Na última semana, Julimar Ribeiro, presidente da Contracs-CUT se juntou às dezenas de articulistas da chamada “imprensa progressista” em uma campanha contra um suposto “terrorismo” praticado por manifestantes bolsonaristas. Em seu artigo publicado pelo portal Brasil 247, intitulado “Em terra de democracia, terrorismo não pode ter vez”, Ribeiro defende duras punições para as pessoas que teriam sido responsáveis pela sequência de pequenas manifestações que se deram em Brasília após a prisão do índio José Acácio Serene Xavante.
A própria ideia de que esses manifestantes precisam ser presos já demonstra uma grande deturpação nos princípios da esquerda. As pessoas que teriam ateado fogo em um ônibus, invadido uma delegacia e protagonizado episódios de “vandalismo” estavam protestando contra uma prisão que consideravam injusta – algo que sempre foi tradição da esquerda e que é absolutamente legítimo. No final das contas, Julimar Ribeiro só defende a repressão porque não concorda com a ideologia dos manifestantes, o que é absurdo. O direito à manifestação, bem como a liberdade de expressão, deve ser concedido independentemente das ideias da pessoa em questão; do contrário, não é um direito. Do contrário, abre o caminho para uma ditadura contra a população, pois estabelece critérios para determinar quem “pode” ou não se manifestar.
É preciso ainda levar em conta que, embora, no geral, os manifestantes tenham uma ideologia reacionária, por apoiarem o presidente ilegítimo Jair Bolsonaro, o protesto se dá em meio a uma grande arbitrariedade. Aquilo que apareceu como uma pequena revolta localizada poderia muito bem aparecer como um grande revolta, com a adesão de setores populares, uma vez que um juiz chamado Alexandre de Moraes decidiu, no último período, passar por cima dos direitos de uma quantidade enorme de pessoas, mandando para a cadeia, bloqueando as contas bancárias, suspendendo seus perfis na internet, impondo multas astronômicas etc. Uma das maiores vítimas dos abusos de Alexandre de Moraes é o PCO, que nada tem a ver com o bolsonarismo.
Outro aspecto bastante problemático do artigo é que, para defender a posição de que é preciso punir os bolsonaristas por serem bolsonaristas, Ribeiro se lança na crítica aos métodos dos manifestantes. Diz ele:
“Desde que Lula derrotou Bolsonaro nas urnas, bolsonaristas, com anseios golpistas, têm tocado o terror Brasil afora. BRs interditadas, interrupção do direito de ir e vir e toda sorte de manifestações terroristas e golpistas. Ironicamente, os protestos pedem a intervenção militar, que justamente, cerceia manifestações de qualquer natureza”,
O caso nada tem de “terrorismo”. O terrorismo é uma política de um grupo que procura utilizar o terror para intimidar os seus adversários. A manifestação não tinha esse objetivo – ao contrário das arbitrariedades de Moraes, que claramente procuram intimidar todos aqueles que não estejam de acordo com seus interesses, Pôr fogo em um ônibus é uma forma de protesto, não de espalhar o terror.
Chama ainda mais atenção o problema da defesa do “direito de ir e vir”. O tal direito é uma garantia contra qualquer tentativa do Estado de impedir alguém de ingressar, sair, permanecer e se locomover no território brasileiro. A obstrução de rodovias nada tem a ver com isso. Primeiro, não é uma atitude do Estado, mas um método de luta, uma forma de chamar a atenção para um protesto. Segundo, seu objetivo não é impedir a locomoção de alguém pelo território nacional – o bloqueio se dá em uma rodovia, e não em todo o país.
O problema é que todos esses métodos criticados pelo presidente da Contracs-CUT são comumente utilizados pela esquerda. Ao criticá-los e ainda pedir punição, Julimar Ribeiro está estimulando a direita a reprimir duramente a esquerda quando essa se levantar contra uma grande injustiça