Os EUA, conscientes da irreversibilidade da sua decadência industrial, apostam, a fim de manterem sua hegemonia, cada vez mais no controle da informação via “Big Tech” e no controle da agenda política. Disseminam-se, assim, guerras culturais e regionais completamente artificiais porém com forte caráter explosivo, desestabilizando e fragilizando os países para mantê-los na órbita estadunidense.
Diferentemente dos chamados “Trinta Anos Gloriosos” após a II Guerra Mundial, quando o industrialismo e a expansão da classe média corresponderam, em boa medida, aos anseios do capital industrial estadunidense de expansão dos centros produtores e consumidores, hoje em dia, quando o centro produtivo mundial desloca-se sistematicamente para a Ásia, a retomada de projetos desenvolvimentistas significaria uma aproximação maior dos países com a China em detrimento dos EUA. A opção desenvolvimentista passa, cada vez mais, por uma aproximação, quiçá um alinhamento, com a China, que, não dispondo ainda de meios informacionais internacionais e cardápios ideológicos como os EUA, buscam seduzir os países com crédito e capital para grandes investimentos, exatamente o que os EUA não querem mais disponibilizar e ainda por cima combatem. O “poder brando” da China não está em estímulos de propaganda mas na possibilidade de crescimento e geração de empregos. Não por menos, os países africanos e asiáticos que procuram desenvolver-se associam-se mais à China, de onde podem obter crédito e investimentos, do que aos EUA, que, incapaz de renovar até mesmo o New Deal dentro de suas fronteiras, não dispõe mais de condições e menos ainda de interesse para sustentar o desenvolvimentismo fora de seu território.
O lema do Fórum Econômico Mundial “você não terá nada e será feliz”, que corresponde ao projeto de um futuro de empobrecimento e de mascaramento ideológico, é a essência do atual projeto esposado pelas altas finanças transnacionais, que têm no complexo informacional-militar dos EUA a sua principal plataforma de expansão internacional. Dessa forma, o desenvolvimentismo está descartado dentro da hegemonia estadunidense. Para dissuadir os países de almejá-lo, os EUA investem em agendas culturais pós-materiais, que vão desde versões malthusianas do ambientalismo até o exacerbamento de políticas identitárias que vangloriam a representatividade de celebridades em detrimento da qualidade e das oportunidades de vida da maioria da sociedade, inclusive dos grupos que tais celebridades dizem representar.
Daí que se torna urgente, mais do que nunca, criar consensos em torno de um projeto nacional, pois, sem ele, seremos ou dissolvidos pela “aldeia global” cujo cacique são os EUA ou nos tornaremos, no longo-prazo, um apêndice econômico da China. Precisamos saber o que queremos e construir os meios institucionais para aproveitarmos a brecha de multipolaridade que a atual quadra histórica proporciona. Um país rico e grande como o Brasil tem plenas condições de jogar o grande jogo e buscar, em parceria com os demais BRICS, o protagonismo no chamado Sul Global, para efetivar uma verdadeira democratização da geopolítica internacional. Urgente, no momento, é identificar as ameaças que provêm dos EUA, uma potência decadente que pretende utilizar o poder de influência que ainda possui para manter os demais países atrasados em sua órbita.
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