O Afeganistão vem enfrentando uma das crises humanitárias mais graves do mundo, um movimento de da paz nos EUA, esse que corretamente culpa o governo do próprio país pela crise humanitária no Afeganistão, usou o dia dos namorados dos EUA para exigir que o governo Biden devolva os 9 milhões de dólares, em ativos apreendidos, ao país árabe.
Com o lema “Love Afghanistan”, atos foram feitos durante o final de semana até segunda feira (14) pelas organizações “Peace Action, World e Beyond War”, esses atos pedem o imediato desbloqueio dos ativos afegãos por parte dos EUA.
No Afeganistão também existem atos contra o bloqueio.
Os manifestantes dizem que o dinheiro pertence ao povo afegão, ressaltando que são eles que devem ser indenizados pelos EUA pelos 20 anos de ocupação, que trouxe terror, destruição, pobreza e a morte de um número absurdo de civis.
Os manifestantes também se reuniram do lado de fora da mesquita Eid Gah, em Cabul, fazendo exigências semelhantes de reparações dos EUA.
O líder civil Abdul Rahman deixou esta mensagem para o governo dos EUA: “e o povo afegão, que se sacrificou e milhares de vidas perdidas?”’
Manifestantes afegãos também apontaram que nenhum dos sequestradores que participaram dos ataques de 11 de setembro eram cidadãos afegãos e dizem que nunca esquecerão a destruição deixada pelos Estados Unidos.
Grupos de ajuda humanitária condenaram a medida dizendo que o dinheiro pertence legalmente ao povo afegão e que ninguém mais tem direito a ele.
Em entrevista coletiva em Cabul, o ex-presidente afegão Hamid Karzai criticou a decisão de Biden. Ele pediu a Washington que devolva imediatamente os US$ 9 bilhões em ativos congelados que, segundo ele, “não pertencem a nenhum governo, mas sim ao povo do Afeganistão”.
O porta-voz sênior do Talibã, Mohammad Naeem Wardak, escreveu nas redes sociais que “o roubo e apreensão de dinheiro devido pelos Estados Unidos ao povo afegão representam o nível mais baixo de decadência humana e moral de um país e uma nação”.
O representante permanente do Paquistão nas Nações Unidas, Munir Akram, diz que o dinheiro era “criticamente necessário” para reviver a economia do país devastado pela guerra. Akram diz que “nos unimos consistentemente aos apelos da comunidade internacional, bem como dos altos funcionários da ONU e dos atores humanitários internacionais para descongelar as reservas do Afeganistão”.
Os críticos também denunciaram a Casa Branca por fazer tão pouco para lidar com os fatores que impulsionam a enorme crise humanitária do Afeganistão após 20 anos de ocupação americana.
Um conselheiro financeiro do ex-governo afegão, Torek Farhadi, questionou a decisão da Casa Branca dizendo que “essas reservas pertencem ao povo do Afeganistão, não ao Talibã… A decisão de Biden é unilateral e não corresponde ao direito internacional”.
Farhadi também diz que “nenhum outro país na Terra toma tais decisões de confisco sobre as reservas de outro país”.
O analista de políticas afegão, Mohsin Amin, denunciou fortemente a ação americana, escrevendo nas redes sociais que “os EUA lançaram 85.000 bombas no Afeganistão. Mesmo que uma bomba mate três pessoas, são 255 mil. O último ataque aéreo dos EUA matou 10 pessoas sendo 7 crianças”, “97 por cento do Afeganistão está morrendo de fome, 3,2 milhões de crianças estão desnutridas, mas os EUA querem estrangular a economia e roubar as economias suadas dos afegãos”.
Adam Weinstein, pesquisador do Quincy Institute, também acrescentou ao coro de condenação nas redes dizendo que “a medida entrará para a história como uma farsa. Punir um povo inteiro por um crime que não cometeu e prendê-lo à dependência eterna deveria ofender todo americano.”
Quando Cabul voltou para o governo Talibã em agosto de 2021, o Afeganistão tinha mais de US$9 bilhões em reservas mantidas em nome do banco central do país no exterior.
Isso incluiu US$7 bilhões em reservas em moeda estrangeira mantidas nos EUA e o restante principalmente na Alemanha, Emirados Árabes Unidos, Suíça e alguns outros países.
O governo Biden decidiu liberar US$ 3,5 bilhões do dinheiro do Afeganistão retido nos Estados Unidos para as famílias das vítimas dos ataques de 11 de setembro de 2001 e também concordou em alocar os outros US$ 3,5 bilhões para um fundo fiduciário que será usado para enviar assistência humanitária a Afeganistão.
No entanto, um alto funcionário do governo dos EUA disse a repórteres que levará muito tempo até que o dinheiro seja liberado para ajuda humanitária no Afeganistão, alegando que “temos que passar por um processo judicial aqui, levará pelo menos alguns meses. Antes de podermos movimentar esse dinheiro, certo? Portanto, esse dinheiro não estará disponível nos próximos meses, independentemente“.
As observações surgem no momento em que a desnutrição aguda está aumentando e mais de 90% do país enfrenta grave insegurança alimentar, problemas que afetam desproporcionalmente mulheres e meninas, enquanto as crianças afegãs morrem de fome quase todos os dias.
O grupo de direitos humanos, Human Rights Watch, destaca que mesmo que os EUA doem o dinheiro restante para “um fundo fiduciário humanitário, as atuais restrições ao setor bancário do Afeganistão tornam praticamente impossível enviar ou gastar o dinheiro dentro do país”.
Eles acrescentaram que mais importante para enfrentar a atual crise do Afeganistão “são os esforços contínuos das Nações Unidas e organizações humanitárias para convencer os EUA e o Banco Mundial a aliviar as restrições econômicas para permitir que a economia do Afeganistão, que está quase em colapso total, se estabilize. As atuais restrições ao sistema bancário do Afeganistão estão levando a população à fome”.
Em várias ocasiões, organizações humanitárias alertaram que manter um bloqueio econômico ao país só pioraria as coisas.
Organizações e grupos que estão tentando oferecer assistência precisam de acesso a bancos.
A Human Rights Watch diz que “sem eles, as próprias atividades humanitárias da ONU tornaram-se extremamente difíceis, alguns tiveram que cessar completamente as operações”.
O grupo de ajuda Refugees International também divulgou um comunicado dizendo estar preocupado que a decisão do governo de Biden possa exacerbar o sofrimento do povo afegão, já que 98% da população do Afeganistão está desnutrida e 9 milhões de pessoas “à beira da fome”.
A organização disse que “milhões já estão enfrentando uma crise humanitária terrível e com risco de vida neste inverno. Usar parte das reservas do Afeganistão para ajudar a fornecer ajuda e serviços essenciais é extremamente necessário, sem dúvida ajudará a salvar vidas”.
Essa sanção americana só mostra quem é o verdadeiro algoz do povo afegão, são eles mesmos e não os Talibãs, afinal o governo talibã está tentando devolver o país aos afegãos, país esse que os foi roubado por 20 anos.