Nesta sexta-feira (11), o recém eleito presidente do Chile, Gabriel Boric, assumiu oficialmente a presidência do país com uma forte cobertura, sobretudo da imprensa internacional, que o classificou como o símbolo da “nova esquerda”. Em seu discurso, Boric enfatizou a necessidade de estabilizar o país após as grandes revoltas populares que marcaram o fim do governo Piñera, como também declarou estar a frente de um “novo governo” de esquerda na América Latina, buscando se diferenciar dos governos nacionalistas, e sinalizando mais uma vez, sua posição em prol do imperialismo.
A cobertura da imprensa internacional enfatizou o lado “diferente” de Boric. No Brasil, a Revista Isto É, enfatizou a mudança de um “revoltado barbudo” no período das mobilizações estudantis, para o “novo Boric”, um jovem presidente, “democrático”, que não usa gravatas e busca promover a participação das mulheres no parlamento.
Abarrotado de uma clara campanha identitária, Boric se dirigiu nas últimas semanas a se colocar como o propagador desta política no Chile, algo comemorado pela esquerda pequeno-burguesa, e é claro, pelo imperialismo. Como se não bastasse, Boric vem deixando bem claro de que lado está na luta contra os Estados Unidos e todo o imperialismo.
Em relação a situação da Venezuela, o recém eleito presidente do Chile fez duros ataques à Maduro, afirmando que o mesmo, assim como diz a campanha da imprensa burguesa, ataca os direitos humanos e promove uma destruição de seu país. Boric atacou Maduro nas redes sociais, como também afirmou que o seu governo, um dos mais populares e anti-imperialistas do continente, seria um “desastre”. Boric também atacou Cuba e Nicarágua, outros pilares importantes da resistência latino-americana.
Sobre o Brasil, o recém eleito citou Lula, porém afirmou ver com bons olhos o golpista Fernando Henrique Cardoso, demonstrando estar disposto a fazer o mesmo que a burguesia chilena sempre fez no país, levando a frente a política neoliberal.
Além disso, o presidente chileno dirigiu seus ataques também à Rússia e ao governo nacionalista de Vladmir Putin, condenando a ação russa na Ucrânia e se colocando, como todo o imperialismo, ao lado do governo de Zelensky que, desde 2014 no poder, tem como um dos principais pilares de sustentação as milícias paramilitares nazistas.
Boric segue o caminho que toda a esquerda pequeno-burguesa brasileira almeja. Em uma aliança com partidos da direita dito “moderada”, com uma retórica identitária e uma campanha de “bom moço” para a imprensa burguesa, Boric é visto por figuras como Guilherme Boulos, no Brasil, como um exemplo a ser seguido, e, pelo imperialismo, como um respiro em meio a verdadeira convulsão social que explodiu por mais de um ano no Chile.
Boric ascendeu como um traidor da mobilização popular, uma figura que enquanto o país ia em direção a uma verdadeira revolução, se colocou como um apoio da burguesia no interior do movimento, para boicotar a mobilização. Boric se opôs às manifestações, se colocando também como um dos principais apoiadores da nova constituinte que, na prática, não mudou nada da constituição que já existia desde a ditadura de Pinochet.
Como não bastasse, Boric vem relutando em garantir liberdade aos mais de mil presos políticos que o governo de Piñera fez durante as manifestações. Suas posições são tão antagônicas aos interesses da população que, durante sua posse, nesta sexta-feira, seu governo colocou como primeiro ato a polícia para reprimir manifestantes que exigiam liberdade para os presos políticos.
A transição de governos também foi pacífica para os interesses do imperialismo, que classifica Boric como um “social democrata moderado”, e que em um gesto de aliança com a direita, aceitou fazer de bom grado a cerimônia de transição abraçando o ditador Piñera, abandonando de vez, a sua imagem de um suposto de líder das manifestações populares.
Boric inicia seu governo em um momento de crise do imperialismo. O governo dos Estados Unidos necessita de aliados na América Latina, considerada pelos mesmos como seu “quintal”, contendo a forte crise que se espalha pelo continente e viabilizando a reorganização do regime imperialista, a medida que os confrontos internacionais contra os países atrasados, como Rússia e China, se aprofundam em larga escala.
Boric já se revelou ser um novo direitista a governar com uma fantasia de esquerdista, graças a campanha identitária. Um novo Lenin Moreno, um homem que colocará na ordem do dia as prioridades do imperialismo e não da população chilena, mostrando na prática a que serve a “nova esquerda” representada no Brasil sobretudo, pelo PSOL.