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Rafael Dantas

Membro da Direção Nacional do PCO e diretor de redação do Jornal Causa Operária.

Para entender melhor

8 anos do golpe de Estado nazista na Ucrânia, uma retrospectiva

Contamos a história da luta da população russa da região do Donbass contra os nazistas ucranianos por meio de matérias dos arquivos jornal Causa Operária

– Rafael Dantas, de Lugansk

A equipe de imprensa do Partido da Causa Operária fez uma pesquisa nos arquivos do jornal Causa Operária (semanário nacional impresso do partido). Reproduzimos aqui alguns trechos dos principais artigos, retratando os acontecimentos que levaram do golpe de Estado nazista na Ucrânia à independência das atuais repúblicas populares de Donetsk e Lugansk.

A retrospectiva que apresentamos abaixo mostra, sem sombra de dúvidas, a ligação do imperialismo europeu e norte-americano com o ascenso nazista na Ucrânia. Oferece aos leitores, oito anos depois, um retrato fiel das contradições políticas e econômicas que dão base à guerra que entrou em uma nova etapa com a Operação Especial russa para a Desmilitarização e a Desnazificação da Ucrânia, iniciada no final de fevereiro deste ano.

Cronologia – como o imperialismo europeu impôs a derrubada do governo de Viktor Ianukóvich usando os grupos nazistas como tropa de choque

Maio de 2013 a fevereiro de 2014: a preparação do golpe na Praça Maidan

18 de maio –  Primeiros protestos contra o governo do presidente Viktor Ianukóvich sob a palavra de ordem “Levanta-te Ucrânia”. Ianukóvich foi uma espécie de aliado instável do governo de Vladimir Putin, que vacilava sob a pressão da União Europeia

21 de novembro –  Ucrânia diz que não vai assinar o Acordo de Associação com a União Europeia, mas que reforçará as relações com a Rússia. O governo atribuiu a decisão ao Fundo Monetário Internacional e criticou as duras exigências para refinanciar empréstimos para a Ucrânia em 2008 e 2010

24 de novembro –  Grande manifestação em Kiev sob a palavra de ordem “A Ucrânia é a Europa”

25 de novembro –  A oposição pró-europeia enfrenta a polícia em Kiev. Acontece a chamada “marcha de um milhão” na Praça Maidan (Praça da Independência) comandada pela direita que usa os grupos fascistas como tropa de choque

26 novembro –  A União Europeia mantém aberta a opção de assinar o acordo de parceria, mas rejeitou a proposta do governo ucraniano de incluir a Rússia nas negociações. Moscou diz que não vai rever os acordos energéticos com a Ucrânia se o tratado com a União Europeia for assinado

1º de dezembro –  Depois de várias manifestações, a direita tomou a Praça Maidan e pediu a renúncia de Ianukóvich e seu governo. É a segunda onda da “Revolução Laranja” de 2004.

8 de dezembro –  Nova manifestação massiva em Kiev. Uma multidão, com os nazistas à frente, bloqueia a entrada do Palácio de Governo e uma estátua de Lênin é derrubada

17 de dezembro –  Putin e Ianukóvich assinam em Moscou um acordo com a concessão de apoio financeiro e a redução de 38% no preço do gás fornecido pela Rússia à Ucrânia. Manifestantes nas ruas pedem eleições antecipadas em Kiev.

22 de dezembro –  A direita cria um bloco chamado “Maidan” e apela para eleições antecipadas e reforma constitucional.

12 de janeiro de 2014 –  A direita, à frente dos manifestantes da Praça Maidan, exige novamente a antecipação das eleições

19 a 22 de janeiro –  Protestos radicalizados contra leis restritivas aprovadas pelo governo

23 de janeiro –  Manifestantes e polícia acordam uma trégua para o governo da Ucrânia e a oposição de direita negociarem. Os protestos se espalharam para outras cidades. A direita toma um prédio público

24 de janeiro –  Caiu Alexander Popov, o prefeito da capital, Kiev

28 de janeiro –  O governo demitiu o primeiro-ministro Nikolai Azarov. O Parlamento revogou a lei da “mordaça” e, no dia seguinte, aprovou anistia para os presos nas manifestações

31 de janeiro –  O Exército insta Ianukóvich a tomar medidas urgentes para estabilizar o país. O presidente ucraniano promulgou a lei de anistia e revogou as leis repressivas.

4 de fevereiro –  A direita no Parlamento propôs uma emenda à Constituição e chegou a um acordo dois dias depois para retomar a Carta Magna de 2004, abolida por Ianukóvich

16 de fevereiro –  Fim da ocupação de prédios públicos que durou dois meses e meio na cidade de Kiev. Manifestantes exigem a libertação dos detidos nos protestos

17 de fevereiro –  Entrada em vigor da Lei de Anistia, que beneficia os manifestantes detidos nos protestos

18 de fevereiro –  Manifestantes comandados pela extrema direita tentaram entrar no Parlamento e atacaram vários edifícios, incluindo a sede do partido de Ianukóvich. A polícia atacou a Praça Maidan. O saldo foi de 25 mortos, apesar da direita alegar que teriam sido 82, além de 645 feridos

19 de fevereiro –  Fracasso das negociações entre o presidente e a oposição. Crescentes demandas de vários países da Europa para que a União Europeia imponha sanções contra a Ucrânia. A Rússia diz que se trata de um golpe de Estado

20 de fevereiro –  Governo e oposição concordam sobre uma breve trégua para discutir uma saída. Já pela manhã, acontecem novos confrontos. Os ministros das Relações Exteriores da Polônia, França e Alemanha ameaçam Kiev com sanções

O golpe de fevereiro de 2014

21 de fevereiro –  Ianukóvich e os representantes dos principais grupos políticos assinaram um acordo para acabar com as manifestações, convocar eleições, formar um governo de transição e reformar a Constituição para limitar os poderes presidenciais. Logo depois, o Parlamento aprovou a volta da Constituição de 2004, que restringe os poderes presidenciais. No entanto, os grupos fascistas mais radicais que controlavam a Praça Maidan, encabeçados pelo Pravy Sektor (partido Setor de Direita), rejeitaram qualquer negociação envolvendo a continuidade de Ianukóvich

22 de fevereiro –  Os acontecimentos se aceleraram durante a madrugada e manhã de sábado. Em Kiev, os manifestantes tomam escritórios do governo e da presidência, enquanto a polícia e o exército permanecem neutros. Ianukóvich foge. O Parlamento, com os votos da direita e de vários deputados do partido de Ianukóvich, o Partido das Regiões, toma o poder alegando o abandono pelo presidente. Reinstituída a Constituição de 2004. O presidente Ianukóvich é demitido. É ordenada a libertação da ex- primeira-ministra Yulia Timoshenko e vários figurões da direita são nomeados para posições-chave. O novo presidente do Parlamento é Alexander Turchinov, braço direito de Timoshenko e favorito do imperialismo norte-americano. Ianukóvich aparece em público em Kharkiv (leste) e denuncia o golpe. Yulia Tymoshenko deixa uma prisão em Kharkiv e se reúne com os fascistas na Praça Maidan

23 de fevereiro –  A chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente russo, Vladimir Putin, falam por telefone e dizem publicamente que são a favor da unidade nacional na Ucrânia

24 de fevereiro –  O Ministério do Interior ordenou a detenção de Ianukóvich. Rússia não reconhece o novo governo

25 de fevereiro –  Enquanto o Parlamento discute a formação do governo interino, o conselho dos fascistas acampados na Praça Maidan define condições para os novos ministros. Os “grupos de autodefesa” criados durante os protestos continuam muito ativos no país. Em Lviv, reduto fascista na região ocidental do País, centenas de integrantes da polícia são obrigados a pedir desculpas publicamente. A Rússia adverte que “forçar a Ucrânia a escolher” entre Bruxelas e Moscou pode prejudicar a integridade territorial. O governo interino anuncia “sinais de separatismo” em algumas regiões orientais

A independência da Crimeia

26 de fevereiro –  A tensão com a Rússia por causa da Crimeia sobe. Putin coloca o Exército em estado de alerta em áreas da fronteira com a Ucrânia. Em Simferopol, a capital da Crimeia, os grupos anti e pró-russos se enfrentam nas ruas. O ministro ucraniano do Interior, Arsen Avakov, anunciou que irá dissolver o corpo da polícia de choque, o Berkut. O bloco Maidan apoiou o novo governo, cujo primeiro-ministro Arseniy Yatseniuk é do partido de Yulia Timoshenko

27 de fevereiro –  Um grupo armado pró-Rússia toma os escritórios do governo e o Parlamento da Crimeia. Nos edifícios oficiais são hasteadas bandeiras russas. O governo interino da Ucrânia advertiu a Rússia de que iria considerar qualquer movimento de sua frota fora do porto de Sevastopol como agressão, enquanto que a União Europeia e a OTAN tentam evitar a escalada militar do conflito. Viktor Ianukóvich declarou a uma agência de notícias que continua sendo o presidente legítimo do país e pediu a proteção de Moscou

28 de fevereiro –  Soldados uniformizados, mas sem identificação, tomam o controle dos aeroportos de Simferopol e Sevastopol. Ucrânia pede a intervenção do Conselho de Segurança da ONU e acusou a Rússia de “invasão armada e à ocupação”. Moscou negou envolvimento de seus soldados

1º de março –  As autoridades da Província Autônoma da Crimeia pedem ajuda à Rússia para “restaurar a paz e a tranquilidade.” Em resposta, o Senado russo autorizou Putin a enviar tropas, caso fosse necessário. No Leste da Ucrânia, de maioria russa, acontecem várias manifestações pró-Rússia

2 de março –  Putin aceitou a criação de um “grupo de contato” para enfrentar a crise na Crimeia, enquanto Obama ameaçou sobre as consequências da intervenção militar. Um almirante ucraniano deserta e jura lealdade ao governo autônomo da Crimeia, revelando a existência de rachas dentro das Forças Armadas ucranianas

3 de março –  Os governos do “G7” (Estados Unidos, França, Reino Unido, Itália, Canadá, Alemanha e Japão) “punem” a Rússia e anunciam que não participarão da reunião do G8, marcada para junho, na cidade russa de Sochi. Fontes do governo ucraniano anunciaram que as tropas russas da Frota do Mar Negro deram um ultimato ao comando ucraniano para se render, embora Moscou tenha negado. A União Europeia e os Estados Unidos ameaçaram aplicar sanções se a Rússia não retirar as tropas da Crimeia

4 de março –  Os Estados Unidos congelaram as relações com a Rússia e oferecem um bilhão de dólares aos golpistas

5 de março –  O enviado especial das Nações Unidas para a Ucrânia, Robert Serry, foi forçado a terminar a missão na Crimeia, depois de ser ameaçado por milícias pró-russas. Em Paris, Estados Unidos e Rússia concluíram a primeira reunião sobre a Ucrânia, sem resultados concretos, enquanto a Comissão Europeia propôs emprestar à Ucrânia 11 bilhões de euros. Uma mensagem interceptada da diplomata Ashton evidenciou que os franco atiradores que mataram os manifestantes em Kiev eram financiados pela direita. A crise na Ucrânia também reabre o debate sobre a dependência energética da Europa do gás russo

6 de março –  A União Europeia suspendeu as negociações com a Rússia e acelerou o acordo com Kiev. Enquanto isso, na Crimeia, o Parlamento votou a favor da anexação à Rússia e chamou a um referendo, para o dia 16 de março, para que a população ratificasse a decisão. Obama disse que o referendo na Crimeia é “ilegal”. As autoridades da Crimeia negaram acesso a uma delegação da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE – Organization for Security and Co-operation in Europe)

10 de março –  Aviões de espionagem da OTAN foram enviados à Polónia e à Roménia. O parlamento da Crimeia convidou oficialmente a OSCE para acompanhar o referendo, mas a organização rejeitou a proposta alegando que se trataria de uma autoridade regional e não nacional

11 de março –  O parlamento da Crimeia adoptou uma declaração de independência

16 de março –  Cerca de 83 % do eleitorado da Crimeia participou do referendo em que 96,7% votaram a favor da unificação com a Rússia. Os Estados Unidos e a União Europeia rejeitaram o resultado e começaram a preparar sanções. Moscou defendeu oficialmente a legalidade do referendo e lembrou o precedente da independência de Kosovo

17 de março –  Rússia propôs a criação de um “grupo de apoio” para uma Ucrânia federativa e neutra. Putin assinou o reconhecimento da independência da Crimeia.

18 de março –  Putin proclamou que a “Crimeia sempre fez parte da Rússia” e assinou o acordo de associação.

19 de março –  A Comissão Europeia liberou um bilhão de euros em ajuda para Kiev.

20 de março –  A sede da Marinha ucraniana em Sevastopol é capturada por assalto pelos russos

O início das sanções contra a Rússia

24 março de 2014 –  O G7 suspendeu as reuniões com a Rússia no âmbito do G8. Ucrânia não resistiu na Crimeia e ordenou a retirada das tropas

26 de março –  A Rússia passou a controlar todas as unidades militares ucranianas na Crimeia e a maioria dos navios

27 de março –  O governo interino ucraniano aprovou o pacote de austeridade imposto pelo FMI em troca dos empréstimos. Entre outras medidas, foram eliminados os subsídios ao gás

28 de março –  Putin e Obama falaram ao telefone pela primeira vez desde a imposição de sanções

29 de março –  Começa a campanha presidencial ucraniana. Timoshenko anunciou a candidatura

31 de março –  O primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, visitou Crimeia

1º de abril –  O Parlamento da Ucrânia aprovou manobras militares da OTAN em território ucraniano, e ordenou o desarmamento dos grupos paramilitares, como o Pravy Sektor. A Rússia aumentou os preços do gás para a Ucrânia.

3 de abril –  A Gazprom aumentou novamente o preço do gás pago por Kiev

A independência de Lugansk e Donetsk

6 e 7 de abril de 2014 –  Durante o fim de semana, manifestantes pró-russos ocuparam prédios do governo no Leste do país, particularmente nas cidades de Kharkiv (segunda maior cidade), Donetsk e Lugansk. Donetsk declara-se uma República Popular e convoca um referendo semelhante ao da Crimeia, para o dia 11 de maio 

8 de abril – Kiev lançou uma “operação anti-terrorista” contra os separatistas de Donetsk e Lugansk

de abril a maio – O Leste da Ucrânia é tomado pelas milícias populares que lutam pela independência da região do Donbass em relação à Ucrânia. 

11 de maio – Realizados os referendos pelo reconhecimento dos governos autônomos em Lugansk e Donetsk que se declaram independentes da Ucrânia. “Pela primeira vez formaremos um Governo verdadeiramente popular e posteriormente formaremos nossas Forças Armadas e os corpos da ordem” e “a vitória do referendo não representa a saída imediata da Ucrânia nem a união com outros Estados” declarou o líder Denis Pushilin. O referendo do dia 11 de maio foi marcado por hostilidades no sudeste ucraniano entre civis e as forças militares de Kiev. As potências Ocidentais condenaram a organização do referendo.

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