Unidade Imperialista

A carta de um militante “comunista” pró-OTAN na Rússia

A esquerda pequeno burguesa, passados 10 meses, segue fazendo coro com a campanha imperialista contra a Rússia, um sinal de qual será sua política para o Brasil

A guerra da Rússia contra a OTAN se iniciou no dia 24 de fevereiro de 2022. Naquele momento quase a totalidade da esquerda ou se colocou abertamente ao lado do imperialismo ou em uma posição centrista, que na prática é uma apoio ao lado mais forte, ou seja, um apoio à OTAN. Passados 10 meses, uma grande parte dessa esquerda parou de comentar o assunto pois já está escancarado para o mundo que o problema não é a Rússia, mas sim a OTAN. Contudo, a stalinista Unidade Popular continua passando vexames publicando matérias que atacam o governo da Rússia repetindo a propaganda imperialista…

O texto em questão é a “Carta de um militante da UP na Rússia: ‘cada dia que passa, ambos os lados desejam paz, mas suas elites não vão parar’” publicado no sítio do partido no dia 15 de dezembro. O artigo já começa mal com a introdução dos editores, que afirma que “o exército russo iniciou a ocupação da Ucrânia, com objetivo de anexar porções de seu território.” A Rússia é colocada como uma agressora que tem o objetivo de expandir seu território oprimindo os ucranianos. Na realidade o objetivo inicial dos russos era de defesa, da própria Rússia e do Donbas, e para isso seria necessário desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia, ocupada, isso sim, pela OTAN – a política e a economia ucraniana estão completamente nas mãos do imperialismo e seus fantoches ucranianos desde o golpe de 2014.

O texto continua: “A invasão russa já dura quase 10 meses e a guerra segue promovendo crise e sofrimento aos povos do Leste Europeu e do mundo.” A OTAN, a verdadeira culpada do sofrimento do povo não só do leste europeu mas de toda a Europa, é omitida. Os russos se tornam “invasores” e não um país oprimido que se defende, enviando militares para regiões que sempre pertenceram à Rússia e cuja população pede a sua ajuda – como comprovaram os repórteres do DCO enviados ao Donbass. O povo do Donbas que foi libertado pelo apoio da Rússia é ignorado. É a versão imperialista da guerra: os russos são os vilões que oprimem os vizinhos. Os EUA mandam dezenas de bilhões de dólares apenas para ajudar os pobres ucranianos sem nenhum interesse político por trás, é o famoso altruísmo imperialista!

A carta foi escrita supostamente por um militante da UP que mora na Rússia, o que deixa o quadro ainda pior pois ele está próximo dos acontecimentos e portanto tem acesso a informações que não chegam tão facilmente no Brasil. Ela afirma de início que as pessoas são a principal vítima do “teatro de guerra imperialista”. Aqui está a raiz do erro de toda a análise da UP, o partido considera a Rússia um país imperialista. Se a URSS não era um país imperialista, a Rússia então, um país ainda mais fraco, destruído por 10 anos de neoliberalismo, não tem como ser imperialista. A economia da Rússia é baseada na exportação de recursos naturais, o gás e o petróleo, um quadro típico de país atrasado.

A carta continua: “Desde o dia em que o capitalismo voltou a tocar as terras da antiga União Soviética, seus povos irmãos de outrora passaram a ser inimigos, peças de um xadrez maquiavélico jogado por suas elites locais.” Essa afirmação também é falsa. Os países da antiga URSS não passaram a ser inimigos imediatamente após 1991. Na realidade em geral a sua relação é boa até os dias de hoje, como por exemplo as relações entre Rússia e Bielorússia, Rússia e Cazaquistão e os demais países do centro asiático e entre Rússia e Mongólia.

A exceção são os países do Báltico, Estônia, Letônia e Lituânia, que se tornaram na prática colônias do imperialismo, membros da OTAN e por isso passaram a ser inimigos da Rússia, assim como a Geórgia e a Ucrânia, vítimas de “revoluções coloridas” do imperialismo. A questão crucial não são as “elites”, isto é, as disputas entre as burguesias dos países do Báltico e a burguesia da Rússia. O que existe é uma disputa entre o imperialismo e a Rússia, imperialismo este que se aproveita dos países menores para atacar a grande nação da Eurásia, que é a que se coloca como um entrave para seu domínio mundial. Esse é o mesmo caso da Ucrânia. Até 2014 as relações com a Rússia eram boas, foi com o golpe de 2014, organizado pelos EUA, que se iniciou o confronto. É preciso lembrar que ele começou com o ataque do governo ucraniano às minorias russas que moram na Ucrânia, principalmente no Donbas.

A carta da UP se propõe a explicar a origem do território ucraniano, surgido com a República Socialista Soviética da Ucrânia após a Revolução Russa. E depois com a doação da Crimeia a essa república por Nikita Kruschev. O artigo então divide a Ucrânia: “a elite industrial não estava contente com isso, fechar as portas para a Rússia e abrir para a União Europeia, era declarar o fim da indústria, do lucro e a servidão as indústrias poderosas do Ocidente.” Nesse sentido Vladimir Putin teria o interesse em anexar a rica região do Donbass devido a sua indústria, algo que também não corresponde à realidade. O imperialismo é quem tentou tomar conta de toda a Ucrânia, inclusive do leste do país, e desencadeou a guerra buscando isso como objetivo imediato, a partir da ação dos nazistas ucranianos.

Após o golpe de 2014 na Ucrânia o governo Putin fez questão de anexar a Crimeia, um território estratégico devido a seus portos no Mar Negro – que sempre pertenceu à Rússia, além de sua população ser quase totalmente russa e apoiar a integração à Federação Russa. Uma guerra violentíssima se iniciou no Donbass, que levou 14 mil pessoas à morte antes do início da operação especial russa. Putin não interveio nesse território por 8 anos, foi necessária uma nova investida do imperialismo para ele mandar as tropas para esse território. Putin estava mais preocupado com o cercamento da Rússia pelo báltico e pelo Mar Negro do que com anexar uma pequena região industrial da Ucrânia. Essa ideia surge da tese do imperialismo russo que, como dito acima, é uma farsa.

Sobre o golpe de 2014, o artigo afirma que foi uma disputa entre a região leste e oeste da Ucrânia: “Essa posição encontrou grande oposição na porção oeste do país, que no golpe de 2004 e depois novamente em 2014, passaram a governar e chefiar Kiev.” Aqui está o maior absurdo de todos, não há menção nenhuma do imperialismo no que tange os golpes de Estado na Ucrânia, como a participação de Victor Nuland e John McCain diretamente nas manifestações e orquestrações políticas. Na realidade em toda  carta não é mencionada em nenhum momento a OTAN! A principal responsável por todo o confronto é omitida enquanto a Rússia é mantida como a agressora para anexar territórios ricos de sua vizinha, é um completo absurdo.

O golpe de 2014 na Ucrânia tinha como objetivo transformar o país em uma base de ataque à Rússia, como são as nações do Báltico, transformá-la em membro da OTAN para que o maior país do mundo ficasse ainda mais cercado por tropas do imperialismo. A situação tornou- se tão absurda que mesmo sem ser um membro oficial da OTAN as tropas ucranianas eram financiadas pela organização, inclusive os diversos batalhões nazistas e não só isso como o país estava infestado de laboratórios de armas biológicas. Além da OTAN, os batalhões nazistas e armas biológicas também não são citadas em nenhum momento na carta do militante da UP.

O texto fecha com a síntese de sua análise: “as suas elites não vão parar enquanto não atingirem o que desejam, uma se ligar ao mercado da União Europeia como agroexportadora e a outra se unir ao complexo industrial-militar de Moscou.” A União Europeia desejar a Ucrânia como um país miserável que exporte alimento barato é algo lógico, mas isso é o desejo do imperialismo e não da burguesia ucraniana. Contudo a ideia de complexo industrial-militar de Moscou é assombrosa. É uma correlação direta com os EUA que tem como objetivo igualar a Rússia com o imperialismo. Na prática é mais uma forma de justificar ataques à Rússia a tachando de um país agressor.

A carta do militante da UP na Rússia revela que o partido é uma espécie de novo PSTU, mas stalinista e não morenista. Se até mesmo de dentro da Rússia ele assume a mesma posição que o PSTU no Brasil, “nem Putin nem OTAN, fora todos!” é porque a ideologia pró-imperialista está completamente arraigada dentro do partido. É bizarro que após 10 meses de guerra alguém que esteja tão próximo do campo de batalha consiga isentar completamente a culpa do imperialismo e jogá-la nos russos, que são um país sob o ataque de pesadíssimas sanções econômicas. Como de costume, a posição da política internacional reafirma quem são os setores pró-imperialistas na política nacional.

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