Sororidade é um desses neologismos que a esquerda pequeno-burguesa adora utilizar. No fundo, é mais uma dessas palavras vazias que fingem mobilizar ou representar alguma luta. Mais ou menos o que vemos em frases do tipo “somos todos…”, “ninguém solta a mão de ninguém…” etc. Quando tem algo em jogo é cada um por si e ninguém segura a mão de ninguém.
Sororidade significaria uma atitude de proteção entre as mulheres. Porém, a sociedade é principalmente divida em classes. As mulheres ricas, principalmente as parlamentares, não vão se incomodar com a situação difícil que as mulheres trabalhadoras vivem.
Simone Tebet, a candidata que agora estão tentando pintar como democrata, votou pelo impeachment de Dilma Rousseff. Ou seja, a senadora não passa de uma golpista. O resultado do golpe todos conhecemos: milhões de desempregados; Brasil voltando ao mapa da fome, com pessoas tendo que ficar em filas para conseguir um osso para cozinhar; perda dos direitos trabalhistas; perda da previdência. O pior de tudo é que são justamente as mulheres que mais sofrem com as crises econômicas, pois pertencem aos setores mais explorados da sociedade.
Simone Tebet é uma política de direita, não se poderia esperar de sua parte alguma sororidade para com Dilma Rousseff. No entanto, a falta de solidariedade também se vê na esquerda. O caso da deputada pelo Psol, Sâmia Bomfim. Para ela, o governo Dilma seria um governo de bandidos. Também não se pode esperar muito desse tipo de candidato que, em vez de lutar pelos direitos dos trabalhadores, opta por ações pirotécnicas, como aparecer no Congresso vestindo avental laranja e fazendo laranjada. Um espetáculo vexatório que, nem de longe, pôde defender as necessidades da classe trabalhadora.
Candidata do PCO
Recentemente, a candidata do PCO ao governo de Piauí, Lourdes Melo, uma mulher trabalhadora, teve sua palavra cerceada em um debate na televisão. O vídeo viralizou pois Lourdes não se intimidou e não admitiu ser calada. Obviamente, a candidata foi alvo do humorista direitista Antônio Tabet, do Porta dos Fundos.
É claro que se esperava de uma outra candidata de esquerda, mulher, recorresse à sororidade, afinal, pelo menos na aparência, esse seria um pacto firmado entre as mulheres. No entanto, eis que Sâmia Bomfim, aquela da laranjada, se uniu ao direitista Tabet para ridicularizar a companheira.
Sâmia Bomfim não foi solidária com Lourdes Melo, assim como não o foi com a ex-presidenta Dilma. Quando muito, ela será solidária apenas com mulheres de sua própria esfera, ou com aquelas das quais possa tirar algum proveito político.
Luta de classes
Palavras não substituem a luta de classes. Sororidade nenhuma vai substituir essa realidade. Aliás, esse tipo de modismo da esquerda pequeno-burguesa, só serve como obstáculo para que as mulheres trabalhadoras possam evoluir politicamente. Primeiro porque é uma mentira que tentam vender, como se o simples fato de serem mulheres haveria uma possibilidade de união por cima dos interesses de classistas. De novo: as mulheres ricas têm interesses opostos das mulheres pobres e não vão mover um único dedo para ajudá-las. Segundo, mesmo que houvesse uma suposta sororidade, ela estaria inserida dentro de uma sociedade capitalista que não ficaria melhor por conta disso. A exploração das mulheres trabalhadoras seguiria brutal como sempre.
Armadilha
A tal sororidade pode ser uma armadilha, pois obrigaria moralmente as mulheres a votarem em outras. Como se isso fosse suficiente. Ora, se uma mulher votar em Simone Tebet para a presidência, esperando que algo melhore em sua vida, incorrerá em um grave erro. Tebet representa os interesses do grande capital, tanto nacional quanto internacional. Quando a senadora votou pelo impeachment, sabia muito bem que não havia crime, por isso que inventou uma lorota, para justificar seu voto golpista, dizendo que votava principalmente na “esperança de melhores dias”.
Temos visto muita propaganda na televisão nesse sentido, de que as mulheres devem participar da política. Claro que isso é uma propaganda velada para Simone Tebet, que se aproveita da onda identitária para se lançar como uma candidata automaticamente ligada aos interesses de todas as mulheres.
Na verdade, essa tal de ‘sororidade’ fará com que mulheres votem em outras que vão defender interesses opostos aos das mulheres trabalhadoras.
A esquerda não pode cair nessa armadilha, precisa combater fortemente essa demagogia identitária que, no final das contas, serve para piorar a vida das mulheres em seu conjunto. A única saída viável é uma luta classista, enxergar a vida e a política do ponto de vista da luta de classes. E, não podemos nos esquecer, é preciso denunciar as charlatãs de plantão.