Nesta segunda-feira (18), o YouTube, plataforma de vídeos online da Google, removeu uma transmissão ao vivo de Bolsonaro do dia 29 de julho de 2021 de seu site. A alegação dada pela empresa foi de que o vídeo continha notícias falsas acerca das urnas eletrônicas no Brasil.
“Desde março de 2022, removemos conteúdo com alegações falsas de que as urnas eletrônicas brasileiras foram hackeadas na eleição presidencial de 2018 e de que os votos foram adulterados. Esse é um dos exemplos do que não permitimos de acordo com nossa política contra desinformação em eleições”, disse a plataforma.
A remoção se deu ao mesmo tempo em que Bolsonaro se reunia no Palácio da Alvorada com uma série de embaixadores para realizar uma apresentação acerca das urnas eletrônicas.
Um caso claro de censura
Independente do alvo, temos aqui ainda mais um caso de censura. Afinal de contas, Bolsonaro expôs uma opinião e, por isso, teve seu vídeo removido por um dos maiores monopólios da comunicação dos dias de hoje.
Ao mesmo tempo, tratando-se justamente do Presidente da República do Brasil – mesmo que ele seja um golpista -, o caso em questão se mostra ainda mais grave. Qual a diferença, por exemplo, entre a derrubada de seu vídeo na plataforma e um agente policial retirando-o do palanque enquanto discursa contra as urnas eletrônicas? Decerto que se trata de um caso limite, mas o princípio é o mesmo.
Afinal, em outras palavras, o discurso de Bolsonaro foi censurado simplesmente por ir contra a política do imperialismo em relação às eleições brasileiras, que é justamente a de apoiar incondicionalmente o sistema eletrônico de votação.
Pau que bate em Chico…
Neste ponto, é preciso voltar, mais uma vez, a uma análise do funcionamento da política dentro do capitalismo.
Marx, Trotsky e Rosa Luxemburgo já nos explicaram que, dentro do Estado burguês, toda e qualquer medida que vai no sentido de cercear os direitos democráticos de determinada figura sempre acaba se voltando contra os trabalhadores e, mais especificamente, contra as suas organizações de vanguarda.
O caso do Partido da Causa Operária mostra claramente como isso funciona: primeiro, o STF foi atrás dos bolsonaristas sob o pretexto de “manter a democracia”; depois, atacou furiosamente o PCO ao retirar todas as suas redes sociais do ar.
Ou seja, criou-se um precedente que, por princípio, abre a possibilidade para todo tipo de malabarismo jurídico. Ademais, os tribunais, parte do estado burguês, são inteiramente controlados pela burguesia. Consequentemente, esta interpretará a legislação conforme seus próprios interesses. As decisões do STF apenas colocam lenha na fogueira no sentido de que legitimam pareceres de instâncias inferiores.
Por isso, é preciso defender a liberdade de expressão de maneira incondicional, mesmo que seja para os piores inimigos dos trabalhadores, mesmo que seja para Bolsonaro e todos os golpistas que o acompanham.
No final, Bolsonaro pode se defender imediatamente de qualquer ataque contra ele. Já o brasileiro comum não. Antes, está à mercê do Estado que, por definição, serve para massacrar o povo.
Combustível para a terceira via
Acima de qualquer coisa, é preciso entender que a censura a Bolsonaro não é uma ação movida em nome da democracia por parte do YouTube – apesar de esta ser a alegação da plataforma. É, antes de qualquer coisa, um ataque político que visa enfraquecer o bolsonarismo no País. Dando, então, espaço para a chamada 3ª Via.
Afinal, a burguesia não possui nenhum interesse em qualquer tipo de democratização. É, na realidade, uma advogada da censura e da perseguição. No fim, é a mesma cruzada que o STF tem feito contra o bolsonarismo: Xandão não persegue figuras como Daniel Silveira por defender a “democracia”, mas sim para impulsionar a Terceira Via.
Em suma, toda a propaganda política da Terceira Via tem se resumido em constatações como essa. Querem forjar a luta contra os extremismo, atacando, à direita, Bolsonaro, e, à esquerda, Lula. Querem se constituir – e a imprensa burguesa é uma das principais responsáveis por essa fabricação – como um centro democrático que, acima de tudo, defende a “democracia” brasileira contra o radicalismo. Uma bravata completamente farsesca.
No Brasil, Tebet; nos EUA, Biden
Toda essa constatação se mostra ainda mais correta quando levamos em consideração o que vem ocorrendo no resto do mundo. Pois o que está aqui dentro, na esmagadora maioria dos casos, vem lá de fora.
As eleições presidenciais americanas de 2020 foram marcadas por uma série de escândalos que colocaram todo o pleito sob suspeita. Um desses grandes acontecimentos foi, justamente, o banimento de Donald Trump, presidente à época e candidato pelo Partido Republicano, da rede social Twitter. A alegação da plataforma foi, assim como no Brasil, um zelo pelo devido processo eleitoral nos Estados Unidos. Processo esse que Trump criticava constantemente.
No fim, ao que tudo indica, Trump estava correto em sua avaliação: estava ocorrendo um golpe nas eleições em prol de Biden.
A base de Trump era muito mais consistente, constituindo-se, em grande medida, pela classe operária americana, que foi completamente abandonada pela esquerda. Ao mesmo tempo, as chamadas prévias corroboravam esta constatação, colocando Trump muito acima de seus opositores dentro dos Republicanos. Em geral, a coisa estava definida para o seu lado, principalmente depois que Bernie Sanders sofreu um golpe dentro do Partido Democrata retirando-o da corrida.
Além desse quadro prévio, o próprio processo eleitoral foi extremamente duvidoso. Jornalistas de todo o mundo iniciaram uma sólida campanha de censura contra Trump. Ademais, os votos demoraram dias para serem contabilizados. E o resultado: uma eleição extremamente acirrada.
Acima destes detalhes, Biden era o candidato do imperialismo. Trump, apesar de representante da burguesia, está em uma instância muito inferior do que figuras como Biden e Obama. Nesse sentido, o imperialismo precisava de um representante venal de sua política, e ninguém melhor do que Biden para tal.
No Brasil, o cenário é praticamente idêntico por esse ângulo. Bolsonaro está ligado à burguesia mais distante do imperialismo, da especulação financeira. Enquanto isso, Tebet é uma fiel representante dos capitalistas brasileiros intrinsecamente ligados à política imperialista.
Estaria, então, a situação nacional se desenhando da mesma maneira que a internacional? Ao que tudo indica, o imperialismo aplicará mais um golpe contra Bolsonaro e, mais importante, contra Lula. Impondo a sua vontade: a Terceira Via.