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Morte do crítico

Tinhorão: a defesa intransigente da genuína Música Brasileira

O pesquisador e historiador, que morreu no último dia 3, teve o mérito de defender a cultura nacional contra o imperialismo

Henrique Áreas de Araujo

Nessa terça-feira (3), morreu, aos 93 anos, José Ramos Tinhorão, considerado um dos maiores – senão o maior – pesquisador da música popular brasileira.

Tinhorão nasceu em Santos em 7 de fevereiro de 1928, e se mudou jovem para o Rio de Janeiro. Lá, se formou, em 1938, na Faculdade de Direito e em jornalismo na Faculdade de Filosofia da Universidade Nacional. A partir de 1951, começa a trabalhar em órgãos da imprensa, se especializando na crítica da música popular. Em 1966 publica o primeiro livro: Música Popular: um tema em debate. Ao todo, publicou mais de 25 livros, todos dedicados à música e à cultura popular.

Conforme ele mesmo afirmou em entrevista para o programa Roda Viva da TV Cultura em 2000, em determinado momento, ele abandona a crítica para se dedicar exclusivamente à pesquisa e à história da música popular.

A morte do historiador é uma perda inestimável para a cultura brasileira. Não se trata aqui de discutir a correção de cada um dos detalhes de suas teses sobre a música popular, mas de reconhecer a dedicação ao tema, o esforço, como ele mesmo falava abertamente, para uma interpretação materialista do fenômeno da música popular e acima de tudo sua luta intransigente em defesa de uma genuína música popular brasileira.

Foi em nome dessa defesa que Tinhorão se tornou um autor polêmico. Suas posições como crítico foram embasadas na sua importante História social da Música Popular Brasileira. Ali, Tinhorão procura analisar a evolução da chamada MPB a partir de suas origens analisando essa evolução e relacionando-a com o desenvolvimento econômico do Brasil e do capitalismo em geral.

Por mais que se possa apontar falhas em suas teorias, coisa que não nos cabe aqui, as concepções de Tinhorão sobre a música popular brasileira são corretas em suas diretrizes fundamentais. O autor tem o mérito, por exemplo, de fugir do senso comum universitário no que diz respeito à análise sobre a Bossa Nova e a Tropicália, entendendo as influências da música estrangeira como um processo de “americanização” da música brasileira. Uma defesa da cultura nacional contra as imposições dos monopólios imperialistas.

No artigo “Japonês sertanejo é natural, forçado é brasileiro ser de rock”, publicado em 8 de outubro de 1981 no Jornal do Brasil, o autor deixa bem claro sua posição sobre sua concepção das influências da música estrangeiro no Brasil:

“quando se trata de um processo cultural, há influências e influências. Quer dizer, há influências que são naturais porque decorrem da troca normal de informações entre gente de povos diferentes, e há influências que, sob esse nome, nada mais fazem do que esconder a violência de quem impõe seus modelos pela ocupação dos meios de divulgação, e a fraqueza de quem os aceita sem discussão ou crítica. (…) nada impede os homens de todo o mundo tornarem-se humanamente irmãos pela amizade e culturalmente mais ricos pelo intercâmbio de suas culturas, ainda que sejam antípodas.

Os exemplos são bons porque mostram a diferença entre a integração cultural espontânea e consentida, e a macaqueação que resulta – no caso dos brasileiros que sonham equiparar-se musicalmente aos norte-americanos da ingênua incorporação a padrões jogados no mercado como modelos pelo poder econômico das multinacionais da área do lazer.” (“Japonês sertanejo é natural, forçado é brasileiro ser de rock”, in Crítica Cheia de Graça)

A defesa nacionalista da cultura em Tinhorão está muito longe do patriotismo vazio e reacionário apresentado pela burguesia. É uma defesa do povo, mais especificamente, das conquistas do povo brasileiro. São incontáveis as passagens que podem ser encontradas nos escritos do autor que mostram seu apreço pelas coisas do povo. Apenas para dar um exemplo, citarei um trecho de outra pequena crítica publicada no Jornal do Brasil em 19 de fevereiro de 1981 em que Tinhorão discorre um pouco sobre o samba-enredo:

“Os trabalhadores brasileiros descendentes dos antigos escravos negros souberam sobrepor-se às próprias contradições criando com o samba-enredo uma das formas mais originais de canto coletivo do mundo moderno: o hino coral que, em ritmo de samba, leva toda a sociedade brasileira às ruas em determinado momento, para o canto uníssono da afirmação do caráter nacional de um povo.” (“Ouvir o LP ‘Samba enredo’ com Martinho da Vila é aprender uma lição”, in Crítica Cheia de Graça).

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