O ex-apresentador do maior podcast do Brasil, Monark, apelido de Bruno Aiub, sofreu um fulminante e brutal processo de “cancelamento”. Em um episódio ocorrido na segunda feira (7), ele afirmou um partido nazista no Brasil deveria ter o direito de existir visto que existe também partidos de extrema-esquerda. A sua posição converge com a posição tradicional do marxismo de defesa da liberdade de expressão irrestrita e de organização para todas as tendências políticas, inclusive aquelas inimigas da classe operária. Toda a direita atacou o apresentador, inclusive seus patrocinadores o que levou a seu desligamento do podcast, mas o mais impressionante foi o apoio quase que total da esquerda ao “cancelamento”, uma vergonhosa capitulação à política do identitarismo.
Primeiramente é preciso esclarecer a situação devido à quantidade de notícias falsas que circula, inclusive vindo da própria esquerda. A principal delas é que Monark é um nazista ou que defende o nazismo. A realidade é que ele possui uma ideologia de direita, exaltando bilionários como Elon Musk por exemplo, mas também uma política de defesa dos direitos democráticos, ou seja, uma política mais tradicional do liberalismo, que foi abandonada por toda os políticos propriamente da direita. Este é outro ponto importante, o apresentador é atacado intensamente apesar de não ser uma figura política, algo que não é feito com Tabata Amaral por exemplo, que ativamente participou de todos os piores ataques aos trabalhadores nos últimos 3 anos.
Monark, mesmo não sendo um nazista, defendeu a liberdade da extrema-direita de se organizar em um partido. Um posição um pouco controversa mas nada fora do comum. Ele não defendeu, por exemplo nenhuma política do nazismo em si, como a censura, a perseguição à esquerda e a minorias étnicas, a destruição dos sindicatos etc. Mesmo assim sua declaração foi tomada como um absurdo fora do comum em uma histeria típica da ideologia identitária. Como dito acima, ele foi transformado em nazista por diversos jornais da direita e da esquerda.
Portanto, se levantam duas questões, uma é se a posição afirmada por Monark está certa ou não, e a outra é se é correto “cancelar” alguém que é considerado um nazista. A primeira é simples de responder: todos os marxistas desde o próprio Marx sempre foram defensores da liberdade de organização e de expressão. O programa do Partido Bolchevique, escrito por Lenin, defendia a “Liberdade ilimitada de consciência, palavra, imprensa, reunião, greve e associação”. Já Trótski, em um debate sobre a criminalização do nazismo na década de 1930, quando Hitler estava no poder, afirmou que: “No regime burguês toda a supressão de direitos políticos e liberdade, não importando contra quem seja dirigida no começo, no final inevitavelmente recairá sobre a classe operária, em particular sobre os seus elementos mais avançados – essa é a lei da história.”
O motivo para essa defesa é que o marxismo analisa a realidade por meio da luta de classes, ou seja, o Estado não é um ente independente que defende a democracia em abstrato ou o “bem”. O Estado é uma ferramenta da burguesia para que essa se mantenha como classe dominante. Sendo assim o aparato de repressão do Estado tem como objetivo principal defender os interesses da burguesia, isso significa que ao se aumentar o poder da repressão ele se voltará necessariamente contra a classe trabalhadora, principal inimigo da burguesia. Os partidos operários sempre compreenderam isso pois a classe operária está sempre sujeita a essa repressão. A pequena burguesia é quem tem dificuldade de entender pois tem a ilusão que tem algum controle sobre o aparato do Estado.
Sendo assim, a afirmação de Monark está correta, é preciso defender os direitos políticos de todas as tendências políticas. Isso também significa que caso o próprio Monark fosse um nazista ele também não deveria ser censurado. Só pelos argumentos, acima fica claro que o Estado não deveria interferir mas no caso do cancelamento de Monark, ele apenas expressou uma opinião. O direito da liberdade de expressão é um dos mais fundamentais direitos de todos, ele é na verdade o direito a liberdade de pensamento. É por isso que todos os marxistas também saíram em sua defesa. Rosa Luxemburgo afirmou que: “Os sociais democratas em nosso próprio país, assim como no mundo, defendem os princípios de que a consciência e as opiniões das pessoas são coisas sagradas e intocáveis”.
O próprio Marx afirmou: “A liberdade de imprensa é uma coisa ótima. Mas há pessoas más, que abusam da fala para contar mentiras, do cérebro para conspirar, das mãos para roubar, dos pés para desertar. Fala e pensamento, mãos e pés seriam coisas boas se não houvesse pessoas más para usá-los de forma errada! Nenhum remédio contra isso foi encontrado ainda”
É uma questão de princípios, cancelar Monark por sua declaração vai contra tudo que a esquerda defendeu desde sua origem. Ao se proibir as pessoas de expressarem o que pensam também se proíbe o debate, que é a única forma real de transformar essas pessoas e a sociedade. Os nazistas não deixam de existir com a proibição do nazismo, na Europa o nazismo é proibido tanto na Alemanha quanto na Ucrânia. No primeiro os neonazistas estão por todos os lados e se organizam em grandes partidos, mas sem se afirmar nazistas. No segundo eles marcham pelas ruas assassinando militantes de esquerda e são a base do governo, que foi imposto pelos EUA no golpe de 2014.
Já dentro dos EUA, por outro lado, o nazismo não é proibido, existe um partido nazista legalizado e ele não cresce. A extrema direita trumpista por outro lado ganha cada vez mais força, medidas repressivas foram tomadas como por exemplo a censura de Trump nas redes sociais, isso não impediu que ele ganhasse ainda mais popularidade. O fenômeno social do crescimento da extrema direita não se combate por meio do Estado burguês, em todos os momentos que o fascismo subiu ao poder foi com a conivência desse Estado.
No caso brasileiro por exemplo, os defensores da censura a Monark, Tabata Amaral, Alexandre de Moraes, o STF e o TSE, a Globo, a Folha de S.Paulo etc. todos em 2018 apoiaram um fascista real, e não um apresentador de podcast, para a presidência. A ilegalidade do nazismo não só se voltará inevitavelmente contra a esquerda quanto ela não impede em nada o crescimento do nazismo. Apenas a luta política dos trabalhadores pode esmagar o fascismo. Apenas a classe operária organizada em sindicatos, partidos, comitês de luta, comitês de auto defesa e em todas as suas organizações unidas em uma frente, sem a presença da direita, tem a capacidade de derrotar tanto o fascismo como seu irmão menos mal visto, a “democracia” ao estilo de Doria e Joe Biden.





