Afonso Teixeira

Tradutor, formado em Letras pela USP e doutorado em Linguística com tese em tradução. Tem formação como músico, biólogo e cientista político.

Monopólios

A Monsanto e o comércio da fome

O domínio de tecnologias não leva à extinção da fome, mas à criação de monopólios.

Os comedores de batatas

A manipulação de espécies vegetais pelo homem ocorre desde a Antiguidade. Quando os hebreus, fugindo do Egito, chegaram ao Sinai, fizeram uma ação de graças na qual comeram “ervas amargas”, para que nunca se esquecessem dos tempos da escravidão no Egito. Essas ervas são hoje a alface.
Tomate, em italiano, diz-se “pomodoro”, pomo de ouro, pois, quando chegaram à Itália, os tomates tinham a cor amarela, bem diferente daqueles tomates vermelhos de hoje.Enxertos, cruzamentos, seleção natural, adaptação: esses foram, historicamente, os meios utilizados para o desenvolvimento da agricultura e adaptação dos vegetais às necessidades humanas.

Com o desenvolvimento da genética, a partir do início do século XX e, sobretudo, com a descoberta e manipulação das moléculas de ADN, a manipulação das espécies vegetais atingiram um novo patamar de avanço; dessa vez, muito mais acelerado. Estava definitivamente sepultada a teoria malthusiana da relação desigual entre crescimento populacional e produção de alimentos.

Entretanto, a manipulação genética de produtos destinados à alimentação das populações não visaria a satisfação das necessidades alimentares dos povos nem à erradicação da fome. Visaria sim à formação de monopólios.

Sementes transgênicas competem com grande vantagem com as sementes selvagens, levando à extinção ou rarefação delas. O pequeno agricultor que, no Brasil, é responsável por abastecer 70 por cento das famílias, não terá outra saída a não ser comprar sementes modificadas. Terá de pagar por sementes mais caras, com valor agregado, e não será proprietário delas, pois elas pertencem a poucas e gigantescas corporações. E, aqui, entra o papel da Monsanto.
A Monsanto domina quase a totalidade do comércio de sementes modificadas no mundo. Sua atividade predatória pode ser comprovada pela maneira como entrou no mercado brasileiro, eliminando seus principais concorrentes, quer por meio da competição econômica, quer por meio de fusões ou aquisições, como foi o caso da Monsoy, da CanaVilis e da Agroeste.

A Monsanto é uma empresa estado-unidense, fundada em 1901. Já foi uma das maiores produtoras de plástico daquele país. A lista de seus principais produtos contempla o DDT, um inseticida altamente tóxico, utilizado até há pouco tempo; o agente laranja, utilizado na guerra do Vietnã, um dos principais produtos de guerra química; o aspartame, adoçante dietético que entrou no mercado sem ter passado pelo período de testes da FDA (agência de drogas e alimentos dos Estados Unidos, semelhante à nossa ANVISA). Mas seu principal produto (além das sementes transgênicas) hoje é o herbicida Roundup (glifosato), que polui o solo e os lençóis freáticos, proibido em alguns países, mas ainda não no Brasil.

Em 2004, cinco empresas dominavam 90% do comércio mundial de grãos, entre elas, a Monsanto. Três quartos do comércio global de pesticidas ficava nas mãos de seis empresas. E umas poucas corporações transnacionais, como a própria Monsanto, a Nestlé e a Cargill, controlavam uma parte significativa da cadeia de fornecimento de alimentos. Tudo isso, contribuiu enormemente para o alastramento da fome no mundo.
Um outro problema causado pela disseminação de sementes modificadas por manipulação genética é o fato de o pólen de plantações que utilizam essas sementes se dispersarem por plantações que não as utilizam, o que tem levado vários agricultores a serem processados por pirataria de sementes. A Monsanto, desde a década de 1990, instituiu uma verdadeira polícia genética, a qual inspecionava fazendas, coletando amostras de plantas para identificar o uso ilegal de sementes de sua propriedade.

Mesmo sendo um dos maiores monopólios do mundo, a Monsanto acabou vendida para a Bayer por US$66 bilhões. Para que a Bayer pudesse concluir o negócio, foi obrigada a repassar parte de seu negócio agrícola para a BASF.

O que levou à realização desse negócio podemos apenas especular. A BASF e a Bayer são empresas alemãs e visavam o mercado de sementes da Ucrânia e da Rússia e os insumos agrícolas da Rússia. A guerra entre a Rússia e a Ucrânia deixou incerto o destino dessas duas empresas. Talvez tenham de mudar-se da Alemanha e estabelecer-se em outro país. Mas teriam de estabelecer-se onde estão os grãos e os insumos.
Seja como for, o destino do comércio de grãos no mundo dependerá, em grande medida, do andamento da guerra.

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*As opiniões dos colunistas não expressam, necessariamente, as deste Diário.

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