O presidente ilegítimo Jair Bolsonaro (PL), derrotado nas eleições do último domingo (30), demorou mais de 40 horas para dar qualquer declaração pública após o segundo turno. De acordo com a grande imprensa, esse teria sido o maior hiato já registrado entre uma disputa eleitoral e o pronunciamento de um candidato derrotado.
A longa espera, ainda mais diante do fato de que manifestações de caminhoneiros em vários estados do País demonstraram a disposição de um setor do bolsonarismo de contestar o resultado nas urnas, fez com que houvesse uma grande expectativa em torno do discurso de Bolsonaro. O pronunciamento finalmente veio, por volta das 16h30 de ontem (1º).
Logo no início, Bolsonaro agradeceu aos “58 milhões de brasileiros que votaram em mim no último dia 30 de outubro”. Essa é a maior votação de Bolsonaro — maior até mesmo que a votação de 2018, quando foi eleito presidente — e a segunda maior votação da história. O destaque a esse número serviu, portanto, para demonstrar ser dono de uma ampla base social.
Em seguida, no entanto, Bolsonaro, para contentamento da burguesia, criticou discretamente as manifestações dos caminhoneiros: “as manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas. Mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedades, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir”.
Embora tenha criticado o radicalismo das manifestações, Bolsonaro ressaltou que “os atuais movimentos populares são fruto de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral”. Isto é, procurou apresentar a tese de que seus apoiadores estariam indignados, em última instância, com o sistema político, reforçando a sua imagem de “antissistema”.
Em seguida, Bolsonaro declarou que “a direita surgiu de verdade no nosso país”, dando a entender que a eleição de seus aliados para o governo dos estados e para o Congresso seria a direita “de verdade”. Essa direita, portanto, teria ele como a principal liderança.
Ainda no discurso, Bolsonaro explicitou quais seriam as principais bandeiras dessa “direita de verdade”: são os que “defendem a liberdade econômica, a liberdade religiosa, a liberdade de opinião, a honestidade e as cores verde e amarela da nossa bandeira”. Bandeiras todas elas falsas, obviamente, mas sobre a qual conseguiu fazer muita demagogia no último período, sobretudo devido à falta de programa da esquerda nacional.
Chamou atenção, inclusive, que Bolsonaro reinventou o seu slogan, adaptando a essa demagogia: “Deus, pátria, paz e liberdade”. Por mais ridículo que isto possa parecer, Bolsonaro, o fã de Carlos Brihante Ustra, sai a campo como o defensor da liberdade.