Em 2004, no início do primeiro Governo Lula, Caetano Veloso – em sua fala na Feira Literária
Internacional de Paraty (FLIP) – se manifestou a respeito das cotas nas Universidade Públicas usando a seguinte frase:
O raciocínio, neste caso, ou foi espetacularmente genial (a ponto de não conseguirmos alcançar) ou foi mesmo isso que você leu.
Mas a coisa foi além: em 2006, um grupo de intelectuais, artistas e militantes do Movimento Negro (sim, você não leu errado) entre os quais o próprio Caetano entregou ao Congresso uma Carta Manifesto contra as cotas raciais e contra a criação do Estatuto da Igualdade Racial.
“A universidade não é prêmio para a injustiça passada. Não se repara injustiça premiando descendentes de quem foi vítima da injustiça” – sustentava uma das intelectuais.
Quem olha no retrovisor da História (e se depara com esse desespero e tais declarações mal dissimuladas) deve recorrer à música – para desanuviar a mente, ouvindo a canção Haiti:
“E na TV se você vir um deputado em pânico
Mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo
Qualquer, qualquer
Plano de educação
Que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
Do ensino de primeiro grau”
Que coincidência perturbadora, perceberá o leitor atento, encontrar nestes versos uma quase descrição das posições do próprio autor acerca justamente de um plano de democratização do ensino.
Aliás, um grupo de artistas liderado pelo compositor e sua mulher tem funcionado como uma bússola inversa: apontam sempre para o lado errado. Vide o apoio à ação dos EUA contra o Brasil através do Judiciário (vulgo Operação Lava Jato).
O mundo tem suas contradições. E Caetano também.
Embora artista/ativista/intelectual tenha recentemente mudado de posição em relação a este ou aquele tema, é conveniente estar atento e pôr os cornos afora e acima da manada – para não receber na cara o leite mau dos caretas.
*A opinião dos colunistas não representam, necessariamente, a posição deste Diário