Nesta terça-feira (19/10), foram divulgadas pesquisas eleitorais: 52 x 48. Faltando onze dias para o segundo turno, Lula e Bolsonaro estão tecnicamente empatados. Isso é o que dizem as pesquisas; nunca saberemos a verdade, pois os institutos são empresas privadas, controladas pela burguesia, que de modo nenhum são neutras nas disputas eleitorais.
Os dados não precisam estar necessariamente errados para que a burguesia manipule as eleições. Quando a direita ainda cogitava um candidato de ‘terceira via’ para substituir Bolsonaro, a grande imprensa divulgava uma grande disparidade entre Lula e o atual presidente. A ideia era chantagear os apoiadores de Bolsonaro a migrarem para um outro candidato com chances ‘reais’ de vencer o petista. Essa manobra não funcionou.
A grande vantagem percentual de Lula também teve o efeito de desarticular a militância na caça de votos. Instalou-se um clima de ‘já ganhou’ que afrouxou a campanha, chegando-se ao limite de pessoas não irem votar porque já davam como certa a vitória de Lula.
O ‘já ganhou’ foi estimulado e os direitistas infiltrados na campanha de Lula aproveitaram para lançar a ideia de que seria importante vencer logo no primeiro turno; e, para isso, qualquer um seria bem-vindo. Essa manobra aproximou todo tipo de lixo golpista e peso morto que declarou voto em Lula. O trabalho essencial, de buscar o voto do trabalhador, que é o essencial, foi deixado de lado.
Números e mais números
Durante todo esse tempo, que antecedeu e durante a campanha, foram divulgados dados percentuais mostrando Lula à frente. A esquerda se encheu de esperanças e começou a tratar da festa da posse em vez de ir para as ruas em busca do apoio popular. Inúmeros debates, centenas de teses e projeções eram feitas nos programas da imprensa alternativa. Os índices eram esperados com ansiedade e determinavam o humor da esquerda.
A esquerda ficou refém dos números apresentados pelos institutos, tratavam os dados como sendo fruto de um trabalho científico e isento, o que é absurdo. O passado condena esses institutos, por que no presente seria diferente? Não faz muito tempo, e Fernando Haddad aparecia nas pesquisas como não tendo chances de se eleger prefeito da capital paulista.
Publicamos uma matéria que traz os índices ainda mais gritantes sobre a eleição de Luiza Erundina, em 1988, que figurava, faltando um mês para a eleição, em quinto lugar com 1,5% das intenções de votos. Esses são apenas dois casos nos quais o próprio PT foi vítima. Portanto, não faz sentido que se dê tanto crédito a essas empresas que fazem as pesquisas eleitorais.
Que medo!
Outro efeito do ‘já ganhou’, foi a decisão de preservar Lula, de impedir que ele saísse às ruas para evitar qualquer incidente, atentado, ou coisa que o valha. Os comícios foram todos cercados de tanto cuidado que a população desanimou e pouco compareceu aos atos. O resultado dessa política está aí, para quem quiser ver.
Durante muito tempo, vimos uma campanha de haveria um golpe de Estado por parte de Bolsonaro, a data já estava até marcada: dia 7 de setembro. O dia chegou e nenhum golpe foi dado. No entanto, a campanha de medo continuou a todo vapor. O fantasma de Adélio, desta vez sem uma faquinha retrátil, rondava os pesadelos da pequena burguesia.
O único alento dessa esquerda sem uma política própria para combater a burguesia, eram os números divulgados periodicamente.
A direita conhece o jogo
Para surpresa quase geral, foi Bolsonaro quem primeiro contestou os resultados das pesquisas. Em decorrência disso, a esquerda, para se opor ao atual presidente, passou a apoiar os institutos. Esses que mais de uma vez prejudicaram a própria esquerda.
A contagem de votos do primeiro turno deixou claro que Bolsonaro deveria ter muito mais votos do que aqueles que saíram nas pesquisas. Muitos eleitores gostam de votar naquele que mais tem chance de ganhar. Outra parcela também se desanima de comparecer às urnas se seu candidato estiver muito atrás nas pesquisas.
A burguesia tem tentado controlar Bolsonaro de todas as formas, uma vitória sua no primeiro turno daria muito poder a esse candidato que, de um candidato improvisado, conquistou uma base política importante no País. Sendo assim, elegê-lo com uma pequena margem enfraquece um eventual segundo mandato.
Jair Bolsonaro sabe muito bem como funciona o jogo eleitoral, ele é um candidato da burguesia, por isso começou sua guerra particular. A esquerda, em vez de analisar a questão racionalmente, simplesmente fez sua costumeira oposição automática a Bolsonaro, quando deveria também questionar os dados apresentados. Se a esquerda tivesse percebido, desde o início, que estava em desvantagem, teria feito outro tipo de campanha eleitoral.
O golpe dos números
O empate técnico entre Bolsonaro e Lula, seu avanço gradual, é o ambiente ideal para uma vitória apertada. Essa manobra também acoberta o que está acontecendo no mundo real: Alexandre de Moraes, o defensor número um da democracia, segundo a esquerda pequeno-burguesa, tratou de proibir Lula e o PT de explorarem determinado tema, o da pedofilia, porque isso poderia prejudicar Bolsonaro.
Agora, o ministro do STF, Roberto Barroso, autorizou que governos e prefeituras organizem transporte gratuito para o dia da votação. Milhares de empresários já estão se movimentando para levar seus funcionários para votar em Bolsonaro. A velha prática do curral eleitoral, em toda a sua essência, está sendo praticando a céu aberto.
A burguesia, as instituições do Estado, estão trabalhando para eleger Bolsonaro. Nunca o STF esteve a favor de Lula, muito menos Alexandre de Moraes, que votou pela prisão do petista e com isso ajudou a eleger Bolsonaro em 2018.
O que fazer?
A CUT deve convocar uma conferência nacional de emergência e entrar de uma vez por todas nessa briga. Lula e o PT devem deixar de dar ouvidos a essa coordenação da campanha que parece agir muito mais para sabotar do que para tentar vencer as eleições.
Ainda é possível vencer a burguesia e seu candidato, Bolsonaro. Porém, é preciso para o corpo a corpo. Os votos de Lula estão concentrados na população mais pobre, não nos influencers ou golpistas ‘arrependidos’.
Tomar as ruas é essencial, não é hora para se deprimir com os números dos institutos, eles não são nem um pouco confiáveis, daí a importância de se ter uma política própria que seja propositiva, não uma mera reação daquilo que vem da burguesia.
O momento pede firmeza, resolução, é assim que a esquerda deve agir.