O movimento iniciado ano passado dentro da reitoria da Universidade Federal de Sergipe (UFS) acaba por atingir seu objetivo no último dia 22 de março. O reitor Valter Joviniano de Santana, indicado pelo reitor Ângelo Roberto Antoniolli. seu predecessor, acaba de ser eleito para próxima gestão da universidade. O processo eleitoral vem sendo alvo de diversas denúncias e controvérsias desde o começo, onde quatro chapas diferentes se inscreveram para participar das eleições. Por exemplo: as votações estavam marcadas para os dias 19 e 20 deste mês, mas, diante do agravo da pandemia do COVID-19, o então reitor optou por não realizar as eleições – mesmo tendo recebido duas recomendações do Ministério Público Federal.
No dia 4 de junho de 2020, com a pandemia ainda limitando as atividades acadêmicas, Antoniolli convocou uma reunião do Colégio Eleitoral Especial, tentando adiar as votações para o dia 15 de julho. Alegava que tinha prazos a cumprir, segundo o regulamento interno da UFS. Acontece que a data chamou a atenção por um outro motivo específico: no dia 2 de julho, havia caducado a Medida Provisória do governo (MP 914/2019) que obrigava as universidades federais a promoverem eleições diretas para reitor. Até então, a MP não havia sido votada no Congresso, e por isso perdeu a validade. Foi aí, e somente aí, que surgiu o nome do futuro eleito Valter Joviniano, na época vice-reitor, como possível candidato. Passou então a ser apontado como candidato de Antoniolli, que estava já há 8 anos no comando da instituição e outros 8 como vice-reitor.
“O então reitor aproveitou para sabotar a Medida Provisória 194/2019 que obrigava a prévia consulta à comunidade”, acusa Denise Leal Fontes Albano, professora da UFS desde 1996 e candidata a reitora desde o início da campanha. “Esperou que ela caducasse e dois dias depois convocou o colégio eleitoral especial com 82 conselheiros, a ampla maioria deles ocupando cargos comissionados nomeados pelo reitor, para emplacar seu pupilo como primeiro da lista tríplice”. Quando da votação, realizada de forma remota e com participação apenas do conselho eleitoral da faculdade, foram abertamente questionados os procedimentos adotados pela reitoria universitária. Professores e funcionários alegaram dúvidas sobre como o voto poderia ser secreto, como manda a liturgia, e como seria possível auditar os votos, tendo em vista que, por exemplo, todos os conselheiros estavam logados no sistema.
Essa é uma clara violação e abuso por parte do governo e do poder público contra a educação universitária do país. Não se pode relativizar os casos de violência, fraudes e interferências nas reitorias e conjuntos habitacionais universitários que veêm se exponenciando desde o golpe de 2016. É necessário que sair às ruas, visto que somente a mobilização popular e maciça pode frear esse avanço ditatorial contra a liberdade de expressão e a autonomia estudantil. Somente a mobilização irá barrar esses ataques.