No começo desta semana, explosões foram reportadas pelas autoridades da Transnístria em um prédio de uma agência de segurança na capital da região, Tiraspol.
“As janelas dos andares superiores se romperam. Fumaça sai do local. O território ao lado está cercado por policiais”, declarou a polícia da Transnístria em um comunicado.
Com isso, rumores e apostas surgiram acerca da origem destes ataques, que não foram reivindicados oficialmente nem pela Rússia, nem pela Ucrânia. Segundo a imprensa burguesa, seria mais um episódio em que os russos utilizaram a tática da “bandeira falsa”. Ou seja, teriam encenado um ataque contra a região para justificar alguma medida militar.
Acima de determinar qual seria, de fato, a verdade acerca do ataque, é preciso entender o que a região representa para o avanço da Rússia e, consequentemente, para o avanço dos povos oprimidos contra o imperialismo.
A Transnístria
À Oeste da Ucrânia, está um país chamado Moldávia. Parte da Europa Oriental, a Moldávia é um país que, historicamente, é ligado ao imperialismo europeu, tendo, por exemplo, feito um pedido para se juntar à União Europeia.
Na década de 90, em meio ao processo golpista que dissolveu a União Soviética, uma região denominada Transnístria, na Moldávia, entrou em guerra com o resto do país, declarando-se autônoma com a ajuda da Rússia que, desde então, mantém tropas no território para garantir a sua política. Objetivo, diga-se de passagem, atingido, já que a região se coloca ao lado da Rússia no conflito contra a Ucrânia.

A localização estratégica da região separatista
Como pode ser observado no mapa abaixo, a Transnístria possui uma posição valiosíssima para os russo em sua guerra contra a Ucrânia. Afinal, a região representa justamente a peça que falta para que o exército russo possa flanquear o território ucraniano pelo Oeste.

Bastaria avançar sobre Odessa, cerceando o acesso da Ucrânia ao Mar Negro, no Sul do país, que a Rússia conseguiria estabelecer um acesso terrestre direto à Transnístria. Justamente a cidade que foi palco de uma das cenas mais grotescas de toda a história recente, onde tropas nazistas incendiaram a maior central sindical local e assassinaram dezenas de pessoas a sangue frio.

Ou seja, seria uma vitória não só à Rússia, mas também aos povos oprimidos de todo o mundo contra os fascistas ucranianos.
Separatismo pró-Rússia
Além disso, é importante notar que, desde o princípio, o povo da Transnístria reivindica a integração da região com a Federação Russa. Nesse sentido, seria também um importante avanço político da Rússia em posições importantíssimas no que diz respeito à investida contra o território ucraniano.

Sem contar no fato de que o povo da Transnístria fala, em sua maioria, o russo. Ou seja, é extremamente improvável que o país junte-se aos nazistas ucranianos no atual conflito.
Transnístria e a simbologia comunista
É interessante notar que, na vida cotidiana do povo transnístrio, a Revolução Russa de 1917 está presente de maneira consideravelmente central. Afinal de contas, a bandeira e o brasão de armas do país possuem o símbolo comunista da foice e do martelo. Sem contar na estátua de Lênin que, localizada em frente à sede do Parlamento da região, dá o tom do legado que a primeira revolução operária do mundo deixou para trás.

A luta é clara: contra o imperialismo
No final das contas, seja uma “bandeira falsa”, seja um ataque propriamente proveniente da Ucrânia, a situação na Transnístria define, neste momento, boa parte do futuro sucesso da operação especial russa. Para julgar tal situação aparentemente complicada no quesito moral, basta voltarmos para o legado deixado, para nós, por um dos maiores revolucionários de toda a história da humanidade, Leon Trótsky.
Em sua obra A Moral Deles e a Nossa, o dirigente do Exército Vermelho à época da Revolução de 1917 nos explica que o regime mais condenável do ponto de vista moral é, justamente, o imperialismo. Por isso, toda e qualquer ação que vá no sentido de desmontar a ordem imperialista é, desde que siga a moral progressista dos trabalhadores, moralmente justificável.
Nesse sentido, voltando para a situação contemporânea, fica claro que a integração da Transnístria ao lado dos russos representaria, à classe operária de todo mundo, uma vitória valiosa. Exatamente por consagrar um avanço decisivo da Rússia em sua guerra que, fundamentalmente, é contra o imperialismo.
Por fim, fica evidente que todos aqueles que se consideram defensores dos trabalhadores devem, necessariamente, tomar o lado da Rússia no conflito. Ideologicamente, a luta foi sempre, declaradamente, contra o imperialismo. Agora, em uma completa negação do princípio burguês de “faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço”, é preciso apoiar a queda do imperialismo na prática, à luz de uma situação concreta que se coloca no presente.