Atuando no Brasil há 4 anos, o 30% Club (movimento global que advoga por mais diversidade nos conselhos) está em campanha para convencer as empresas listadas (cerca de 40 casas de investimentos comprometidas com a “causa”) a ampliar a diversidade nos conselhos a partir de abril, quando muitas empresas terão eleições para renovar seus quadros. O Brasil está bem atrás de países desenvolvidos e até mesmo de vizinhos na América Latina em número de mulheres em vagas de Conselho de Administração. Mas não é por falta de profissionais qualificadas. Pelas contas do 30% Club, seriam necessárias 130 mulheres para o país sair da marca atual de 16,1% de vagas ocupadas por mulheres para o ideal mínimo de 30%.
Na falta de mulheres qualificadas, instituições entram em campo para promover esses currículos. Dentre as instituições que são referência para formação de conselheiras, existe a fundação Women Corporate Directors, que possui um banco de dados com nomes de 200 potenciais conselheiras, o próprio IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), que já certificou mais de 200 conselheiras, e escolas como Saint Paul, que está formando a oitava turma. Há ainda o Programa de Diversidade em Conselhos, apoiado pela B3 e pela consultoria Spencer Stuart, que já ofereceu mentoria para mais de 100 mulheres, e o Conselheira 101, um movimento de mulheres negras com formação para atuarem em conselhos e que conta com um banco de dados com 40 nomes.
A diretora de investimento da Aberdeen (maior gestora de recursos do Reino Unido e que aderiu ao clube dos 30%), afirma que as questões ESG (ambiente, social e de governança) estão incorporadas às análises de investimento e este tema sempre é levado para as conversas com as empresas do portfólio. O 30% Club já enviou cartas com o pleito da diversidade para pouco mais da metade das empresas que compõem o índice IBrX 100, que reúne as 100 empresas de maior liquidez na Bolsa. Este é o quarto ano que a gente vem sensibilizando os conselhos e é possível perceber uma maior abertura. Ainda estamos distantes da média mundial, de 25% a 30% de mulheres (hoje são 16%), e dá pra avançar bem mais – afirma Olivia Ferreira, co-chair do capítulo brasileiro do 30% Club.
O número de 30%, ou 3 mulheres considerando uma média de 9 a 10 conselheiros por empresa, é tido como o mínimo para quebrar o chamado pensamento de grupo, que é quando se tem um grupo muito homogêneo em termos de formação e pensamento. Olívia conclui que é preciso um elemento de diversidade para romper com isso e amplificar as vozes dentro do conselho.
Podemos observar como tudo isso, desde a obsessão em se “colocar” mulheres em posição de conselheiras, como a necessidade de formá-las para isso não passa de uma grande farsa! Enquanto uma pequena parcela das mulheres da classe média ocupam posição de destaque, ou seja, se “empoderam”, a esmagadora maioria delas são oprimidas e atacadas, todos os dias, por seus patrões (ou patroas), maridos, pais e constantemente condenadas pelos vizinhos e por uma sociedade sob o domínio de um regime político que a massacra e subjuga, permanentemente. “Florear”, dando lugares de destaque a uma ou outra mulher, não altera em nada a condição de centenas de milhares delas.