Em entrevista à TV 247. o articulista Fernando Horta não poupou elogios a Alexandre de Moraes, atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo Horta, “devemos a Alexandre de Moraes a manutenção da democracia [sic]”. O apego a seu novo é herói é tamanho que o articulista ainda jurou ter apagado “todos os vídeos do passado em que o critiquei”.
O leitor que não teve a oportunidade de assistir à entrevista deve estar se perguntando: mas de qual planeta é esse tal de Horta? A que Alexandre de Moraes ele se refere? De que “democracia” estaria tratando? Afinal, o único Alexandre de Moraes conhecido é o “Xandão” do STF, uma figura tão sinistra que já chegou até a chamar a atenção da imprensa internacional, devido ao seu poder de censurar qualquer um a seu bel prazer. E falar em “democracia” no Brasil também parece uma piada de mal gosto — o regime atual está estabelecido sobre um golpe de Estado, que derrubou uma presidenta eleita, prendeu o maior líder popular do País e quase que colocou o maior partido de esquerda da América Latina na ilegalidade.
Acontece que Fernando Horta não é um marciano. O Alexandre de Moraes em questão é o mesmíssimo xerife do STF, e a “democracia” a que se refere é, de fato, o regime golpista brasileiro. O que acontece, então?
Um setor da esquerda nacional, notavelmente o mais conservador, direitista e desvinculado do movimento operário e popular, vem defendendo, sistematicamente todos os desmandos de Alexandre de Moraes. Para esse setor, a defesa da “democracia” se transformou na defesa intransigente no regime político. E, como Alexandre de Moraes é uma expressão do regime — defende os interesses da burguesia, atropela os direitos democráticos, não foi eleito por ninguém e é cúmplice do governo Bolsonaro —, essa mesma esquerda não tem outra opção a não ser louvar todas as medidas de Alexandre de Moraes para defender o regime golpista — isto é, defender a si mesmo.
E o que seria, em primeiro lugar, defender a “democracia”? Ora, seria defender que partidos como o PCO não tenham acesso a um único segundo do tempo gratuito de televisão e rádio, que o presidente ilegítimo Jair Bolsonaro use bilhões de reais dos cofres públicos para comprar votos, que o parlamento vire as costas para o povo e aprove o fim dos direitos trabalhistas… Enfim, a “democracia” que Alexandre de Moraes diz respeitar e com a qual Fernando Horta tanto se preocupa é o regime responsável pela situação de miséria em que o País se encontra.
E o que seria, em segundo lugar, aplaudir a atuação de Alexandre de Moraes? Ora, seria defender a censura desenfreada a qualquer pessoa ou organização que conteste o regime político, ao mesmo passo em que os patrões que coagiram milhares de empregados para que votassem em Bolsonaro ficassem impunes. Enfim, Alexandre de Moraes é o homem escolhido pela burguesia para levar até as últimas consequências o fechamento do regime, um careca escolhido para fazer o “trabalho sujo” que os capitalistas tanto precisam nesse momento: impor uma ditadura feroz que impeça uma rebeldia contra o regime.
O “amigo” de Fernando Horta é o exato oposto de um aliado para a luta política. Com um “amigo” desses, ninguém precisa de inimigo.