“Ele subiu o morro sem gravata, dizendo que gostava da raça. Foi lá na tendinha, bebeu cachaça, até bagulho fumou! Jantou no meu barracão e lá usou lata de goiabada como prato. Eu logo percebi: é mais um candidato para a próxima eleição”.
Em 1987, a letra de Walter Meninão, eternizada na voz de Bezerra da Silva, já alertava o povo para os demagogos de plantão. Isto é, para aqueles almofadinhas que tinham nojo de pobre, mas que, em ano de eleição, metiam-se em qualquer favela. Passadas as eleições, voltavam para seus palacetes. Ou, como dizia a letra, “depois que ele for eleito, dá aquela banana pra você”.
De lá para cá, nada mudou. O Brasil tem 513 deputados federais, sendo todos eles o mesmo tipo de sujeito. Muito generosamente, o ex-presidente Lula chegou a falar que no Congresso havia 300 picaretas. O fato é que nada menos que 367 senhores apoiaram o golpe de Estado de 2016…
E as coisas são assim porque as eleições brasileiras são a mesma zorra que eram na época de Walter Meninão. Quem é eleito não são os representantes do povo, mas sim uns picaretas, funcionários da burguesia, que compram voto, manipulam as eleições e enrolam o povo pobre para conseguir o seu mandato. Quem nunca viu o PSDB em campanha eleitoral?
Geraldo Alckmin, uma figura tão simpática que ficou conhecida como “picolé de chuchu”, fez questão de comer pastel na rua e tomar um cafezinho com populares. Depois de eleito, voltou a fazer o que sempre fez: mandar “a polícia te bater”, como cantava Bezerra da Silva. E João Doria, o BolsoDoria, que passou com um trator por cima de casas com pessoas dentro, também não decepcionou a tradição de seu partido: posou para a foto comendo pastel e forçando um sorriso amarelo para o café.
Acontece, no entanto, que a história se repete, primeiro como tragédia, depois como farsa. E depois como farsa da farsa. E depois como farsa da farsa da farsa, e por aí vai. E se uma farsa já é algo grotesco, a farsa da farsa da farsa seria algo grotescamente grotesco.
Mas quem acha que o mais grotesco dos pilantras que enrolam a população para ganhar votos é João Doria, está muito enganado. Um partido que não é o PSDB, mas quer ser, que ainda não tem todo o apoio da Globo, mas quer ter, está se revelando uma verdadeira incubadora de toscos vigaristas eleitorais.
E como é um partido que “não é, mas quer ser”, a farsa é dupla. Daí a sua capacidade suprema de ser grotesco.
Uma das melhores expressões da picaretagem eleitoral grotesca do PSOL é a deputada estadual Isa Penna, de São Paulo. Sua peculiaridade, no entanto, está na forma única de fazer demagogia. Como o partido é uma agremiação de classe média, o PSOL não faz demagogia com a fome, com o emprego e com as necessidades mais elementares do povo pobre, mas sim com o pobre que a classe média projeta em suas teses de doutorado.
Com a máquina na mão e o apoio da burguesia, o PSDB e as oligarquias manipulam o povo entregando cestas básicas, dinheiro, dentadura, tijolo, cimento etc., ao mesmo tempo em que comem um pastel cheio de gordura para manter a fachada. Isa Penna, no entanto, não tem um aparato para comprar votos de maneira tão ampla — resta a ela a demagogia para manter a fachada. No entanto, é tão alienada da realidade que, em vez de comer o pastel da esquina, acha que vai se tornar uma pessoa popular por dançar funk. E por dançar funk, leitor, entenda: assim como Alckmin não sabe nem segurar um pastel direito e faz cara de nojo quando o coloca na boca, Isa Penna não tem a bunda da Anitta e só ganha “curtidas” no Tik Tok dos trouxas que acham que dá para ganhar dinheiro interagindo com o aplicativo. Mas tudo bem, não se trata de qualquer depreciação. É apenas um problema de classe: Isa Penna não é da periferia do Rio de Janeiro, é uma advogada formada na PUC de São Paulo que só conheceu o funk pelo Domingão do Faustão.
E não é só através do funk que Isa Penna tenta parecer ser o que não é. Os parlamentares, assessores e aspirantes a assessores do PSOL adoram andar por aí de turbante, para dizer que têm “lugar de fala” no movimento negro, se vestem com farrapos porque acham que todo pobre quer ser São Francisco de Assis, usam linguagem neutra porque acham que o maior crime contra uma mulher ou um LGBT é a vogal “o”, queimam estátuas por achar que os inimigos dos índios são de pedra e por aí vai. São até capazes de vestir a camisa de um time de futebol, mas logo a tiram quando ouvem alguém xingando a mãe do juiz.
A demagogia mais bizarra de todas, no entanto, data de 2019. O leitor não irá acreditar, mas já deixaremos aqui o vídeo para que comprove a fidelidade deste diário à verdade.
Isso mesmo, Isa Penna faz demagogia até com as prostitutas. Fez questão de dizer que era “puta”, ou, em suas próprias palavras, “sou feminista, sou revoltada, indignada e sou rotulada assim como puta! Então que eu seja puta e não menos do que isso”. Em sua defesa, alguém poderia dizer que Isa Penna apenas estava recitando uma poesia. Sim, mas fato é que se trata de um discurso na tribuna da ALESP, não no Sarau de alguém diretório acadêmico da PUC.
Algum maldoso poderia dizer: e a profissão do deputado estadual não é a mesma de uma prostituta? Bom, dependendo do sentido, é bem menos digno do que ser prostituta. A prostituta vende seu corpo, enquanto o deputado vende sua moral, seus princípios e tudo mais — muitas vezes o corpo também —, e, sem autorização, ainda prostitui o povo que deveria representar. Um deputado de esquerda que se entregue de corpo e alma para o MBL, por exemplo, está indo para a cama com os inimigos do povo.
A farsa de Isa Penna está em se apresentar como uma “puta” trabalhadora: “acordo às 6:30, pego ônibus debaixo de chuva. Não dependo de salário de macho, e compro a pílula no final do mês”. Se é dessa “puta” que Isa Penna está falando, que é parte de um setor esmagado do proletariado, que são as prostitutas e os travestis, largados à própria sorte, a deputada do PSOL não tem nada a ver com isso. Seu batom vermelho e seu discurso “feminista” na ALESP não passam de uma personagem, um cosplay — melhor dizendo, um cospobre — daqueles para quem o regime político fecha os olhos.