Na última sexta-feira (4), o companheiro Eduardo Vasco, editor do Diário Causa Operária, entrevistou Aldo Rebelo, ex-ministro da Defesa e dos Esportes, na Rádio Cultura AM 930. A entrevista foi bastante rica e tratou de temas muito importantes que dizem respeito à formação do País como povo e, podemos dizer, à manutenção dessa grande unidade que se chama Brasil. Por esse motivo, faremos duas matérias procurando pontuar o que de mais relevante se discutiu.
Aldo Rebelo foi Ministro-chefe da Secretaria de Coordenação Política e Assuntos Institucionais do Brasil no governo Lula. Foi também ministro do Esporte e da Defesa, da Ciência, Tecnologia e Inovação do Governo Dilma Rousseff.
Um dos pontos nevrálgicos desta entrevista é justamente a preocupação com o assédio que o Brasil vem sofrendo por meio de ONG’s (Organizações Não Governamentais). O Brasil, não resta dúvida, é um dos países mais importantes do mundo — a quantidade de riquezas, o potencial industrial, energético, agrícola, compõem uma riqueza incalculável. Por esse motivo, é alvo da cobiça de países imperialistas que tentam interferir na nossa soberania das mais diversas maneiras.
Dentre as formas de intervenção, o uso de ONG’s se notabilizou. De ‘ambientalistas’, que impedem a ocupação da Amazônia, ou construção de hidrelétricas; a grupos identitários, que questionam a legitimidade até mesmo de o Brasil existir, temos o financiamento estrangeiro de movimentos como o “Não Vai Ter Copa”, que recebeu verbas da Fundação Ford, que é uma fachada da CIA. Esse movimento serviu como desestabilizador do governo da presidenta Dilma, além de ter lançado o até então desconhecido Guilherme Boulos como liderança política. Boulos, hoje no PSOL, concorre ao governo São Paulo. Além de imitar a voz de Lula, tem amplo espaço na grande imprensa e tem servido para retirar votos da esquerda.
A entrevista
No início, o companheiro Vasco pediu para que Aldo comentasse sobre seu livro recém-lançado “O Quinto Movimento”. Falaram sobre as navegações portuguesas que foram um feito extraordinário, mais importante, em termos de inovações, de legado, efeitos duradouros, do que a viagem à Lua, que foi precedida ainda pelo ida do primeiro ser humano ao espaço, o cosmonauta soviético Yuri Gagarin.
Com o bloqueio continental imposto pelo Império Otomano, após a conquista de Constantinopla, os portugueses se lançaram ao mar buscando uma nova rota comercial para as Índias. Com isso, foram do extremo norte ao sul do Planeta, contornando o Estreito de Magalhães, o Cabo da Boa Esperança. Foram para a África, Oceania, descobriram o Brasil. Um feito colossal. Vale muito ressaltar esse aspecto porque uma das manias mais detestáveis dos identitários é a tentativa de diminuir a importância da nossa herança lusitana. Sempre tratam de nos diminuir. Quem nunca ouviu dizer que se o Brasil tivesse sido colonizado pela Inglaterra seria muito melhor?
Os bandeirantes
Todos sabem da importância dos Bandeirantes para a garantia desse vasto território brasileiro ao passar por cima do Tratado de Tordesilhas. Não fossem eles, hoje seríamos uma espécie de ‘Chile atlântico’, como bem observou Aldo Rebelo.
Vasco leu um dos trechos do livro que trata dessa questão:
“Uma das maiores epopeias de conquista da história da humanidade, tamanho o território incorporado, maior que a Europa Ocidental dos nossos dias”.
Comentando esse trecho, Aldo faz uma crítica bastante pertinente a essa esquerda identitária que se diz marxista, mas se esquece (ou não sabe) de que a História não é construída pela humanidade segundo suas escolhas, mas pelas circunstâncias que são dadas pelo processo histórico. Os bandeirantes existiram em uma época de bandeirantes no mundo: o da formação dos impérios coloniais. Por esse viés é que precisam ser estudados e discutidos.
É bom pontuar, pois já tratamos bastante desse tema. O atentado à estátua de Borba Gato, na capital paulista, atinge também à nossa cultura. É um movimento meramente moral, de tipo religioso, que tenta acusar de genocida homens dos quais pouco se conhece. Querem acusá-los de escravagismo usando parâmetros atuais, sendo que naquele período não era crime essa prática.
Fechamos essa primeira parte de matérias da entrevista com o poema Mar Português do grande escritor Fernando Pessoa, que dedicou um livro, Mensagem, aos feitos portugueses:
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.