Traidores renovadores 

Bolívia: Evo Morales denuncia golpe interno de Luis Arce no MAS

Na Bolívia a pressão da direita golpista está dividindo o partido que governa o país: no governo, a ala direita, que cede à pressão, e de fora a ala esquerda, ligada ao próprio Evo

A América Latina entra em um novo período de crise, o Peru e a Argentina deixam isso muito claro. Mais um presidente foi derrubado e mais um candidato popular está sendo perseguido para não se eleger. A Bolívia também começa a expressar a crise que tende a crescer cada vez mais. Um conflito se abriu entre duas alas do MAS, partido que governou o país. De um lado Evo Morales, uma grande liderança popular derrubada pelo golpe de Estado de 2019, de outro o atual presidente, Luis Arce, eleito pois Evo não concorreu às eleições. As próximas eleições serão somente em 2025 mas o poder já está em disputa.

Na Bolívia, um golpe de Estado derrubou o presidente Evo Morales no ano de 2019. A direita fascista aliada com o imperialismo tomou o poder por um ano de gigantesca instabilidade política. A classe operária e os camponeses iniciaram um processo quase revolucionário que terminou com a derrubada da presidenta fascista Janine Áñes e o retorno do MAS, Movimento ao Socialismo, ao governo. Contudo Evo Morales, assim como Cristina Kirchner, capitulou ante a pressão da direita lançando outro candidato, Luis Arce.

Arce, assim como Fernandes na Argentina, é de uma ala muito mais moderada do MAS, e além disso sua popularidade não chega nem perto da de Evo Morales. Sua política moderada não é o suficiente para o atual momento de crise que passa a Bolívia, o que torna seu governo mais instável. Além disso, a direita golpista se rearticulou nos últimos 2 anos e ganha cada vez mais força. Os separatistas de Santa Cruz de la Sierra possuem uma verdadeira milícia fascista que já serviu de base para o golpe de 2019 e pode fazer o mesmo no futuro próximo.

Ante essa polarização há dois caminhos, o da Venezuela ou o do Peru. No vizinho boliviano o presidente se aliou cada vez mais com setores da direita cedendo cada vez mais à pressão. Isso não parou a sanha golpista, pelo contrário, apenas a intensificou. Além disso, o governo se enfraqueceu ante os trabalhadores por não aplicar uma política de esquerda. No fim Pedro castillo cavou a própria cova. A Venezuela pelo contrário se mostra firme contra os golpistas, mantém um governo que tem como base a mobilização popular, um governo que tende a esquerda conforme se amplia a campanha golpista.

Evo Morales não necessariamente tem a mesma política de Nicolás Maduro, ele mesmo foi derrubado no ano de 2019. Contudo Luis Arce parece estar seguindo os caminhos de Pedro Castillo, se afastando do partido que o elegeu e abrindo uma verdadeira crise interna no MAS. Já existem boatos de que Arce será o candidato nas próximas eleições por outro partido. Em um comício de Arce se espalhou um boato de que as bandeiras usadas não seriam das cores do MAS, o que intensificou a desconfiança entre ambas as alas do partido.

Nesta ocasião Evo Morales se pronunciou de forma clara: “não são renovadores, são traidores. Abandonaram as lutas históricas do nosso povo e dos mártires da Revolução Democrática Cultural que deram suas vidas pela nacionalização dos Recursos Naturais da Bolívia e a refundação de nosso país. Traíram o MAS-IPSP, se submeteram a direita golpista” A crítica extremamente pesada indica que um setor do partido de Evo já capitulou a pressão dos golpistas, o que tende a ampliar a crise no atual governo.

Outro indício da disputa são as comissões da Câmara de Deputados para os anos de 2022-23. Das 12 comissões, nove são presididas pelo MAS, contudo nenhuma tem algum deputado do bloco ligado diretamente a Evo. O governo Arce e um setor do MAS parecem se deslocar cada vez mais de Morales e dos movimentos populares do qual ele é o maior dirigente. O que levanta o alerta vermelho para qualquer latino americano. No Equador, o candidato escolhido por Rafael Correa, Lenin Moreno, se tornou um golpista neoliberal que perseguiu o próprio Correa. O imperialismo é capaz de tudo para manter os países oprimidos sob seu controle.

A ala direita do MAS, a qual Evo chama de traidores renovadoras, é justamente a que ocupa os cargos no governo, incluindo essas comissões. Evo também criticou a sua aliança com a direita: “os chamados traidores renovadores não só se aliaram com a direita para aprovar a lei do censo. Eles se submeteram a ordem de Tuto Quiroga, que instruiu o Comitê Pró Santa Cruz (separatistas de extrema-direita) que ‘lei mata decreto’. Assim, acabaram com a autoridade do decreto e da palavra do irmão presidente Luis Arce.”

E ele continua: “receberam o voto para fazer a justiça pelos massacres do governo, contudo aprovaram a lei dos golpistas, Tuto, Mesa e Camacho.” e “Esse pacto abre as portas para o retorno da ‘mega coalizão’ da democracia pactuada e neoliberal que existia com três objetivos: impunidade para violações de direitos humanos, retorno à política neoliberal e repartição de cargos. Agora vemos que isso se repete.” Ao que tudo indica o quadro político boliviano é grave, a articulação golpista está bem avançada.

As preocupações de Evo Morales escancaram a investida golpista na Bolívia. A indicação de membros da direita para a presidência pode ter sido um erro fatal para os trabalhadores bolivianos. A disputa segue entre o povo, liderado por Evo, e os golpistas, capachos do imperialismo. Ainda há muita chão a percorrer até as eleições de 2025 mas o possível golpe interno do MAS contra Evo enfraquece a luta contra o golpe de Estado na Bolívia. Fica claro também que não basta eleger a esquerda para derrotar os golpistas, é preciso impor a derrota por meio da mobilização.

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