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Um regime de submissão

A colonização cultural da Ucrânia pelo imperialismo

Demolição de estátuas, mudança de nomes de ruas, proibição do idioma russo e revisão da história são algumas das medidas tomadas pelo regime ucraniano há oito anos

─ Eduardo Vasco, de Rostov do Don

Na semana passada, a prefeitura de Kiev ─ comandada pelo famoso ex-boxeador Vitaly Klitshchko ─ anunciou a intenção de renomear duas ruas da cidade que hoje homenageiam dois dos principais escritores russos. A Rua Pushkin seria rebatizada de Rua Europa e a Rua Leo Tolstoi se transformaria em Rua Batalhão Azov.

“A perpetuação da memória dos patriotas do Regimento Azov é decisiva para a história e a cultura ucraniana, uma vez que essas pessoas têm defendido o nosso país da ocupação russa”, declarou um deputado da capital ucraniana.

Esses fatos são exemplares sobre o que está ocorrendo na Ucrânia nos últimos oito anos. A guerra de conquista do imperialismo contra a Rússia não se desenvolve apenas no âmbito militar ou econômico. Para dominar qualquer país, os colonizadores precisam impor também a sua cultura e minar os costumes de um povo. No Brasil, isso é notório pelos ataques ao Carnaval e ao futebol, por exemplo.

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A Ucrânia sempre foi uma parte da Rússia. O Império Russo nasceu do Rus de Kiev e se expandiu até se tornar a maior nação do mundo. Durante séculos foram o mesmo país, até a fragmentação da União Soviética causada pelo imperialismo norte-americano e europeu. Desde então, tem sido imposta à Ucrânia uma política de revisão de sua história e de sua cultura, cujo ponto vital é a negação de qualquer relação com a Rússia. O resultado disso foi a russofobia feroz que estamos vendo, principalmente nos últimos oito anos.

─ É difícil definir o momento exato que esse movimento ucraniano contra a Rússia começou. Já durante a II Guerra Mundial houve um movimento fascista na Ucrânia, liderado por Stepan Bandera. Mas foi há cerca de 30 anos que começou essa russofobia na Ucrânia, diz Pablo Rodríguez, membro do Comitê Russo de Cooperação com a América Latina, sediado em Moscou.

O movimento banderista colaborava com os ocupantes alemães na perseguição aos russos. Stepan Bandera era considerado o “Fuhrer ucraniano”. Em 2014, boa parte dos manifestantes da Praça Maidan reivindicavam o legado de Bandera. Desde então, os grupos nazistas-banderistas cresceram e ganharam enorme influência no país, a ponto de seu ídolo e das organizações colaboracionistas na II Guerra terem sido alçados ao status de heróis da Ucrânia pelo governo e pelas forças armadas. Hoje, nas aulas de história nas escolas do país não se ensina que os nazistas eram invasores, mas sim libertadores da Ucrânia do suposto jugo soviético.

Em 2014, um golpe de Estado foi promovido pelo Departamento de Estado norte-americano e a União Europeia para derrubar o presidente Viktor Yanukovich, acusado de ser um títere de Vladimir Putin. Na verdade, Yanukovich era um líder nacionalista ultramoderado, que tentava se equilibrar e barganhar entre a Europa e a Rússia. Por esse motivo, achou melhor não ingressar na União Europeia, o que foi entendido como um acinte pelos poderosos de Berlim, Paris e Bruxelas. E, logicamente, por Washington.

─ Eu, como deputada do Conselho Regional de Lugansk, vi como se desenvolveu a intervenção dos EUA nos últimos 10 anos. Em Lugansk, por exemplo, os EUA promoveram políticas antirrussas, como o cancelamento do idioma. Por exemplo, uma vez nós propusemos no Conselho Regional um programa de financiamento da promoção do idioma russo, e os EUA deram ─ acreditem ─ 86 centavos de contribuição. Ao mesmo tempo, para propagar ideias da OTAN na imprensa, os EUA contribuíram com 2 mil grívnias (moeda ucraniana) por pessoa, nos disse Lyubov Korsakova, líder popular de Lugansk refugiada na Rússia, em entrevista com o canal Don 24 de Rostov.

Esse trabalho de mudança de regime e de colonização da Ucrânia teve em sua linha de frente ONGs estrangeiras. É principalmente por meio de mecanismos como o NED, a USAID, a Open Society ou a Fundação Ford que entra o financiamento para que os nazistas destruam a riquíssima herança cultural ucraniana, revisem a história e transformem o país em uma colônia.

─ Acho que esses grupos “nacionalistas” existem em todos os países, mas sim, com certeza os Estados Unidos ajudaram a impulsioná-los. Na Ucrânia trabalhavam ONGs norte-americanas, conta Tatiana Vladimirskaya, presidenta do Comitê de Cooperação.

A russofobia tem sido uma das principais facetas do regime instalado em 2014. Ela é o equivalente ao antissemitismo no III Reich. Até porque não se resume a um preconceito com os russos, mas encarna as piores atrocidades sofridas pelos judeus na Alemanha. O ensino do russo foi banido, mesmo sendo o idioma de milhões de ucranianos. Não é mais a segunda língua oficial do país. Quem for pego conversando em russo nas ruas, pode ser multado. E se o responsável pelo “flagra” for um membro de alguma organização nazista ─ que há aos montes na Ucrânia ─, o cidadão pode ser amarrado em postes, despido e golpeado. Ou pode ser torturado de mil e uma outras maneiras. Finalmente, pode até mesmo ser executado. Tudo isso, com total impunidade.

Propaganda fascista que trata os russos como cidadãos de terceira classe é disseminada em massa nos meios de comunicação ucranianos, da TV aberta às redes sociais. Durante o 7° Congresso Antifascista Internacional, realizado no último sábado em Rostov do Don, foi mostrada uma propaganda muito bem produzida, em que uma camponesa vestida em trajes típicos, com uma foice na mão, decapita um cidadão de etnia russa.

─ Durante o golpe, na Praça Maidan, um dos lemas das manifestações era “morte aos russos”. Vocês nunca ouvirão na Rússia coisas como “morte aos ucranianos”, mas na Ucrânia isso agora é comum, completa Tatiana.

De fato, todos os russos com quem conversamos sobre a relação entre Rússia e Ucrânia destacaram que os dois povos são como um só, bem como o seu idioma, tanto é que é comum encontrar um russo que tenha familiares que vivem na Ucrânia. Por exemplo, Natalia Karpovskaya, diretora do Instituto de Línguas Estrangeiras da Universidade Federal do Sul de Rostov, tem parentes no Donbass e seu marido tem parentes em Mariupol.

─ Os [nazistas] ucranianos não consideram os cidadãos que estão sob proteção das repúblicas e da Rússia como seres humanos, denunciou o jornalista Yuri Barbatchov, testemunha ocular do genocídio no Donbass, durante o Congresso Antifascista. ─  E aqui é o principal problema do nazismo como ideologia: durante muitos anos as pessoas que eram parte da cultura russa foram desumanizadas na Ucrânia. Durante os últimos oito anos o processo de desumanização foi promovido contra o povo do Donbass, onde qualquer homem ou mulher poderia ser torturado ou morto por não ser considerado ser humano, completou.

Neste ano, não será realizada a tradicional parada militar do 9 de Maio, Dia da Vitória comemorado desde 1945, na República Popular de Donetsk, por motivos de segurança, pois uma concentração tão grande de pessoas seria um alvo fácil dos bombardeios ucranianos. O 9 de Maio sempre foi comemorado em todo o território da antiga União Soviética, mas até mesmo essa data tão sagrada para aquelas pessoas que perderam 27 milhões de compatriotas na luta contra o fascismo foi apagada do calendário de celebrações da Ucrânia pós-golpe e ascensão do novo fascismo. O imperialismo quer que os ucranianos esqueçam que foram parte de um dos momentos mais gloriosos da história da humanidade, exatamente porque isso enfraquece o país que está sendo colonizado.

Destruir a cultura, o idioma e a história russos na Ucrânia é destruir a própria cultura, idioma e história da Ucrânia. Os membros do Comitê Russo de Cooperação com a América Latina lembram que nos últimos anos têm sido executadas políticas bizarras pelo governo ucraniano, como inventar palavras que não existiam para não utilizar a mesma palavra em russo. Isso me lembra um pouco o que vem sendo feito no Brasil através da penetração da ideologia identitária, que busca deturpar a língua portuguesa e também é uma imposição vinda de fora ─ do mesmo lugar, inclusive. O mesmo vale para a destruição de estátuas e monumentos históricos. Busca-se apagar a história e a cultura de um povo. Método tradicional da dominação colonial.

Monumentos em homenagem aos soldados mortos na chamada Grande Guerra Patriótica têm sido demolidos desde 2014 por toda a Ucrânia. A famosa Chama Eterna, que foi instalada ainda na época soviética por todo o antigo território da URSS e recorda aqueles que tombaram na defesa contra a invasão nazista, também foi removida. Uma revista ucraniana calculou que 802 monumentos em homenagem a Vladimir Lênin, líder da Revolução de 1917, haviam sido destruídos entre dezembro de 2013, quando se iniciou o golpe chamado de “Euromaidan”, e novembro de 2015. Desde a queda da URSS até aquela data, 4.200 monumentos a Lênin deixaram de existir na Ucrânia. Com a liberação impulsionada pelo exército russo e as milícias populares de Donetsk e Lugansk no Donbass, esses símbolos estão sendo restaurados aos poucos, após oito anos apagados. Em Melitopol, por exemplo, os próprios habitantes reergueram a estátua de Lênin que havia sido destruída pelos nazistas em 2014. Mas nas regiões que continuam sob o controle dos nazistas e de seus patrocinadores governamentais, continua a demolição da cultura e da história comum dos dois países. Há cerca de uma semana, a prefeitura de Kiev desmantelou o monumento que representava os operários russos e ucranianos no Arco da Amizade dos Povos. O arco não será demolido, mas terá o nome mudado para Arco da Liberdade do Povo Ucraniano.

Em realidade, a Ucrânia está se libertando de sua própria história e de sua própria cultura. Isso significa que está se tornando escrava de uma cultura e de uma política impostas de fora pelas potências mais carniceiras que já se viu. A “libertação” propagada pela extrema-direita ucraniana não é nada mais do que a submissão do país a um domínio ditatorial estrangeiro. Os nazistas ucranianos, como uma verdadeira direita radical, estão levando às últimas consequências a política pregada pela direita dos países atrasados mundo afora: a conquista por parte do imperialismo.

É contra essa conquista imperialista que a Rússia está lutando. Como disse com extrema precisão o ministro de Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov: “nossa operação militar especial na Ucrânia também contribui para o processo de libertação do mundo da opressão neocolonial do Ocidente.”

Esperemos que os russos sejam vitoriosos. Assim, também serão vitoriosos os ucranianos e todos os povos oprimidos do mundo terão um exemplo claro de como se livrar do domínio colonial do imperialismo.

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