O ecletismo na política é um perigo. Ele leva a pessoa a tomar posições opostas daquelas que elas imaginam estar defendendo.
Esse ecletismo é uma ideia defendida pela burguesia como forma de dissimular suas reais posições e também para criar confusão teórica na esquerda, procurando conciliar elementos hostis ao marxismo com o próprio marxismo. É uma espécie de conciliação de classe teórica e ideológica.
Agora estamos vendo um fenômeno bastante interessante. Estamos assistindo ao conjunto da esquerda pequeno-burguesa, que se diz marxista, abandonar o Karl Marx e adotar outro Karl, o Popper.
Essa esquerda faz isso porque se usar o Marx e os marxistas vai ter que bater de frente contra os interesses da burguesia e do imperialismo no debate sobre a liberdade de expressão. Já o Karl Popper, esse sim é o filósofo perfeito para justificar a política da burguesia de censura.
Refiro-me ao debate sobre a liberdade de expressão envolvendo o ex-apresentador do Flow Podcast, Monark, acusado de nazismo por ter comentado, de passagem, que é a favor da legalização de todos os partidos, incluindo um partido nazista. A acusação contra ele é claramente uma calúnia, já que ele apenas emitiu uma opinião sobre um determinado tema.
E essa opinião foi um pretexto para que a burguesia colocasse em marcha sua máquina de propaganda e de repressão. Uniram-se rede Globo e toda a imprensa capitalista, partidos golpistas e os bolsonaristas, com o apoio da esquerda pequeno-burguesa. Monark pode ser indiciado e apareceu no horizonte até mesmo o projeto de Eduardo Bolsonaro para criminalizar o nazismo e o comunismo.
E aí, para justificar o apoio à política da direita de censura e perseguição, começaram a aparecer os defensores da tese de Karl Popper sobre ser “intolerante com os intolerantes”.
Popper formulou essa tese, que do ponto de vista lógico é uma falácia, justamente para perseguir o comunismo. Popper era do grupo neoliberal de Mises, Hayek e Friedman. O neoliberalismo é um nome bonitinho para fascismo, basta olhar para a história: Mises fez parte do governo fascista na Austria, Friedman apoiou a ditadura Pinochet.
A ideia de Popper é repetida muitas vezes pela direita até hoje: nazismo é igual a comunismo, ambos são intolerantes, portanto, se devemos ser intolerantes com os intolerantes, não devemos tolerar o nazismo e também o comunismo. Essa ideia de Popper ela sim é fascista.
A burguesia está divulgando essa filosofia reacionária de Popper para justificar a proibição não do nazismo, mas do comunismo.
A esquerda pequeno-burguesa, histérica por conta da propaganda da burguesia, trocou facilmente os Karls. Abandonou Karl Marx e o marxismo, cujo histórico é de defesa da liberdade de expressão irrestrita, por Karl Popper, um reacionário fascista na política e neoliberal na economia. Uma vergonha para uma esquerda que se diz marxista.