A pesquisa DataFolha que foi divulgada na última quinta-feira (15) apontou para um cenário de estabilidade no percentual de intenção de votos entre os candidatos presidenciais. Lula tem se mantido, na maioria das pesquisas, acima dos 40%. Bolsonaro, por sua vez, permanece com mais de 30%.
O mais surpreendente é a manutenção dos índices de Bolsonaro. Apesar de todos os ataques que a imprensa capitalista faz contra o candidato do PL, ele não cai nas pesquisas. Por que isso?
Ora, sabemos que as pesquisas são controladas pela burguesia. São feitas por institutos diretamente vinculados com a mesma imprensa que ataca Bolsonaro ─ Ipec, DataFolha, PodeData etc. Apesar desse controle, a burguesia precisa aparentar que transmite a realidade. Isto é, as pesquisas precisam expressar minimamente a opinião da população, para dar uma fachada de credibilidade. Pela lógica, com toda a campanha contra Bolsonaro pela imprensa, a opinião pública de seus eleitores deveriam indicar uma diminuição em seu apoio. Mas essa opinião não influencia nos índices de pesquisa.
Há pelo menos dois motivos para Bolsonaro se manter estável, com mais de 30% das intenções de voto, mesmo com uma propaganda negativa contra si.
Os que acreditam que Lula é o candidato do imperialismo no Brasil não analisam a política por meio dos parâmetros materiais. O imperialismo derrubou o PT em 2016, prendeu Lula em 2018 e tentou deixa-lo inelegivel novamente mas não conseguiu devido a luta dos trabalhadores.
— PCO – Partido da Causa Operária – (M) (@mpco29) September 16, 2022
Um deles é que a burguesia, que controla as pesquisas eleitorais, não tem a intenção de rebaixar o índice eleitoral de Bolsonaro. Pelo contrário, ela o mantém em segundo lugar com mais de 30% do eleitorado para atender a uma finalidade política. Bolsonaro precisa ter chances de vitória. Tudo isso, para que Lula não se eleja. Mas Bolsonaro não é o candidato predileto do imperialismo. Tampouco Lula. O imperialismo aposta na terceira via ─ de preferência, Simone Tebet. Bolsonaro faz mais o papel de espantalho do que de qualquer outra coisa. Precisa assustar o eleitorado geral de que pode vencer. Muito se diz na imprensa que Lula não tem capacidade de unificar a oposição a Bolsonaro. Isso poderia muito bem ser utilizado como desculpa da burguesia para chantagear o PT a abandonar sua candidatura, caso Bolsonaro cresça artificialmente nas pesquisas e ameace se reeleger. Tebet, por outro lado, segundo certa propaganda da imprensa, poderia sim unificar a oposição contra Bolsonaro. Portanto, ela, recebendo o apoio de Ciro Gomes (o qual a mesma imprensa já noticiou que poderia abandonar sua candidatura para apoiá-la) e mesmo do próprio PT, pressionado por seus “aliados” do PSB, Solidariedade e PSOL, para apoiar uma mulher graciosa (sic.) que derrote o machismo e o fascismo no segundo turno. É uma hipótese que não pode ser descartada, ainda mais se lembrarmos que, em 2014, Aécio Neves saiu de terceiro lugar com 15% das intenções de voto para, um mês depois, no segundo turno, ter 46% contra 44% das intenções de Dilma Rousseff ─ tendo perdido por dois pontos percentuais na eleição mais difícil da história.
Um outro motivo pelo qual Bolsonaro mantém o seu índice nas pesquisas é o fato de que, apesar de tantos ataques, a imprensa capitalista não foi capaz de atingir o grosso de seu eleitorado. E por quê? Uma das razões é que essa propaganda não é realmente eficiente. Isso porque a campanha da burguesia contra Bolsonaro não está, nem de longe, à todo o vapor. Quando a burguesia quis derrubar Dilma Rousseff e prender Lula, a campanha na imprensa era muito mais agressiva e feroz. Apareciam, do dia para a noite, denúncias das mais estapafúrdias, nas colunas dos jornais, nos telejornais, nas revistas. Fazia-se um terrorismo sobre a crise econômica, de que os investidores estavam saindo do País. Nada disso ocorre contra Bolsonaro. Bem como o Judiciário não atua de forma contundente contra o presidente da República. Os que são punidos de forma mais rigorosos são os “peixes pequenos” do bolsonarismo: parlamentares de segundo escalão, auxiliares, jornalistas, pequenos ou médios empresários sem grande influência sobre Bolsonaro etc. O próprio presidente tem diversos motivos para ser, até mesmo, afastado do cargo, mas isso sequer foi para a frente no âmbito parlamentar, bem como o STF tem se fingido de cego diante de tamanhas falcatruas ─ apesar de Xandão se promover como o grande herói contra o bolsonarismo. Se estivesse verdadeiramente disposta a tirar Bolsonaro do poder, a burguesia teria tido resultados melhores até o momento.
Mas a burguesia apoia Bolsonaro? A resposta é sim. Se o setor mais poderoso da burguesia, ligado diretamente ao imperialismo e em grande medida controlado por ele, aceita Bolsonaro, apesar de tentar mantê-lo sobre um controle mais estrito, um outro setor, mais secundário, o vê como o melhor candidato. Embora secundário, esse é um setor importante da burguesia.
Ele é o latifúndio (conhecido também como agronegócio, um dos mais poderosos setores da burguesia brasileira), o comércio varejista (muito grande), a indústria de segurança e armas (muito poderosa) e grandes veículos de imprensa ─ como Jovem Pan, SBT ou Gazeta do Povo, além de centenas ou talvez milhares de emissoras de TV, de rádio, jornais e revistas espalhados pelo País. Bolsonaro ainda é apoiado ferozmente pelos representantes indiretos da burguesia nacional reacionária e ligada ao imperialismo, como a burocracia das forças armadas, a burocracia policial e a burocracia estatal nos estados e municípios ─ e como parte da burocracia da Igreja Católica e a totalidade da burocracia da Igreja Evangélica, como Edir Macedo e sua rede de bancos, empresas e veículos de comunicação.
Por último, Bolsonaro tem o apoio de um setor imperialista secundário, mas ainda assim imperialista, ligado ao trumpismo e à extrema-direita europeia (Steve Bannon, Marine Le Pen, Santiago Abascal, VOX e o Fórum de Madri etc.). Esses setores são supostamente críticos do “globalismo”, mas ao mesmo tempo são alavancados e sustentados, tal como Bolsonaro, por um setor secundário mas importante da burguesia dos principais países e tolerados/aliados por representantes da principal ala da burguesia, o capital financeiro internacional.
Reportagem publicada na última sexta-feira (16) pelo E-Investidor, portal do jornal O Estado de S. Paulo sobre o mercado de ações, reflete muito bem o posicionamento dos banqueiros e demais representantes do capital financeiro. “Talvez até aconteça uma euforia de curto prazo, com Bolsa em alta e dólar em queda, uma reação momentânea visto que entre Bolsonaro e Lula, o mercado realmente prefere o Bolsonaro”, disse Leandro Petrokas, alto funcionário do mercado financeiro. “Caso o presidente seja reeleito, tudo indica que as privatizações devem ganhar mais força, o que beneficiaria os acionistas das empresas estatais ou com participação do governo”, afirmou outro membro do ramo, Juan Espinhel, especialista de uma consultoria de investimentos.
Algumas alas do movimento de tipo nacionalista no Brasil acreditam que Bolsonaro é o candidato que o “globalismo” (ou seja, o imperialismo) quer ver longe do governo, porque veem a campanha que as ONGs estrangeiras e a grande imprensa fazem contra ele. Mas, como demonstrado, essa campanha intencionalmente não representa verdadeiro perigo para Bolsonaro. Servem, antes de tudo, para tachá-lo de malvado a fim de beneficiar o seu candidato favorito ao governo ─ Simone Tebet, assim como nos EUA fora John Biden, e não Bernie Sanders. Outro setor imperialista apoia Bolsonaro ainda no primeiro turno, como o seu grande candidato. Porque a política de Bolsonaro é ─ como explicou acima um representante do mercado financeiro ─, em geral, benéfica ao capital imperialista. Só precisa de alguns ajustes pontuais.