Pensa a Esquerda Antipetista

Vamos “dialogar com as massas” da Vila Madalena

Detratores do PCO abandonaram os trabalhadores e agora acusam o Partido de sectário e oportunista

Após a confusão de militantes do PCO e da esquerda com infiltrados do PSDB no ato Fora Bolsonaro de 3 de julho na Avenida Paulista, a quase totalidade das organizações da esquerda pequeno-burguesa condenou o PCO e saiu em defesa de seus amos do PSDB.

Alguns, pela direita, declararam abertamente que o PSDB e toda a direita supostamente “antibolsonarista” é bem-vinda no movimento. Outros, fingindo-se radicais, não quiseram defender abertamente o PSDB, mas atacaram o PCO por querer “aparecer” ao se passar por “valentão” mas sendo, na verdade, um partido a reboque do PT.

Esse é o caso de um grupo chamado Esquerda Marxista. Em artigo intitulado “Sectarismo e oportunismo nos atos Fora Bolsonaro”, a organização pseudotrotskista afirma:

Em um contexto de polarização política, em que as pessoas passam a procurar uma alternativa radical para resolver os seus problemas, o PCO busca manter seu oportunismo camuflado em ações aparentemente radicais, como expulsar o PSDB dos atos e atacar militantes do MBL, sem que para isso precisem romper com a política de conciliação de classes que defendem junto aos velhos aparatos adaptados da classe trabalhadora, como o PT, combinando doses de sectarismo e oportunismo. Esse é o sentido de sua orientação que vai do “Fora Bolsonaro” ao “Lula presidente”. Aparentemente, tentam se ligar às massas radicalizadas que querem derrubar o governo Bolsonaro já, mas desde que seja seguido pela ascensão de um governo petista.

Para explicar esse posicionamento, vale recordar quem é a Esquerda Marxista. Trata-se de uma corrente cujo oportunismo é a sua maior marca. Esteve dentro do PT até abril de 2015, quando deixou o partido no auge da ofensiva golpista contra o Partido dos Trabalhadores e toda a esquerda nacional. A desculpa? Dilma teria cometido um estelionato eleitoral, estaria castigando os trabalhadores com uma política agressivamente neoliberal e, portanto, as massas estavam exaustas do PT. Exatamente o mesmo discurso de partidos e políticos da esquerda golpista, o mais famoso deles Guilherme Boulos, que, com essa campanha ─ além de ter ido às ruas contra o PT no “Não vai ter Copa” ─, serviu ao golpe do imperialismo. O alinhamento da Esquerda Marxista com a esquerda golpista era oficial. Na Conferência que consolidou o rompimento com o PT, participaram como convidados o PCB (de Jones Manoel), o MES (de Luciana Genro) e o PCR (atual UP), todas organizações satélites do PSOL e que apoiaram o golpe.

O pretexto teórico para a saída do PT logo quando o imperialismo e a burguesia tentavam derrubá-lo do governo era de que “para os revolucionários, não há mais terreno para a construção das ideias do socialismo no interior do PT” (Esquerda Marxista, 27/04/2015). Causa espécie um grupo que se autodenomina trotskista chegar a uma conclusão tão óbvia como essa apenas em 2015, depois de inúmeras comprovações claras do caráter reformista e conciliador do petista desde a década de 1980.

A prova mais clara disso foi exatamente a eleição de 2002, quando a burguesia e o imperialismo aceitaram a entrada do PT no governo federal pois sabiam que isso não representava um verdadeiro perigo à ordem capitalista. Mas a Esquerda Marxista, como bons oportunistas, permaneceram no PT mesmo com as alianças com José Alencar, MDB e os ataques aos trabalhadores realizados em seus governos quando ainda era apoiado pela burguesia. Atacando o PCO, o texto dos “marxistas” diz que o Partido, nos últimos 20 anos, “manteve uma política ultrassectária até seu giro oportunista em direção à política do PT”. Para eles, ser independente de um governo petista de colaboração de classes era sinal de “ultrassectarismo”, mas defender esse governo (sem compô-lo, ao contrário da EM) quando este sofreu um golpe da burguesia e do imperialismo seria “oportunismo”. Vemos aí uma notória inversão de conceitos básicos para qualquer revolucionário.

A Esquerda Marxista se segurou ao PT enquanto estava no governo de colaboração com a burguesia. No entanto, bastou a burguesia e o imperialismo romperem com o PT que os ditos “marxistas” fizeram o mesmo. Surge uma dúvida: a aliança da Esquerda Marxista era com o PT ou com a burguesia?

Essa dúvida fica ainda mais intensa quando vemos a conjuntura atual e os ataques da EM ao PCO por este defender a candidatura de Lula. Segundo nossos críticos, o PCO defende um novo governo petista ao invés de lutar por uma saída alternativa dos trabalhadores. Mas, em um cenário de intensa polarização política em que Lula representa os trabalhadores contra toda a burguesia, onde estaria a alternativa dos trabalhadores?

A EM não responde a esta pergunta, mas podemos depreender sua opinião a partir do destino seguido pela organização ao deixar o PT. Logo em seguida ao golpe, em fevereiro de 2017, o PSOL aprovou a entrada dos “marxistas” no partido, após muita insistência. A partir de então, os grandes revolucionários trotskistas viam cada vez mais perto a construção de um partido revolucionário e a própria revolução socialista!

O PSOL, um partido intrinsecamente pequeno-burguês, fruto de um racha oportunista e parlamentar do PT no meio de uma campanha moralista contra a corrupção, seria o lugar onde os pseudotrotskistas encontrariam seu lugar ao sol. Mesmo sob a ótica oportunista dos membros da EM, é difícil entender como estariam mais próximos dos trabalhadores do que quando estavam em um partido que controla a única verdadeira central sindical do País com seus 4 mil sindicatos e o maior movimento agrário do continente.

Mas, como dissemos acima, o PT não tinha mais apoio da burguesia. Por isso era hora de a Esquerda Marxista deixá-lo. E o PT continua sem o apoio da burguesia, até os dias de hoje. A direita e o imperialismo não tiraram Dilma do governo e prenderam Lula à toa: o projeto imperialista não admite mais uma conciliação de classes. Lula, nesse sentido, é o grande antagonista eleitoral da burguesia. E tem um enorme apoio popular das massas, apoio esse que ─ independentemente das posições conciliadoras de Lula ─ afasta a burguesia de uma aliança com o líder petista. Porque a burguesia sabe que essas massas são extremamente perigosas, mesmo que Lula, em si, não seja. Lula, no entanto, tem a capacidade (mesmo que inconscientemente) de mobilizar essas massas para um enfrentamento com a burguesia, pois o povo vê em Lula um representante e por ele poderia até mesmo realizar uma mobilização radical. Essa mobilização, diante de um clima política polarizado, tende a elevar a consciência de classe dos trabalhadores, mostra para os operários que, se Lula está de seu lado, aqueles que estão contra Lula (a direita, a burguesia, o imperialismo) são seus inimigos. Isso independe da ideologia de Lula e independe mesmo, em grande medida, da própria política conciliadora de Lula. A esquerda pequeno-burguesa, mesmo a que se finge marxista, como a EM, não entende isso. Porque vê o mundo sob uma ótica moralista e não materialista. Se guia pelo que Lula, o PT e a burguesia pensam, e não pelo que realmente ocorre na luta de classes.

Por isso os ataques a Lula e ao PCO. Os pequeno-burgueses gostam de uma pose de radicais, de alternativos. A burguesia disse: “Boulos é a nova esquerda, uma esquerda diferente do PT” e os nossos aprendizes de marxismo se entusiasmaram e embarcaram no celtinha demagógico do colunista da Folha de S.Paulo. Debandaram do PT, distanciando-se ainda mais dos trabalhadores que lutavam contra o golpe, e foram servir Guilherme Boulos e à frente ampla antipetista sob um disfarce de “marxistas”.

Desde então, qual tem sido a política do PSOL e de Boulos, apoiada, portanto, pela EM? Repetir toda a política direitista do PT de alianças com a direita e com a burguesia, sem, no entanto, ter qualquer respaldo popular que tem o PT. O PT se divide entre a burguesia e a classe operária, como um típico partido centrista, ora pendendo para o lado da direita, ora para a esquerda. Sua direção é burguesa ou pequeno-burguesa. Sua base é proletária. Já o PSOL não tem esse “privilégio” petista de ter uma base operária. O PSOL não consegue pender para a esquerda porque não sofre pressão dos trabalhadores, uma vez que é um partido sem base operária, e sim de base pequeno-burguesa, universitária, acadêmica e parlamentar. Sofre, no entanto, grande pressão da burguesia. O próprio Boulos é um exemplo disso, sendo um funcionário da Folha de S.Paulo e tendo recebido apoio de grandes capitalistas (como da construção civil e do comércio) para impedir, com sua candidatura, a vitória do PT nas eleições paulistanas de 2020.

Nesse sentido, o PSOL de Boulos tem sido um agente da frente ampla dentro da esquerda. E cabe principalmente ao PSOL e a seus apêndices (como PCB, UP e PSTU) fazer propaganda da frente ampla “pela esquerda”. Como? Atacando justamente o PT e, principalmente, Lula. Porque Lula tem o povo e por isso a burguesia não o quer. O PSOL e seus apêndices não têm ninguém, por isso precisam se agarrar à burguesia, que os utiliza na luta eleitoral contra Bolsonaro para impulsionar uma “terceira via” da direita tradicional que se passe por democrática, identitária e progressista. Por isso a Esquerda Marxista tenta colocar o PT, a CUT, Lula e o PCO (supostamente a reboque desses) como aliados da frente ampla, como os grandes traidores do movimento operário. São ataques baixos da ala esquerda da frente ampla.

As ações do PCO, na visão da Esquerda Marxista (que poderíamos chamar de Esquerda Antipetista), são fruto de uma política oportunista. Ao invés de buscar uma alternativa independente dos trabalhadores, o PCO ficaria a reboque do PT. E, conforme o artigo aqui criticado, “o PCO busca manter seu oportunismo camuflado em ações aparentemente radicais, como expulsar o PSDB dos atos a atacar militantes do MBL (pobrezinhos dos “militantes” da família Rockefeller!)”. A EM diz que “o PCO se agarra a essas situações para manter a aparência radical” diante “da falta de uma resposta contundente da esquerda” aos ataques fascistas nas ruas principalmente a partir do golpe. Mas a própria EM se encontra no meio dessa esquerda que abaixou as calças para os ataques da direita, afinal ela mesma sabotou (mesmo que em um âmbito restrito) a luta contra o golpe ao debandar do PT. E, como toda a esquerda, seguiu as ordens de João Doria e da burguesia para a classe média, ficando em casa por mais de um ano na pandemia enquanto os trabalhadores de todo o País eram obrigados a trabalhar todos os dias, morrendo de coronavírus.

O PCO, que não saiu das ruas e se recusou a entregá-las aos bolsonaristas, estaria apenas tentando “manter a aparência radical” quando confrontou os fascistas nas ruas e realizou centenas de manifestações por Fora Bolsonaro em todas as semanas daquele período. E quando os trabalhadores, representados principalmente pelas torcidas organizadas, estavam fartos das provocações fascistas e começavam a voltar às ruas para enfrentamento diretos com os bolsonaristas, surgiu das cinzas o Guilherme Boulos e o PSOL da Esquerda Marxista. Fizeram um acordo com Doria, a PM e o Judiciário para que a Avenida Paulista fosse “dividida” entre esquerda e direita, revezando nos protestos. Boulos e seus capangas, como Danilo Pássaro, completamente desconhecido dos manifestantes, decidiram se passar por representantes das massas para entregar as ruas à direita. O PCO, bem como outros companheiros antifascistas e de torcidas organizadas, se opôs e essa traição e realizou um ato na Praça do Ciclista, enquanto Boulos e o PSOL (que não haviam participado de nenhum ato recente) levavam os manifestantes para longe, para sua casa, o Largo da Batata, ao lado do bairro boêmio e de classe média da Vila Madalena. E depois disso nunca mais apareceram. Para os seguidores de Boulos da EM, “o PCO tentava mostrar ao mundo que, sozinhos, combatiam a direita, mas, na prática, estavam isolados e não dialogavam com as massas”.

Mas, como explicado acima, não foi o PCO que ficou em casa a mando de Doria, em seu apartamento na Vila Olímpia ou no Leblon. Não foi o PCO que se recusou a lutar contra o golpe em uma frente única com a CUT, o MST, as demais organizações populares e o PT. Não é o PT que, míope da realidade, acredita que ideias abstratas ou a candidatura burguesa de Boulos trarão a revolução. O PCO sabe que apenas a mobilização popular derrubará Bolsonaro, derrotará o golpe e pavimentará o caminho para a revolução. Por isso o PCO sempre atuou junto à classe trabalhadora: na luta contra o golpe quando os trabalhadores se mobilizaram apesar das vacilações das direções; na luta contra a prisão de Lula; sozinho, muitas vezes, na luta por Fora Bolsonaro. Em defesa dos direitos democráticos e das reivindicações populares. E sabe que a candidatura de Lula, ao contrário do que pensam os trotskistas de barzinho, é uma ferramenta poderosa para impulsionar a mobilização dos trabalhadores. É essa mobilização que elevará a consciência da classe operária e abrirá um novo período de lutas revolucionárias no Brasil, e não a luta abstrata pelo socialismo que não passa de um pretexto dos oportunistas para ficar, como sempre, a reboque da burguesia.

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