Quase metade dos municípios brasileiros, 47%, tinha como atividade econômica, em 2020, administração, defesa, educação, saúde pública e seguridade social, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais especificamente da seção de pesquisa “Produto Interno Bruto dos Municípios – 2020”.
Esses setores estão ligados à administração pública, algo completamente descolado da indústria, fundamental para o Brasil e que pesa muito no fator deste ser um País atrasado.
Nos estados do Acre, Roraima, Amapá e Paraíba, o percentual de dependência da administração pública é maior que 90%, diferentemente do Paraná, por exemplo, no qual a porcentagem de dependência é de apenas 7%.
Já na área da agricultura, o estado do Mato Grosso foi o que possuiu maior percentual de dependência, com 48,9%. Ele foi seguido pelo Mato Grosso do Sul (45,6%) e Paraná (45,1%).
As áreas mais pobres do País não possuem quase nada de comércio ou indústria. Isso denota o quanto o Brasil é desigual e atrasado, não conseguindo se desenvolver por meio de indústrias. Nem mesmo a prática da agropecuária existe nesses locais, apenas a administração pública e o parasitismo da burocracia.
Esses estados sobrevivem da máquina pública, o qual é sustentado pelos outros estados. Eles só sobrevivem por conta das indústrias nos outros estados, que sustentam a soberania do País com as regiões que possuem uma indústria nacional.
São Paulo, estado mais desenvolvido do Brasil, por exemplo, teve um PIB de R$ 2,38 trilhões em 2019, enquanto o Acre, menos desenvolvido, teve R$ 15,63 bilhões. A participação de ambos os estados no PIB nacional em 2019 foi de, respectivamente, 28,9% e 0,1%.
Nesse sentido é possível ver a diferença entre um estado desenvolvido, que possui indústrias e um desenvolvimento econômico grande e o estado menos desenvolvido, ou seja, mais pobre, pela falta de indústria e a sustentação deste pela administração pública. O mais desenvolvido e com mais indústria possui uma participação muito maior na geração de riquezas nacionais, enquanto aqueles sustentados pela burocracia estatal não possuem.
São Paulo teve como principal setor de sua economia a indústria, que tem a participação de 20,3% no PIB do estado. Em seguida vem os setores de construção (16,7%), derivados de petróleo, biocombustíveis (11,4%) e alimentos (9,3%).
Já o Acre teve como principal setor a área de construção (54,6%), seguida de alimentos (19,1%) e serviços industriais e utilidade pública (16,4%). A indústria fica em quarto lugar, com 7,2% de participação no PIB.
Em 2019, São Paulo representava cerca de um terço do PIB nacional. Os estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná representavam outro terço, enquanto os outros 22 estados da federação representavam o último terço, demonstrando o quanto a industrialização faz diferença na geração de riqueza.
Os dados comparativos aos dois estados da federação, demonstram, em primeiro lugar, a grande desigualdade econômica que existe em todo o território nacional. São Paulo, sobretudo a região metropolitana de sua capital, possuí indústrias de ponta, e assim grande desenvolvimento econômico, ao nível comparativo inclusive de cidades de países desenvolvidos. No entanto, o interior do estado e muito menos o interior do País acompanham este nível de desenvolvimento.
No interior brasileiro, e neste caso o exemplo do estado do Acre é bem notório, vigora em grande medida uma economia semi-capitalista, ou seja, expressivamente atrasada em relação ao próprio desenvolvimento capitalista mundial. Marcado pelo controle do latifúndio, o parasitismo de importantes setores da burguesia nacional, estados como o Acre jamais conseguiriam se manter por conta própria. O fato de grande parte de sua atividade econômica partir da administração pública, ou seja, a manutenção do funcionamento burocrático das atividades do Estado, revela o grande atraso econômico que vive estas regiões.
O caso de estados como o Acre, revelam outro problema fundamental para o desenvolvimento brasileiro. É perceptível que não há qualquer interesse por parte da burguesia e suas empreitadas empresariais, em alterar está situação. No interior brasileiro, vigora o controle de setores atrasados da burguesia nacional, principalmente ligados ao latifúndio. Para a burguesia nacional, não há razão de alterar o estado das coisas, afinal, esta política atual favorece seu parasitismo, sem qualquer necessidade de investimento econômico.
Esta relação, impõe ao Estado nacional a necessidade de ser o principal meio pelo qual a atividade econômica do País possa se desenvolver. Depender do interesse da burguesia, em grande medida atrelado ao interesse parasitário do imperialismo, o País não irá se industrializar e estas regiões continuarão paradas em um atraso total.
Para isso, é fundamental que haja, por parte do governo de Lula, um plano nacional de desenvolvimento, que passe pelas empresas estatais e pela ação direta do Estado brasileiro, um forte impulsionamento da industrialização em todo o País. No passado, importantes avanços industriais, como a Companhia Siderúrgica Nacional, foram apenas conquistados com a ação desenvolvimentista do Estado brasileiro.
Quanto ao Brasil de hoje, não é diferente. O País não apenas precisa meramente continuar de onde parou, mas sim, recuperar-se de uma profunda desindustrialização comandada pelo período neoliberal que forçou o País a um atraso ainda maior. Nesse sentido, é fundamental que haja uma campanha de desenvolvimento nacional atrelada em primeira instância a reindustrializar o País, recuperar o controle das empresas roubadas pelo imperialismo, e por meio sobretudo do uso das grandes riquezas nacionais, como o petróleo, desenvolver todo o interior brasileiro.
Desenvolver o interior, é fundamental não só para a situação econômica do País e a vida dos trabalhadores, mas é também uma forma de garantir a soberania nacional em todo o seu território. Com o desenvolvimento da sociedade brasileira em todos os Estados, por meio da industrialização, fortalece a classe trabalhadora e também a manutenção do território nacional, hoje ameaçado pelo imperialismo.