O Partido da Causa Operária (PCO) e seus dirigentes vêm sendo acusados de corrupção desde que o partido denunciou que Guilherme Boulos trabalha com a direita golpista em uma instituição financiada por organizações de fachada da CIA. Juntamente com o esforço de desqualificar a denúncia por meio da tentativa de desmoralização dos denunciantes, é essa a “explicação” dada pelo envolvido e seus defensores.
Essa história ainda não acabou. Vou falar aqui de um aspecto curioso dela, a forma com que tentam provar o que dizem do PCO A ela poderíamos chamar “printologia”, a ciência de usar o fac-simile de uma conversa tirada de contexto para incriminar um dirigente do partido.
Especialidade do DCM
Entrou na roda um Fernando Miller, com um título escandaloso, eu diria até picante: “‘A gente estaria preso’: ‘dirigente’ do PCO invade meu WhasApp e some”. (sic), publicado no Diário do Centro do Mundo.
É o caça-cliques ideal na campanha contra o partido. De uma vez, dá a entender que um dirigente do PCO estaria confessando um crime e ao mesmo tempo praticando outro ilícito (invadir o celular do autor). Uma análise séria, no entanto, mostra que, além de caça-cliques, a matéria é somente um achaque. Vejamos:
A “invasão”
Miller acusa o companheiro Henrique Áreas, dirigente (sem aspas) do PCO de ter… enviado uma mensagem de WhatsApp. Sim, é essa a “invasão”, nada mais (a não ser que eu tenha perdido alguma coisa). Ele transcreve a conversa e adiciona os “prints” de seu celular e… só!
Qual o conteúdo da conversa? Ora, nada além do que se esperaria de um membro da direção do partido que conhece a pessoa que está assinando um artigo recheado de insinuações e ilações contra o partido. O artigo em questão diz: “Espécie de Queiroz, advogado do PCO tem negócios com os filhos do dono do partido”.
“Por que não veio nos procurar, ou me procurar pra esclarecer e ouvir a nossa posição? Até onde sei nunca tive problema com você”, disse Áreas. Esse é o motivo da “invasão”: perguntar o porquê da acusação de que o advogado do PCO é “uma espécie de Queiroz”.
Estão fazendo a mesma campanha que a direita contra o PT, usando os termos em que ela foi feita contra Bolsonaro.
A resposta de Miller? Um faniquito. Segundo ele, “nota-se uma leve tentativa de intimidação” no questionamento feito por Áreas. Sério? É sério isso? O cara que disse que um advogado do partido é “uma espécie de Queiroz” se sentiu intimidado porque um dirigente do partido foi perguntar o porquê? Xilique puro e simples.
“Jornalismo”
Segundo o acusador, não há nada de político em uma denúncia de corrupção contra um partido político… “Esse discurso de ‘campanha da direita’ é falta de argumentos para rebater as informações que estão lá (…) qualquer informação que esteja errada será devidamente corrigida, à bem do rigor jornalístico”.
Ou seja, não é uma política direitista, é “jornalismo”. Assim fizeram a Rede Globo, a revista Veja, os jornais burgueses, toda a imprensa golpista contra Dilma Rousseff, Lula e o PT: “jornalismo”.
Assim reagem os que se alinharam na defesa de Boulos: o PCO é corrupto, seita, a família Pimenta blá blá blá. E fim de papo. A prova? Prints. A política não está em questão. Não se importam em fazer política como faz a direita, desde que se considerem “jornalistas”.
Deixemos os prints e as insinuações de lado por um momento. Valem tanto quanto o documento que “provava” que Lula era o dono do triplex do Guarujá. Servem apenas como acessórios de uma acusação típica da direita: o PCO é corrupto, é “propriedade” de uma pessoa, tem um advogado que é comparável ao Queiroz de Bolsonaro…
A questão é política, sempre foi. Os que caluniam o PCO precisam responder politicamente. Afinal, não é o PCO, mas a estrela do PSOL, que trabalha sob a direção de Sérgio Etchegoyen, o general de confiança de Michel Temer, Leandro Daiello, o ex-diretor da Polícia Federal durante o golpe de 2016 e Raul Jungmann, ex-ministro de Temer e FHC.
Não é o PCO, mas Guilherme Boulos quem trabalha para o Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresas (IREE). E não nos importa tanto quanto ele ganha para fazer o que faz lá, mas quem ganha com isso. A julgar pelo silêncio sobre a questão e a tentativa de fazer escândalo sobre o PCO, o problema é o fio liga Boulos, os financiadores do IREE, a Global Americans, o National Endowment for Democracy (NED) e, finalmente, a CIA. Expliquem isso.
*A opinião dos colunistas não representam, necessariamente, a posição deste Diário