Com a manchete “Mulheres: família x carreira? Família e carreira?”, a Forbes Brasil publicou, em 01/11/22, um estudo realizado pelo BCG – Boston Consulting Group – em parceria com o The Women’s Forum, que envolveu 1.500 profissionais da área da tecnologia com posições influentes em países como Alemanha, França, Reino Unido e Itália. Embora tratem de países europeus desenvolvidos, a situação das mulheres por lá também traz aspectos que as brasileiras vivenciam: as obrigações com cuidados familiares se sobrepõem à carreira. Provavelmente, as taxas sejam diferenciadas, mas as realidades parecem semelhantes. Padrões econômicos, sociais e morais influenciam nas decisões das mulheres que, de certa maneira, sacrificam-se em função de cuidados necessários com crianças, idosos e consigo mesmas. A curta matéria da Forbes não menciona, mas a pandemia pode ter um peso significativo neste redesenho das questões que envolvem gênero na indústria da tecnologia e informação ocidentais, bem como em outras áreas da economia.
Na imprensa imperialista pode-se acompanhar, desde 2020, a oscilação em relação àquilo que foi uma onda de “abandono de empregos”. Primeiramente, pelo trabalho remoto, depois, pelas dificuldades do lockdown e encolhimento de vagas. Agora, emissoras como NYT, NBC, CBS, CNN falam da onda de “arrependimento” e tentativa de retomar as posições abandonadas, seja por mulheres ou homens. A reportagem da Forbes , que a Forbes Brasil reproduz, encomendada e dirigida aos grandes investidores e pessoas envolvidas com as políticas sociais na toada público-privada em países europeus, faz recomendações às mulheres que atuam na área tecnológica e, também, as possíveis campanhas e projetos que podem ser feitos por empresas e estados no sentido de que os arquitetos da política de inclusão realmente implementem o que dizem almejar.
Em tal cenário, a pesquisa do BCG apurou que 80% das mulheres, contra 50% dos homens, recusaram ofertas de emprego/progressão na carreira profissional. Horários flexíveis também são mais adotados pelas mulheres, embora os homens também tenham feito grande adesão. Segundo o estudo, o problema não é competência técnica, conhecimento ou predisposição para enfrentar desafios. O problema apontado está no tempo dedicado aos cuidados da família pelas mulheres, o que dá aos homens maior disponibilidade para o trabalho.
No depoimento das mulheres entrevistadas pelo BCG, a principal fonte de tensão está na constante pressão para que elas se mostrem capazes e a falta de exemplos de liderança. Segundo a pesquisa, as mulheres acabam perdendo a autoconfiança, uma vez que perdem conexões e oportunidades na dinâmica dos processos das empresas, impedindo o crescimento na carreira.
Se este problema europeu pode ser circunscrito nos países pesquisados, não seria descabido, neste contexto, utilizar a expressão que se ouve por aí: “white people problems”. Como os imperialistas não são trouxas, suas publicações, pesquisas e prêmios também miram o público feminino preto e pobre, na tentativa de lapidar futuras gestoras pretas, aqui no Brasil.
A matéria da Forbes Brasil tem 5 parágrafos. Para o público brasileiro, foi colocado no centro do texto link para matéria intitulada: Cogna lança programa de trainee exclusivo para mulheres negras.
O grupo educacional Cogna, que vai da educação infantil à pós-graduação, maior conglomerado do país, tem entre suas empresas o grupo Kroton. Recrutando “mulheres pretas” para trainee. Enfim, realizam uma maquiagem da questão, em vez de encarar o problema real das mulheres europeias, e principalmente das brasileiras e demais mulheres pobres e não brancas de todos os países, que está na total falta de políticas efetivas para que a independência econômica das mulheres, pretas ou de qualquer cor, se efetive, e elas realmente possam ser livres e construir um mundo melhor, na tecnologia e em todos os setores produtivos da sociedade.