Dando sequência ao papel que lhe coube antes e durante a Copa do Mundo, o de crítico da seleção brasileira, Walter Casagrande Jr., ex-Globo e hoje colunista do golpista portal UOL, pontificou em artigo publicado logo após a derrota do Brasil: “Entre Modric e Neymar, fica na Copa o camisa 10 altruísta; o egoísta se foi.”
O objetivo de Casagrande é, pela enésima vez, atacar Neymar, o principal jogador da seleção brasileira. Para tanto, o comentarista traça uma comparação não só a respeito do futebol de cada um dos jogadores, mas de suas personalidades. Para Casagrande, Modric, o camisa 10 da Croácia, seria uma “liderança super positiva”, que contrastaria com a “liderança egoísta e, no mínimo, duvidosa” de Neymar. Modric seria “super focado”, ao passo que Neymar, “super debochado”.
As diferenças de personalidades, sempre segundo o ex-jogador, teriam se traduzido dentro de campo. “Modric jogou totalmente para o time, como é do seu feitio. Comandou a cadência e, às vezes, a lentidão da dinâmica de jogo da Croácia”. Em compensação, Neymar “pegava pouquíssimas vezes na bola, errava muitos passes e dribles, e não dava dinâmica alguma ao jogo da seleção brasileira”. Enquanto o croata “desfilava talento, visão de jogo, noção de tempo e espaço, parecendo um verdadeiro maestro de uma orquestra dependente do seu talento”, o “10 do Brasil, nada. Muitas caras e bocas aparecendo no telão, mas sem influência positiva no jogo brasileiro.”
Tal como um religioso de quinta categoria, descrevendo anjos e demônios, Modric sendo colocado entre os primeiros e Neymar entre os segundos, o comentarista conclui: “Passou para a semifinal da Copa do Mundo o melhor número 10, o cara que joga para o seu time e não para si. Ganhou o altruísta, e foi embora o egoísta.”
Logo se vê, a partir deste artigo e da atuação do ex-jogador como comentarista nesta e em outras oportunidades, em especial sua atuação durante esta Copa do Mundo, que Casagrande, o Moralista, preza pelo altruísmo. Mas será mesmo assim?
Quem é o patrão de Casagrande?
Casagrande foi comentarista da poderosa Rede Globo por 24 anos. A Rede Globo dispensa comentários: emissora criada sob o guarda-chuva da ditadura militar brasileira, em 1965, com dinheiro norte-americano, é um dos principais instrumentos da direita e do imperialismo no país. Com tanto tempo de casa, é mais do que razoável deduzir que foi um funcionário fiel. O comentarista esportivo já afirmou em várias ocasiões que jamais foi censurado pela emissora enquanto esteve lá ― uma prova de que jamais disse ou fez algo que contrariasse no fundamental os interesses do seu patrão.
Em 2022, Casagrande deixou a emissora na qual prestou serviços por mais de duas décadas e foi contratado pelo UOL, portal de internet pertencente ao Grupo Folha. No novo patrão, Casagrande tem se destacado pelos ataques contra Neymar e o selecionado nacional, especialmente durante a Copa no Catar. Os Frias, donos do Grupo Folha, não deram qualquer mostra de insatisfação até o momento.
Casagrande é visto por muitos como uma figura de esquerda. Seus ataques a Neymar, por exemplo, vêm sempre embrulhados com uma embalagem esquerdista. “Neymar é um bolsonarista, um alienado”, costuma dizer. Visto de perto, no entanto, pode-se ver que na prática as posições de Casagrande, naquilo que têm de fundamental, confundem-se com as da direita. Na hora do vamos ver, na hora de bater o pênalti, Casagrande sempre faz uma frente única com a direita, isto é, com os seus patrões.
Durante o golpe de Estado contra o governo de Dilma Rousseff, onde estava Casagrande? Estava trabalhando fiel e religiosamente na Globo. E o que a Globo estava fazendo nessa época? Trabalhando fiel e religiosamente para derrubar o governo do PT, prender Lula e, por consequência, eleger Bolsonaro. O que Casagrande fez à época? Onde estavam os artigos indignados, histriônicos mesmo, denunciando o golpe de Estado, denunciando a farsa da Lava Jato, no estilo dos que vemos hoje contra a seleção e Neymar? Onde estava o tão propalado altruísmo, tão admirado por Casagrande no jogador croata?
Casagrande se apega ao “bolsonarismo” de Neymar para promover uma verdadeira caça às bruxas contra o melhor jogador brasileiro da atualidade, mas se esquece de que era e é funcionário de empresas que, infinitamente mais do que Neymar, ajudaram na ascensão do bolsonarismo e a colocá-lo no poder em 2018. Enquanto Neymar não deu mais do que algumas declarações de apoio a Bolsonaro, Casagrande fez parte da mais sinistra engrenagem de propaganda que se tem montada no país, uma engrenagem “super focada”, “com visão de jogo, noção de tempo e espaço, parecendo um verdadeira maestro de uma orquestra”, tal como o Modric falsamente pintado por ele. Façamos uma pergunta simples: quem contribuiu mais para a ascensão de Bolsonaro, Neymar ou a Rede Globo? Neymar ou a Folha de S. Paulo?
Ao fim e ao cabo, Casagrande é só mais uma ferramenta pela qual a burguesia e seus órgãos fazem o seu jogo sujo. Ao fazer o trabalho que vem fazendo, ele não é mais do que isso: uma ferramenta, descartável inclusive, da burguesia e do imperialismo. Tenha ele consciência ou não do fato. Em contrapartida, Neymar é uma ferramenta e uma expressão do movimento das classes oprimidas e do povo brasileiro no sentido da luta pela sua libertação, da luta contra o seu inimigo principal, a direita, a burguesia e o imperialismo. Tenha ele consciência ou não desse fato. Na prática, na realidade, na luta de classes, Neymar é o altruísta, Casagrande é o egoísta.