Na noite desta quinta feira, dia 1º de Setembro, houve uma tentativa de assassinato contra a ex-presidente e atual vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, onde um brasileiro de extrema direita tentou dois disparos de pistola contra a sua cabeça. O fato gerou enorme comoção na Argentina e forte repercussão na política brasileira, com declarações inclusive de diversas figuras da direita brasileira. Mais importante, porém, o fato teve um impacto político na esquerda brasileira, e a imprensa nacional está procurando manipular isso em seu favor.
Desde o início da campanha eleitoral, Lula vem fazendo uma campanha, no mínimo, difícil de engolir, declarando apoio e dando espaço a elementos profundamente direitistas e criminosos, pessoas que participaram do golpe de Estado de 2016, como é o caso de Geraldo Alckmin, que foi colocado de vice na chapa de Lula, e foi de longe uma das coisas mais difíceis de aceitar para quem quer por que quer votar em Lula em 2022.
Essa inclusão de direitistas veio acompanhada de uma direitização do discurso lulista, fazendo muitas concessões a essa direita e se alinhando a um discurso despolitizado e de quem esqueceu totalmente a luta política brutal que tem se travado no Brasil nos últimos anos entre a burguesia e o povo, não entre a barbárie e a civilização, como tem colocado frequentemente o setor político da terceira via, de maneira cínica, para criar um clima eleitoral “anti-Bolsonaro” e de “batalha pela democracia”, fato que só despolitiza mais a eleição e cria espaço para essa direita golpista.
Essa linha política direitista vem acompanhada de um desânimo geral do público com a campanha do PT e um tratamento igualmente desanimador da organização da campanha com o público apoiador. As atividades públicas de rua são cada vez menos frequentes. Quando ocorrem, não são abertas, e as que são abertas são altamente controladas, com revistas na entrada e mais segurança do que gente nas atividades. A loucura foi tão longe que chegamos a ver um comício de Lula com franco atiradores.
Essa histeria de segurança está indo muito longe e nos bastidores é sempre ventilada a hipótese de que, durante a campanha, Lula pode sofrer algum tipo de atentado, e que para isso, a segurança é essencial, ideia que é falsa e que o atentado contra Kirchner serve como exemplo do erro dessa concepção. Kirchner estava cercada de pessoas, seguranças e pela polícia argentina. Em suma, estava fortemente protegida e, mesmo assim, só não está morta hoje por sorte, pois toda essa segurança não serviu em nada para impedir o atentado. O mesmo vale para Lula: não adianta fortificar a segurança e afastar o povo. Enquanto Lula for Lula ele estará em perigo. Mas isso faz parte da política, e afastar as pessoas não é uma opção. A imprensa capitalista tem dado corda na ideia de que o atentado contra Kirchner foi uma mera falha na segurança, mas o fato é que esse tipo de coisa é uma realidade da política, e não tem segurança privada no mundo que possa evitar que algo desse tipo aconteça. A única proteção real contra esse tipo de coisa é o povo na rua.