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A serviço do imperialismo

A sabotagem ao Programa Nuclear Brasileiro pela imprensa

O caso do Almirante Othon é representativo de como o imperialismo atua para destruir qualquer iniciativa independente dos países pobres

othon

Esta série de duas reportagens sobre o Programa Nuclear Brasileiro analisará as sabotagens realizados por vassalos do imperialismo: Inteligência dos Estados Unidos; imprensa e Poder Judiciário (a parte mais conhecida e registrada pelos mais diversos órgãos de imprensa: progressistas, nacionalistas e revolucionária, como este Diário e o Jornal Causa Operária).

Nesta primeira parte de uma séria sobre o Programa Nuclear Brasileiro, iniciaremos pela imprensa, que, em tese, deveria ser concessões públicas em defesa do interesse público e nacional, mas não o são. Por isso abordaremos o papel da Rede Globo, principal subsidiária do golpe contra o Programa Nuclear Brasileiro.

A partir de 1 de janeiro de 2003, com o ascenso de Lula da Silva à Presidência da República Federativa do Brasil, após retomada lenta, porém gradual, da soberania nacional, após anos de destruição do aparato científico e industrial promovido pelos governos de Fernando Collor de Mello, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, as Organizações Globo, uma das empresas mais comprometidas com o capital internacional, e com os interesses estrangeiros, publica reportagem no programa de TV, “Fantástico”, veiculado à décadas pela emissora aos domingos, sendo uma das maiores audiências do país.
Em 11 de abril de 2004, o “Fantástico” faria mais uma de suas reportagens com ângulos e recortes para criminalização do Governo Lula e do Almirante Othon Pinheiro, considerado pioneiro do Programa Nuclear Brasileiro. Transcrevemos a reportagem, mas sugerimos que assistam ao vídeo disponível a seguir.

A destrutiva reportagem do “Fantástico”

Que mistério, afinal, se esconde sob o urânio brasileiro (inicia Glória Maria)?

Na sequência, Zeca Camargo, o outro apresentador, complementa: “Nossos repórteres explicam porque o principal jornal da capital Americana reclamou do sigilo que cerca o programa nuclear brasileiro”. 

A reportagem inicia entrevistando o Diretor do Centro Tecnológico da Marinha, o Contra-Almirante Alan Paes Leme Arthou Nascimento. De acordo com o Contra-Almirante:

“Essas câmaras são da Agência Internacional de Energia Atômica e da Agência Brasil- Argentina de Contabilidade e Controle. Essas caixas são onde ficam os gravadores da das fitas. Registrar tudo que entra, sai. Mandar botar grades nas janelas mais altas junto ao teto, mantidas fechadas… Essa porta é lacrada… A Agência Internacional de Energia Atômica lacra para poder garantir que não tenha saído nenhum material por aqui”.

O apresentador Zeca Camargo volta a narração da reportagem:

“Toda essa vigilância é feita nas instalações da Marinha em Iperó, interior de São Paulo, o principal centro de pesquisas nucleares do Brasil. Vamos ver também, que a usina nuclear de Angra dos Reis, funciona atualmente com urânio enriquecido no exterior, mas isso vai passar a ser feito nessa fábrica em Resende, interior do Rio, com tecnologia desenvolvida em Iperó. Daí a preocupação da Agência Internacional de Energia Atômica e do governo americano. Quem faz o combustível pode, em tese, fabricar uma bomba atômica”.

A matéria se desloca para o repórter Fernando Molica, hoje na CNN Brasil, como um dos comentaristas da reacionária TV do imperialismo.

De acordo com Molica:

“Estes tapumes escondem o segredo mais bem guardado do Programa Nuclear Brasileiro. Aqui atrás estão instaladas as ultracentrífugas, máquinas capazes de enriquecer urânio, equipamentos como esses estão sendo instalados em Resende. É este segredo. Os espectadores internacionais querem conhecer que o Governo brasileiro não quer revelar” 

O apresentador Zeca Camargo volta a narração:

“O diretor do centro tecnológico da marinha destaca que a Constituição Brasileira só permite o uso da energia nuclear para atividades pacíficas, e afirma que o controle Internacional inclui inspeções de surpresa, sendo mais do que suficiente”

De acordo com o Contra-Almirante, Diretor do Centro:

“Não há como fraudar esse controle”, afirma Arthou

Zeca Camargo retorna:

“Para ser enriquecido, em estado gasoso, o urânio é colocado em cilindro de como esse (apresentado em filmagem da reportagem)”.

De acordo com Alan Arthou:

“Esse sai nos tubos, vai aquelas outras centrífugas. Quando volta já volta em duas partes, uma enriquecida com a outra. Com o processo controlado pelos fiscais estrangeiros, quando entrou menos um quanto restou naquele lá tem que ser igual a soma desses cilindros aqui”. 

O atual âncora da CNN, que hoje reclama do problema energético do Brasil, à época um repórter de campo, atacando o próprio país, com a reportagem para o “Fantástico” pergunta:

“Os setores internacionais podem conferir isso?”

Arthou responde:

“Tem acesso a isso, têm acesso a esses números também. Eles sabem exatamente quanto que foi processado e que grau de aquecimento está”. 

Zeca Camargo complementa, em tom de empolgação:

“Os fiscais ainda tem esse carrinho espião!”

O repórter Molica pergunta:

“Essa máquina serve para encontrar algum depósito clandestino de urânio”.

A reportagem corta para o Engenheiro Químico “Williams Roberto Baldo”, que responde: “Sim, exatamente, se nós estamos escondendo um cilindro de urânio aí dentro”.

O apresentador Zeca Camargo retoma a narração e afirma: “Para alguns especialistas, como o físico José Goldemberg, essa tecnologia não tem nada de exclusiva, mas o Almirante Alan Arthou discorda. 

“O único país que desenvolveu ultra centrífugas por levitação magnética, consequentemente, diferente das outras centrífugas fomos nós, brasileiros”

Zeca Camargo retoma:

Para o militar, as pressões externas podem esconder interesses comerciais. Tem bastante segredo tecnológico a ser preservado.

Zeca Camargo apresenta o Almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva:

Na reserva desde 1994, o Almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva coordenou o chamado projeto nuclear paralelo, que permitiu ao Brasil dominar a tecnologia nuclear. Dessa entrevista, ele conta segredos do programa, que começou em 1979, ainda no regime militar, e ficou em sigilo durante muitos anos. Conta que seu principal objetivo era a construção de um Submarino nuclear, projeto que continua no centro de Aramar, em Iperó. 

De acordo com o Almirante Othon:

“Como dificilmente conseguiríamos comprar no mercado para entrar no mercado internacional, a fim de produzir combustível para o Submarino nuclear, a única opção que sobrava para a marinha era tentar desenvolver aqui no país, em associação com institutos de pesquisa, todas as etapas de combustível nuclear”.

Com isso, a matéria ganha contornos ainda mais dramáticos para nossa soberania:

Reprodução

De acordo com o Almirante Othon:

“É fundamental que, na fase inicial do projeto até que ele se consolidasse, fosse feito de uma forma discreta”

Zeca Camargo

“Mas, o Almirante faz uma confissão: na Áustria, no início dos anos 80, ele mentiu para conseguir comprar uma liga metálica usada na fabricação da centrífuga”.

Othon

Eu consegui comprar a liga na Áustria. Um pouco que difere naquele aço, é sua aplicação para fabricação de míssil. Mas eu não declarei que ela passando, porque se declarasse, ele não vinha.

Primeiro eu fabriquei na escola nacional da Marinha, e eu tinha um mestre que o apelido dele era Pedro Cachaça. Foi fundamental na solução técnica do problema. Veja, é só um apelido, de algo que ele não é. Não tinha nada disso porque tinha apelido, era um virtuose, um Mestre.

Em 82 começamos a fazer experimentação. Setembro de 82 nós conseguimos a primeira experiência de aquecimento com sucesso.

Zeca Camargo

“Para testar o Almirante Othon mandou recuperar três centrífugas alemães trazidas para o Brasil na década de 50.”

De acordo com Othon:

“Na época, em uma visita do Kennedy, o plenipotenciário embaixador americano, lá na Agência Internacional perguntou se nós estávamos desenvolvendo, eu disse que sim, mostramos para ele todo nosso desenvolvimento, ou seja, aquelas centrífugas antigas, e isso foi tranquilo”.

O repórter e editor da reportagem, Fernando Molica, pivô da crise, intercede e pergunta:

“Os senhores mentiram, enganaram!”

Othon explica o contrário:

“Não mentimos, demos uma verdade parcial.”

Othon continua:

“Houve pedidos de inspeção. Mas os pedidos foram negados. Nós tivemos por 2 vezes, e tinha um chamado entre aspas. Adicto, Scientific, do consulado aqui em São Paulo (Consulado americano), e vivia pedindo consulado americano.” 

Zeca Camargo faz sua narração de cunho golpista:

“Na década de 80, os jornais noticiaram a descoberta de um buraco de 320 m numa base da aeronáutica, na Serra do Cachimbo, no Pará, um buraco compatível para um teste de bomba atômica. O Almirante Othon desconversa”.

Othon

“Uma vez teve uma cientista na USP, eu explicando sobre a marinha. Ela disse: o seu programa está lindo, o senhor explica tudo, mas o que o senhor tem a dizer sobre o buraco de cachimbo? Minha Senhora, a única coisa que eu posso acrescentar é que eu leio jornais. A única coisa que eu posso acrescentar é que eu tenho certeza que o buraco é virgem. Só que isso”.

A reportagem conclui sob um ângulo jocoso e fortaleceria posteriormente, o lawfare contra o Almirante Othon, demonstrando a associação criminosa entre a Rede Globo, Departamento de Estado Americano, sistema judiciário, políticos de todos os espectros políticos e setores ligados ao Ministério da Defesa.

Concessões públicas não passaram por um filtro sério contra sabotagens e crimes como o praticado na reportagem do “Fantástico”, restando aos telespectadores, ficar com a mensagem de que o Programa Nuclear Brasileiro é algo negativo e perverso, que poderia levar a uma catástrofe, enquanto na realidade, poderíamos gerar energia mais barata e manter a capacidade de defesa com Submarinos Nucleares e, se possível e necessário, uma Bomba atômica, a fim de termos capacidade de diálogo e dissuasão perante o imperialismo.

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