Depois de oito anos na presidência hondurenha, Juan Ortega Hernández, preso nesta terça-feira (08) em Honduras, está correndo o risco de ser extraditado para os Estados Unidos sob a acusação de tráfico de drogas. O pedido estadunidense foi solicitado à Suprema Corte de Honduras nesta segunda de acordo com as informações do jornal The New York Times e a Agência de Notícias France-Presse.
Anteriormente, o Ministério das Relações Exteriores hondurenho havia divulgado em sua conta no Twitter que enviou um comunicado oficial da chancelaria americana à maior instância jurídica do país.
Neste comunicado foi solicitada de modo formal a prisão provisória de “um político hondurenho” com o propósito de extradição para os EUA. Em março do ano passado, Hernández foi acusado por promotores do Estado de Nova Iorque de envolvimento com o tráfico de drogas. O próprio irmão, ex-deputado Tony Hernández, está cumprindo uma pena de prisão perpétua pelo mesmo crime em uma cadeia de segurança máxima na Califórnia.
Uma enorme reviravolta na carreira deste político burguês que foi presidente do Congresso no período de 2010 a 2013 depois de ter participado do golpe de estado que derrubou o presidente Manuel Zelaya em 2009. Em novembro é eleito presidente pelo partido Nacional de Honduras, de orientação neoliberal conservadora.
Para conseguir esta vitória, contou com o apoio significativo das organizações evangélicas conservadoras e da famigerada organização católica Opus Dei. Seu suporte se materializou em medidas como a oração obrigatória no início nas escolas e em certas instituições tais como a polícia e o exército. Em março de 2012 foi aprovada uma alteração na constituição que proíbe o casamento de pessoas do mesmo sexo.
Contudo não foi só isto. Para se manter no governo depois do golpe de Estado, utilizou de milícias para conter a revolta da população e isso resultou no aumento da violência, tanto que começou a se organizar as caravanas de imigrantes a pé para os Estados Unidos principalmente durante o segundo mandato. Em janeiro de 2017 foi denunciado que este era o país mais perigoso para ativistas visto que 123 deles tinham sido mortos desde de 2010 com destaque para o assassinato da indígena e ambientalista Berta Cáceres em março de 2016.
Todo o autoritarismo de Hernández se revelou durante as eleições de 2017 que garantiam a sua reeleição. Pois para impedir as manifestações da oposição que denunciavam as fraudes eleitorais apontadas inclusive por observadores internacionais, ele decretou um estado de emergência quando pelo menos 30 pessoas foram mortas e mais 300 pessoas foram presas.
Cabe dizer que foi a proposta de ser possível a reeleição presidencial que teria motivado o golpe de 2009 contra Zelaya. Hernández conseguiu esta alteração mudando a composição da Suprema Corte e do Tribunal Eleitoral e colocando elementos que apoiaram o golpe.
Nesta época as forças de segurança hondurenhas eram treinadas por unidades norte-americanas para o suposto combate ao tráfico de drogas reprimiam as manifestações como denunciou reportagem de Lee Fang e Danieller Mercy do site The Intercept.
Hernández está sendo alvo de uma tática antiga do Imperialismo. Um antigo ditador do Panamá, Manuel Noriega, capturado depois de uma invasão estadunidense determinada pelo Ronald Reagan foi condenado pelos crimes de tráfico de drogas, extorsão e lavagem de dinheiro. Outro exemplo clássico são as acusações de tráfico de drogas contra Maduro na Venezuela. Finalmente, é um mecanismo que possibilita a presença de bases e pessoal estadunidenses em países como Peru, Colômbia e Bolívia sob o pretexto da luta contra as drogas.
Por fim um esclarecimento: a necessidade do pedido a Suprema Corte ocorre em razão de que atualmente o ditador tomou posse como deputada do Parlamento Centro-Americano, o que lhe confere direito a imunidade e à audiência preliminar. Por ironia da história, quando Hernández era presidente do Congresso Nacional em janeiro de 2012, foi aprovada a extradição dos hondurenhos para um país estrangeiro acusados de terrorismo, tráfico de drogas e crime organizado, tanto que 22 cidadãos já foram extraditados desde 2014.