Visto que a mais importante festa popular do país está na mira da proibição estatal, na última sexta-feira (4), a Prefeitura do Rio de Janeiro anunciou a benfeitoria de R$500,00 em auxílio para uma parcela de ambulantes que trabalharam de maneira cadastrada durante o Carnaval de 2020.
Medida, valerá a partir da próxima quarta-feira (9/2), segundo a prefeitura, os interessados poderão buscar saber por meio do CPF se terão direito ao benefício acessando o sítio carioca.rio. Por meio do endereço eletrônico, os aptos poderão fazer um cadastro até o dia 17 de fevereiro para receberem a quantia no próximo dia 18.
Este mais novo paliativo de Eduardo Paes visa acobertar a proibição das festas de rua no Rio, com desfiles dos blocos de rua cancelados desde o dia 4 de janeiro devido ao Covid-19, e os desfiles das escolas de samba que estão ameaçados. A medida também tenta permear um demagógico caráter de cuidado à um número da população que não chega nem aos pés do número de desempregados e informais na cidade.
Segundo levantamentos do IBGE e do PNAD, o estado do Rio segue com os maiores índices de desemprego do Brasil, cerca de 16% da população; taxa de informalidade batendo 40%; salários fluminenses caindo quase 12% e inflação acima dos 10%. Um panorama catastrófico de mais de 12 milhões de trabalhadores desempregados no estado, e mais 2,4 milhões de trabalhadores informais e que, para a capital, Paes destinará uma parcela única de 500 reais para cerca de 9 mil ambulantes segundo a Riotur.
Nada como a mágica demagogia para abafar o escárnio do investimento quase nulo da prefeitura no combate à pandemia e a liberação geral para as festas de fim de ano particulares – que permanece, e que resultou em mais um pico de 100 mortos diários na capital pela nova cepa Ômicron do Covid-19. Não bastando o morticínio – planejado ou não – se tornou o principal argumento para o fim do carnaval carioca e brasileiro, o qual vale lembrar, foi palco dos milhões de gritos pelo fora Bolsonaro e que no estágio atual da crise pode levar a uma radicalização contra os golpistas nos governos.
Obviamente que, como toda calúnia se apoia em algo concreto, há risco de contágio do Covid-19 no carnaval, mas é algo ínfimo se comparado às festas privadas em espaços fechados e plenamente autorizados pelas prefeituras, governos dos estados e federal, visto que são frequentados pela burguesia e pequena burguesia, e ainda mais aos transportes públicos lotados em que os trabalhadores tem de usar diariamente. O carnaval que é popular, aberto, público, classista, e vai quem quer, é atacado, assim como o povo acusado pelos casos do vírus.
Neste sentido, para o povo que trabalha de segunda a segunda, come o pão que o diabo amassou, sem dinheiro para nem ao menos uma vez no ano festejar em seu próprio espaço – público e aberto, está autorizado a expressar suas ideias e descontrair com seus iguais. Aos que mal emprego possuem, está proibido se sustentar com a venda de produtos em sua própria festa, já que os informais de 2020 já não são nem menos, nem os mesmos.
Está claro: é a ditadura da burguesia, em que a concentração dos trabalhadores em ônibus, metrô e espaços enclausurados pode, assinado e carimbado, mas a concentração de ideias, para os trabalhadores, não. É preciso colocar, e somente pela luta, que as festas populares além de um direito, pertencem ao povo, e só ao povo cabe a escolha de realizar ou não o Carnaval.