Após o primeiro turno das eleições deste ano, ficou definido que Onyx Lorenzoni (PL) e Eduardo “Bolsogay” Leite (PSDB) se enfrentariam novamente na disputa pelo governo do Rio Grande do Sul. Com isso, iniciou-se uma campanha histérica por parte da esquerda pequeno-burguesa de que seria preciso derrotar o “fascismo” do candidato bolsonarista por meio do voto útil em Leite, um dos representantes do pior da política nacional, o tucanato.
É o caso de Manuela d’Ávila (PCdoB) e de todo o PSOL gaúcho, incluindo a golpista Luciana Genro. Ademais, em nota do PT-RS assinada pelo ex-governador Olívio Dutra, por Tarso Genro, pelo presidente estadual e deputado federal Paulo Pimenta, por Edegar Pretto e pelo senador Paulo Paim, a legenda orientou a sua militância a votar em Leite.
“Compreendendo o momento político que vivemos, decidimos recomendar o voto crítico em Eduardo Leite no domingo próximo, esperando com este gesto que todos aqueles comprometidos com a democracia se unam para derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo neste segundo turno. Nossas divergências com Leite são muitas, e conhecidas pela sociedade gaúcha. Representamos projetos políticos distintos. Mas agora é a hora de defender o Brasil e o Rio Grande da ameaça representada pelas candidaturas de Bolsonaro e Onyx”, diz a nota.
Temos aqui mais uma demonstração da profunda desorientação da esquerda pequeno-burguesa brasileira. Com medo do espantalho do fascismo, impulsionado pelo imperialismo justamente para confundir as direções, vão contra todo e qualquer princípio que algum dia tiveram para não só defender, como também apoiar figuras reacionárias como Eduardo Leite.
É uma política que representa um verdadeiro golpe contra os trabalhadores e as suas organizações. Sem contar no fato de que é a receita para o desastre, para um aprofundamento ainda maior da devastação que a burguesia promove contra a classe operária.
E não há muito tempo que o mesmo truque foi utilizado para garantir que o estado de São Paulo permanecesse nas mãos do PSDB durante quase 40 anos. Ao invés de Bolsonaro, entretanto, o espantalho, o demônio que levou a esquerda a apoiar os tucanos era Paulo Maluf, que, posteriormente, inclusive, deixou de ser um inimigo ao apoiar Haddad.
Trata-se, no final, de um truque velho para levar as pessoas confusas, por meio da desorientação da esquerda, a votar no chamado “mal menor”. O problema é que, posteriormente, a opção “menos pior” para os trabalhadores sempre se revela justamente o oposto. Vejamos o caso de Biden, nos Estados Unidos: por meio dessa política, o Democrata levou as eleições contra Trump, causando, em um ano, mais destruição ao mundo que o Republicano durante seus 4 anos no poder.
O ponto fundamental é que, na política, o mais importante não são as figuras, ou seja, as personalidades, mas os interesses envolvidos por trás de cada indivíduo. Nesse sentido, os candidatos não representam os seus interesses pessoais, são, antes, representantes de uma classe social e, por isso, governarão conforme os objetivos dessa classe.
Fundamentalmente, todos os candidatos de Bolsonaro e do PSDB representam a mesma classe social. Logo, não há nada de especial no bolsonarismo, é apenas mais um grupo da burguesia que, por definição, tem como principal objetivo esmagar a classe operária para garantir a sua própria existência.
Isso fica ainda mais claro quando fazemos uma breve retrospectiva. Onde estava Leite em 2018, quando Lula estava impedido de concorrer às eleições após ser preso em um dos principais episódios do golpe de Estado no Brasil? Apoiando Bolsonaro! Não é à toa que, após “sair do armário”, adquiriu o certeiro apelido de Bolsogay, revelando sua amicíssima relação com a figura que, hoje, considera como um demónio.
De maneira geral, todos os direitistas ditos “democráticos”, como Leite e João Dória, de São Paulo, apoiaram Bolsonaro em 2018 contra Haddad. Fato que prova, de maneira cabal, que não passam de meros oportunistas que, no frigir dos ovos, agirão conforme os seus interesses e, invariavelmente, contra os trabalhadores.
Fato é que a burguesia brasileira caminha cada vez mais para a direita. Afinal, Bolsonaro e seu partido, o Partido Liberal, dominaram as eleições estaduais e, ao que tudo indica, dominarão, também, as eleições para os governos dos estados. É um quadro que não pode ser revertido pelas eleições, como diz a esquerda gaúcha, mas sim por meio da mobilização da classe operária nas ruas.
Caso a esquerda pequeno-burguesa não abandone as suas ilusões, caso os trabalhadores não levem adiante uma luta própria, independente da burguesia, a vontade da direita irá se impor sobre a do povo. É uma questão de relação de forças entre as classes, e não de quantidade de votos, finalmente, as principais reivindicações da classe operária, em todo o mundo, só foram conquistadas por meio da luta popular. Por que, agora, seria diferente? Não é, é uma lei da história.



