivo da imprensa golpista, Walter Casagrande Jr., voltou a nos brindar com mais uma pílula de “sabedoria” sobre a seleção brasileira e a Copa do Mundo. Parece que não há um dia sequer em que o hoje funcionário do Grupo Folha não fale uma bobagem. 

A sua última façanha foi a entrevista que concedeu ao seu próprio empregador, a Folha de S. Paulo, na qual cravou que “Se o Brasil tivesse vencido a Copa, acho que Bolsonaro usaria o título para motivar o golpe, o título seria usado pelo governo como ocorreu em 1970”. 

Qual a conclusão prática que podemos e devemos tirar dessa colocação? Que para salvar a “democracia” brasileira e evitar o golpe de Bolsonaro, era preciso defender a derrota da seleção brasileira na Copa do Mundo. Casagrande passou a Copa inteira (na verdade, sua atuação vem de antes) atacando Neymar, avacalhando a seleção de conjunto, jogando tinta em Tite, exaltando artificialmente as seleções adversárias. E por quê? Porque ele é um combatente pela democracia e estava travando uma luta de vida ou morte contra o golpe de Bolsonaro. Parabéns, Casagrande! Você é um herói!

Seguindo a linha de raciocínio do comentarista, herói também seria o árbitro inglês, bem como o holandês que dirigiu o VAR, do jogo que eliminou o Brasil, contra a Croácia. Como esquecer da bela “manchete”, aquele fundamento básico do vôlei, que o defensor croata operou no início do segundo tempo? E como esquecer da cara do juiz inglês que simplesmente levantou a mão e mandou a Croácia seguir após consulta ao glorioso VAR? Estamos no aguardo de algum comentário ou artigo de Casagrande reconhecendo o papel decisivo deles na defesa da “democracia” brasileira. 

Essa entrevista de Casagrande é na verdade uma confissão. É como se ele dissesse: “Torci contra a seleção, usei meus artigos no UOL, meu espaço na imprensa para atacar o time, pressionar os jogadores. Evidentemente, mirei na peça mais importante da equipe, Neymar. Prejudicando Neymar, seria mais fácil prejudicar o time todo. Mas fiz tudo isso por uma boa causa. O que estava em jogo era a democracia brasileira. Era preciso defendê-la contra essa encarnação bolsonarista em que se transformou a seleção.”

Para Casagrande, a seleção brasileira não poderia ser outra coisa que não um instrumento do bolsonarismo. E como Casagrande é um defensor da democracia e está em luta contra Bolsonaro, era preciso agir. Ainda mais na sua área de atuação, o futebol. Era preciso metralhar a seleção e seus principais elementos. E assim Casagrande fez. Parabéns, Casagrande! Você é um herói!

Casagrande se aventura a falar sobre futebol e seleção, golpe de Estado e bolsonarismo, mas não entende nada de tudo isso. Toma aspectos superficiais e secundários e os eleva à condição de aspectos essenciais, principais, decisivos.

Por que a seleção brasileira de futebol seria a representação do bolsonarismo? Porque, para ele, alguns jogadores, em especial Neymar, o principal deles, manifestaram alguma opinião política a favor de Bolsonaro. Esse é o critério de Casagrande para analisar os fenômenos: declarações, opiniões, ideias soltas aqui e ali por este ou aquele jogador. 

O grande problema, Casagrande, é que não basta alguém declarar ser alguma coisa para que ele efetivamente seja essa coisa. Para os verdadeiros marxistas, iniciados na concepção materialista de mundo, essa ideia é relativamente simples de compreender. Mas ela está longe de ser inacessível para quem não guarda relação com o marxismo. Se eu, por exemplo, falo que a gravidade não existe, por acaso a lei da gravidade deixa de atuar na realidade? Entre as ideias e a realidade há sempre alguma relação, mas nem sempre (de fato, na maioria das vezes) uma relação de estrita fidelidade e correspondência. É por isso que alguém pense ou diga que está fazendo X, mas, na prática, na realidade, está fazendo Y.

Alguns jogadores da seleção declararam voto em Bolsonaro nas últimas eleições. Mas e na prática? Eles de fato atuam para fortalecer o bolsonarismo? São figuras importantes, com papéis decisivos, do movimento de extrema direita? É claro que não. Neymar, por acaso, é um elemento fundamental do movimento bolsonarista? É um organizador, propagandista e agitador sistemático, ideólogo, militante em tempo integral do bolsonarismo? É claro que não. Politicamente para o bolsonarismo, Neymar é uma figura sem importância. Se ele morresse amanhã, não faria a menor falta para o movimento. O bolsonarismo não depende dele para nada.

O mesmo já não aconteceria no futebol. Se Neymar morresse amanhã, deixaria um buraco na seleção, no futebol brasileiro e mundial que não seria preenchido por ninguém no curto e médio prazo. Em se tratando da seleção brasileira, particularmente, perderíamos o jogador que lidera a equipe há mais ou menos uma década, um jogador extraordinário, raro, desses que não surgem todo ano. Um jogador que não possui substituto imediato. 

Ao se analisar qualquer fenômeno, processo, acontecimento, indivíduos etc., é preciso identificar o papel objetivo, real que cada coisa cumpre na realidade. É preciso ir além das declarações e opiniões e conferir a atuação prática, o movimento real, o sentido objetivo de cada coisa. Neymar ― na prática, na realidade, na objetividade das coisas ― é um jogador de futebol, não um jogador qualquer, mas um craque, um jogador de seleção, e não de qualquer seleção, mas da brasileira, aquela que já teve em suas fileiras um verdadeiro exército de craques e gênios da bola. Do ponto vista da sociedade em geral, seu papel fundamental não é o de um bolsonarista, mas o de um  jogador de futebol brasileiro. Sua atividade principal, aquela em torno da qual sua vida está organizada, é jogar futebol, e não organizar, propagandear e dirigir o movimento bolsonarista. Não está claro o que é o principal e o que é o secundário?

É por esse mesmo motivo que não basta afirmar que se está defendendo a democracia para estar realmente defendendo a democracia. É o seu caso, Casagrande. Quem ataca a seleção brasileira, seus jogadores e técnicos, não está lutando contra Bolsonaro. Está, na verdade, fortalecendo-o. A seleção brasileira é uma expressão concentrada do futebol brasileiro, e este, por sua vez, é uma obra magnífica do povo, da classe operária, dos negros e mulatos pobres do país. Ninguém derrotará Bolsonaro e a extrema direita atacando essa obra. A vitória da seleção na Copa não fortaleceria Bolsonaro. Ao contrário: enfraqueceria o bolsonarismo e fortaleceria o povo e as organizações que ajudaram a eleger Lula. Não é possível derrotar Bolsonaro e a direita golpista sem a mobilização do povo. E o futebol é parte indissolúvel do povo, uma manifestação, uma criação, uma obra desse mesmo povo.

Se isso é assim, então cabe a pergunta: quem de fato combate o bolsonarismo, Neymar ou Casagrande?

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